O terremoto de magnitude 6,8 e 557 quilômetros de profundidade, com epicentro em Carandayti, na Bolívia, mexeu com a vida dos brasileiros nessa segunda-feira (2). O tremor foi registrado na Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) às 10h43 e acabou sendo sentido em diversos pontos do País, inclusive em Bauru.
Em um prédio localizado no Jardim Panorama, moradores do 12.º andar notaram as oscilações e até mesmo equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas até o local. “Dois moradores relataram que sentiram um tremor. Fizemos uma vistoria na edificação para verificar se havia indícios de comprometimento na estrutura, alguma movimentação de solo ou trinca na construção fundamental do prédio, mas nada foi constatado”, explica o tenente Gustavo Bonifácio, do Corpo de Bombeiros. De acordo com ele, essa foi a única ocorrência atendida na cidade em decorrência do tremor.
Contudo, em outro ponto do município, no Jardim América, a professora Mariana Tamião Mortari, de 25 anos, havia acabado de retornar da padaria com sua colega de apartamento, quando percebeu o tremor do 11.º andar. “Minha amiga disse que não estava passando muito bem e, quando fui ajudar, percebi que eu também senti uma tontura. Olhei para a garrafinha de água que estava em cima da mesa do computador e ela estava balançando. Nunca passei por isso”, relata.
A professora conta que ambas ficaram preocupadas com o ocorrido e procuraram por informações. “Resolvemos perguntar em um grupo do condomínio se mais alguém havia sentido algum tremor. Pensamos em sair do apartamento, mas temos três gatos e só íamos sair se pegássemos eles”, diz.
Bruna Jacobs Ribeiro Gagliardi, de 35 anos, mora no 7.º andar do mesmo prédio e também confundiu o abalo com uma indisposição. “Achei que estivesse tendo uma crise de labirintite. Estava em frente ao computador e vi o movimento da minha cabeça balançando pelo reflexo. Foi bem rápido, mas logo soube que tinha relação com o terremoto”, conta.
A Defesa Civil não foi acionada, mas ficou em alerta para possíveis ocorrências. “Ficamos atentos à situação, aos telefones e andamos pela cidade, mas nada anormal foi constatado”, afirma o coordenador do órgão, Sidnei Rodrigues.
Prefeitura evacuada em Marília
Em Marília (100 quilômetros de Bauru), a situação foi mais alarmante. Funcionários que trabalham no prédio da prefeitura também foram surpreendidos com os efeitos do tremor. Por conta do ocorrido, o imóvel foi evacuado e as atividades acabaram sendo suspensas. Cerca de 200 servidores públicos municipais foram liberados.
Em nota, a assessoria de comunicação da prefeitura do município informou que equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil, além de engenheiros, vistoriaram o prédio e, por estar dentro da normalidade, os servidores retornam ao trabalho hoje, às 8h.
Especialista diz que profundidade contribuiu para chegada até aqui
O JC conversou ontem com o técnico em sismologia José Roberto Barbosa, do Centro de Sismologia da USP, em São Paulo, para entender como um terremoto com epicentro a aproximadamente 2.000 quilômetros de Bauru afetou a vida de alguns moradores. “Isso não acontece toda hora. Mas, às vezes, ocorre um grande terremoto na Argentina, no Peru ou na Bolívia, como o caso de hoje (ontem), que acaba nos afetando”, conta.
De acordo com o especialista, com 6,8 graus de magnitude e com uma profundidade focal considerada grande, de 557 quilômetros, o sismo fez com que parte das ondas se propagasse, chegando até aqui.
“As ondas utilizam a energia para viajar até se dissiparem em uma superfície. O que fez as ondas passarem pelo Brasil foi a profundidade focal. Em certas regiões, com prédios fincados em materiais menos densos como rochas sedimentares, por exemplo, essas ondas ganham corpo, ganham força e mexem com as estruturas, fazendo com que as pessoas se assustem com a oscilação, que durou poucos segundos”, explica.
O especialista ainda destaca que não é possível prever tais abalos, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. “Por mais que se tenham estações monitorando todo o território nacional, não podemos adiantar. Isso porque as placas tectônicas são formadas por diferentes materiais e profundidades. Como elas estão se movimentando alguns centímetros por ano, existe um acúmulo de tensões em alguma profundidade e não há como saber onde está o acumulo e quando ele será liberado”, conclui José Roberto Barbosa.
Você sabia?
Um dos fatos mais curiosos quando o assunto são terremotos é que alguns animais conseguem antecipar o fenômeno agindo de maneira estranha. O episódio, que já havia sido percebido pelos gregos antes de Cristo, ainda não tem uma explicação científica comprovada. A causa mais provável seria que os bichos sentem as alterações nos campos magnéticos provocados pela tensão das placas tectônicas. Outra teoria é que alguns animais conseguem ouvir sons de baixa e alta frequência oriundos do solo. Enquanto os cientistas debatem, fato é que, de acordo com historiadores, no terremoto chinês de 1975, a observação dos animais agitados foi um fator fundamental para o sucesso da previsão sísmica. Depois disso, os cientistas da China até fizeram uma lista com 58 espécies úteis na antecipação dos tremores, incluindo cobras e morcegos.
Fonte: https://www.jcnet.com.br/Geral/2018/04/tremor-e-sentido-em-bauru-e-regiao.html