Depois de ficar dois meses desempregado, com aluguel atrasado e muitas vezes sem ter o que comer, o pedreiro Donizete Pereira resolveu sair de porta em porta em busca de uma oportunidade de emprego nos bairros de Bauru (SP).
Sem dinheiro para fazer e imprimir currículos, ele improvisou cartões de visitas. Escritos à mão pela mulher dele em uma folha de caderno, os cartões com o contato do pedreiro foram distribuídos em caixas de correio de centenas de casas.
“Tinha dias que eu escrevia 50, 100, 150 cartõezinhos e saía ele e a minha filha distribuindo por aí”, conta a esposa Gislaine Therezinha da Silva. Com os papeizinhos no bolso, o pedreiro percorria até 40 km por dia.
“Foi mais pela necessidade de ter as coisas em casa. De faltar as coisas e não ter o que comer. Tinha dia que a minha filha ia para escola e minha mulher fazia uma lata de ervilha para ela comer e ela comia como se fosse feijão”, conta Donizete.
Na maioria dos dias ele tinha a companhia da filha na caminhada que começava cedo, por volta das 6h, diariamente. Mesmo estudando à noite, ela acordava cedo para acompanhar o pai. “Eu ficava cansada porque eu estudo de noite, mas eu ia todo dia com ele, porque sei que esse incentivo era importante para ele”, afirma Jamile Aparecida da Silva, de 17 anos.
Todo esforço do pedreiro começou a dar resultado quase um mês depois. A representante comercial Roseli Rodrigues de Lima encontrou um dos cartõezinhos do pedreiro na caixa do correio. A casa da mãe dela, no Jardim Bela Vista, foi uma das últimas que o pedreiro deixou o cartão improvisado.
A representante comercial encontrou o papelzinho justamente em um momento que estava precisando dos serviços oferecidos pelo Donizete. O esforço e a persistência do pedreiro chamaram a atenção de Roseli.
“Hoje em dia a gente tem tanto medo de colocar alguém dentro de casa, mas eu senti, quando vi o papel com o número dele, até comentei com o meu filho: ‘aquilo me tocou’. Eu falei vamos em busca, essa pessoa está precisando, se não ela não faria isso.”
Nas redes sociais
A persistência do Donizete não impressionou só a Roseli que acabou contratando ele para a reforma da casa da mãe. O esforço do pedreiro que não se intimidou com a falta de recursos e foi em busca da oportunidade repercutiu também nas redes sociais.
Em uma das casas em que ele deixou o cartãozinho, o morador fez questão de compartilhar na internet. “Meu objetivo foi mostrar o trabalho dele, o esforço e compartilhar com meus amigos que quando queremos algo temos que ir atrás, como ele fez”, conta Henrique Francez.
O post teve mais de 2 mil compartilhamentos em poucos dias e chegou até a Erica Gois, que trabalha com comunicação visual e decidiu usar o seu talento para ajudar o Donizete a divulgar ainda mais o trabalho dele. Ela elaborou e mandou fazer mil cartões para o pedreiro distribuir e fez também um banner para ele colocar nas obras onde trabalha.
“Eu me encantei com a história dele, a dedicação e me peguei ligando. Eu até comentei com eles que foi Deus, porque eu vi e resolvi ligar. Eu trabalho com designer e a gente sabe da importância de ter uma identidade, um cartão, como isso faz diferença no serviço. E eu queria realmente dar esse impulso para ele ”, conta a designer.
Toda essa corrente que se formou a partir dos pedacinhos de papel feitos pela mulher do Donizete surpreendeu a família, que não imaginava essa repercussão.
“Quando eu vi que estava na internet e o que estavam fazendo para me ajudar, eu chorei o dia inteiro de alegria e falei para minha esposa: ‘Vai dar certo, nós vamos sair dessa. Foi por isso que eu fiz tudo isso, para ir à luta. Ir e vencer, sem tirar dos outros, mas doando um pouco do que eu sei que é trabalhar”, finaliza o pedreiro.