FEIO NÃO GANHA ELEIÇÃO

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Zarcillo Barbosa é jornalista, professor em cursos de pós-graduação em Comunicação Social, mestre em Ciências e doutor em Sociologia

O laboratório de neuropolítica da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, tem mais de uma centena de pesquisas sobre campanhas eleitorais. Uma das conclusões: candidato feio não tem chances de se eleger. Só se for um palhaço, ou um rinoceronte. Aí já é birra do eleitorado. A visão do eleitor sobre o conteúdo estético do postulante a um cargo público, é determinante no processo de escolha, embora não seja a única. Boa parte do que fica no córtex visual das pessoas diz respeito a aparência. Parte daí a identificação com o candidato. Isso ajuda, em muito, que se crie um grau de proximidade com quem se propõe a nos representar no Executivo ou no Legislativo.
Uma vez perguntaram ao marqueteiro João Santana, como ele lidava com candidatos mal acabados. Ele simplesmente respondeu que procurava torná-los bonitos. Dilma Rousseff, quando candidata pela primeira vez à Presidência da República, não era um padrão de beleza. Também nunca foi horrorosa na aparência – só na gestão do país, como se comprovaria posteriormente. Um momento importante da candidatura Dilma foi o efeito Kamura (famoso cabeleireiro e maquiador de São Paulo), da transformação estética, da combinação de uma nova maquiagem, uma nova sobrancelha e sobretudo o novo corte de cabelo. Na reeleição, ficou mais fácil porque ela teve José Serra como adversário. Criaram aqueles terninhos de mangas curtas e calças compridas, que se tornaram modelitos oficiais. Uma vez eleita, o gabinete da Presidenta fez um contrato com o cabeleireiro japonês: R$ 5 mil cada penteada. Um jatinho do governo ia buscar Kamura em São Paulo, três vezes por semana, e o levava de volta.
A neuropolítica é a favor da “propaganda negativa”. Os estudiosos da área acham que meter o pau no adversário surte efeito. Principalmente quando tem forte teor emocional. Leva as pessoas à reflexão e a se informarem mais. Só que, do outro lado também vem chumbo. É preciso se

 

beauty-160456_1280precaver contra a munição do adversário. Os sentimentos negativos mais associados às campanhas são raiva, medo, tristeza, decepção. As emoções positivas são entusiasmo, orgulho, alegria e esperança. Toda estratégia de campanha deve incluir o emocional.
Candidato é termo vindo do latim “candidus”, branco como a neve, alvo, brilhante. Na antiga Roma, o candidato a um cargo eletivo fazia campanha vestido com uma toga branca, o que simbolizava a idoneidade, pureza e honradez. Na cultura ocidental e no meio religioso cristão, a cor branca representa a pureza, a virgindade. Em decorrência disso, o hábito das crianças de usar vestes brancas, no batizado. As noivas, na grande maioria, hoje em dia, deveriam eleger outra cor para o vestido com que vão ao altar. No meu tempo já se dizia que “quem se veste de branco depois de estourada é pipoca”.
E meio a mais uma campanha eleitoral, uma das táticas para aparentar candura é aparecer ao lado da esposa e filhos, símbolo do bom marido e pai. No corpo-a-corpo o candidato adora pegar criancinhas no colo e sapecar um beijo nas bochechas rosadas. Se for cor de chocolate, melhor. Abraçar pessoas de outras raças indica ausência de preconceito. Tem de provar de todos os bolos de fubá forem oferecidos na periferia. E elogiar : “Melhor que este nem minha mãe…” De terno e gravata, em festa do high society, a estratégia é caprichar na roupa para ganhar ares de pessoa influente e de prestígio social.
Se essas artimanhas e manhas falsas não conseguirem ludibriar a boa-fé do eleitor, fique contente. Sinal de que o brasileiro está evoluído politicamente, a ponto de não se deixar enganar. Eleger, do latim “eligere”, significa “escolher o melhor”. O eleitor tem o dever de valorizar o seu voto, como um ato de cidadania. E depois fiscalizar a conduta dos eleitos a quem delegou, no processo democrático, a responsabilidade de representá-lo.

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