Um dos mais respeitados zoológicos do País, o Zoo de Bauru “esconde” muitas histórias dentro dos recintos dos animais e também nos bastidores, em áreas que ficam longe da visão do público. Nesta semana, o JC foi em dois dias seguidos ao parque para ver de perto o comportamento de seus 650 bichos e o trabalho dos 61 funcionários.
Com a ajuda do diretor Luiz Pires, que se aposentou na última quinta-feira, e da zootecnista Claudia Ladeira, a reportagem descobriu algumas curiosidades, que compartilha com os leitores nesta edição.
Tem camelo em dieta, bichos penetras, animais que fazem revezamento de vigilância, detalhes sobre a alimentação e sobre a renovação da vida que ocorre constantemente no Zoo, com o nascimento de novos animais em cativeiro. O JC destaca, ainda, o importante papel desempenhado pelo parque em pesquisa, conservação da fauna e educação ambiental.
Uma das ações, por exemplo, é promover a troca de animais com outros zoológicos para garantir uma boa variabilidade genética da fauna. São parques modernos como o de Bauru, também, que atuam como reservatórios de espécies ameaçadas de extinção ou já extintas para, quem sabe, um dia reintroduzi-las em seu habitat.
“É algo que já foi feito no Brasil com o mico-leão-dourado, que só não está extinto hoje graças a um programa de reintrodução de indivíduos na Mata Atlântica. Com a degradação do meio ambiente, os zoológicos, a cada dia que passa, se tornam mais fundamentais”, conta Pires, destacando que nenhum animal mantido no Zoo foi retirado sadio de seu ambiente natural.
“Todos foram resgatados, ou são descendentes de animais resgatados, e não tiveram condições de voltar à natureza, quase sempre por situações provocadas pelo homem, porque estavam feridos ou porque eram filhotes que ficaram sem os pais”, acrescenta.
Acompanhe, nesta e na próxima página, um pouco mais das ações do Zoo de Bauru e os encantos que ele abriga.
Parque também carrega histórias tristes
Fuga de dois tigres que precisaram ser sacrificados por medida de segurança marcou para sempre a trajetória e a história do Zoológico de Bauru
Fundado em 1980, o Zoológico de Bauru carrega muitas histórias de sucesso, mas também de dificuldades. Sem dúvida, um dos episódios mais tristes foi a morte de dois tigres, que precisaram ser abatidos depois de conseguirem fugir de seu recinto. Até hoje não esclarecido, o incidente completa 15 anos em 2019.
Uma fêmea que estava há 12 anos no Zoo e seu filho, um macho de seis anos nascido em Bauru, precisaram ser mortos a tiros, já que os dardos tranquilizantes disparados pelos funcionários não foram capazes de deter os animais. A fuga ocorreu em 3 de junho de 2004, quando os tigres escaparam por um buraco na tela do recinto em que viviam. A suspeita, desde aquela época, é de que o alambrado tenha sido propositalmente cortado. O responsável pela tragédia nunca foi identificado.
A tentativa de resgate durou cerca de uma hora e 40 minutos e envolveu 12 funcionários. Quando receberam os disparos dos dardos, os tigres fugiram em direção à mata que fica dentro do Zoo e, em obediência ao protocolo de segurança diante dos riscos envolvidos, a decisão foi pelo sacrifício dos animais. Até então, a última fuga no parque havia sido registrada em 1996, quando um chimpanzé escapou e precisou ser sacrificado.
Outro episódio lamentável foi registrado em 2015, quando os quatro pinguins que vivam no Zoo morreram em decorrência de uma intoxicação alimentar. Até hoje, o parque não conseguiu repor as espécies, felizmente, devido à indisponibilidade de pinguins resgatados que não conseguem se reintroduzir na natureza e que, nestes casos, são destinados aos zoológicos por centros de triagem de áreas litorâneas brasileiras.
O Zoo de Bauru, aliás, foi o primeiro do País a conseguir promover a reprodução da ave em cativeiro. O filhote havia nascido em dezembro de 2012.
Banco biológico inédito
Inaugurada em novembro do ano passado, a câmara fria do Zoo contabiliza uma triste estatística. Em menos de três meses de funcionamento, já abriga 11 carcaças de animais silvestres, a maioria morta por atropelamento em rodovias da região. Entre as espécies armazenadas a uma temperatura de 18 graus negativos, estão veado-catingueiro, tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, coruja-buraqueira, gavião-carcará, cachorro-do-mato e raposa-do-campo. “Antes, eles eram simplesmente enterrados. Agora, deixamos este material à disposição para os mais variados tipos de estudo”, cita Luiz Pires. Não há em nenhum outro lugar do País um banco desta natureza. Podem retirar as carcaças pesquisadores que tenham licença específica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para manipular material biológico.
Centro de reabilitação
O Zoo faz um importante trabalho de resgate e reabilitação de animais silvestres feridos. Por falta de estrutura maior, porém, os casos mais graves e recuperação lenta são encaminhados ao Cempas da Unesp de Botucatu. Ainda neste ano, uma licitação deverá ser aberta para a construção do centro de reabilitação. Segundo Luiz Pires, o parque possui recursos para a obra, mas a manutenção dependerá de investimentos das empresas concessionárias de rodovias, que teriam sinalizado interesse em parceria.
SERVIÇO
O Zoo abre todos os dias, das 8h às 16h. Nos finais de semana e feriados abre até 17h. O ingresso é R$ 4,00. Maiores de 60 anos pagam R$ 2,00 e menores de 5 anos não pagam. É oferecido ingresso gratuito para excursões escolares e projetos sociais agendadas pelos telefones 3203-5229 ou 3231-2632. O Zoo fica na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, km 232, no final da Nações Unidas. Outras informações, acesse: http://www.zoobauru.com.br.
Fonte: https://www.jcnet.com.br/Geral/2019/01/zoo-de-bauru-alem-das-aparencias.html