“SUV do Argo” estreia em cinco versões, traz motor turbo e internet a bordo; versão mais cara sai por R$ 116 mil
“A Fiat antes do Pulse é uma. E será completamente outra depois.” As palavras de Herlander Zola, diretor da marca italiana para a América Latina, dão a dimensão e o grau de importância do inédito SUV (conhecido durante muito tempo como Progetto 363) como um divisor de águas para a Fiat. Depois de mais de três anos de concepção do modelo, de inúmeros teasers, de flagras e da revelação no Big Brother Brasil, o carro estreia com grande expectativa para agradar quem quer algo mais que um hatch — mas ainda não pode pular para um SUV compacto (de verdade) — e, de quebra, para disputar a preferência diretamente com o Volkswagen Nivus.
Para isso, a Fiat caprichou no Pulse: dois motores (um deles é o novo três cilindros 1.0 turbo, de que falaremos mais adiante), cinco versões – com três acabamentos – (Drive 1.3 MT, Drive 1.3 AT, Drive 1.0T, Audace 1.0T e Impetus 1.0T), câmbio CVT, visual diferenciado e um bom punhado de tecnologia. O preço é competitivo: de R$ 79.990 a R$ 115.990. O Nivus, por exemplo, vai de R$ 105 mil a quase R$ 122 mil. A faixa de preço do Pulse coloca em xeque o Argo Trekking, que deve deixar de ser oferecido em breve.
Versões e preços
Drive 1.3 manual | R$ 79.990 |
Drive 1.3 CVT | R$ 89.990 |
Drive 1.0 turbo CVT | R$ 98.990 |
Audace 1.0 turbo CVT | R$ 107.990 |
Impetus 1.0 turbo CVT | R$ 115.990 |
Vamos começar pelas entranhas do Pulse, que foi polemicamente tratado como “SUV do Argo” desde sempre — em nenhuma apresentação oficial do carro os executivos se referiram ou citaram o hatch compacto. De acordo com a Fiat, o SUV usa uma plataforma inédita chamada Modular Architecture (MLA).
Na sigla, ao menos, ela é diferente da MP1 utilizada no Argo. Ainda segundo a marca, a base traz diversas modificações para melhorar a qualidade de rodagem, com vistas a diminuir ruídos, vibrações, asperezas e, claro, aumentar a segurança — tanto que os engenheiros prolongaram a longarina dianteira em 50%. No fim, 87% da carroceria é composta de aços de alta e ultra-alta resistência.
A estrutura, tratada como um conjunto, incorpora também novas suspensões dianteira e traseira (ainda com McPherson na frente e eixo de torção atrás), sistema de direção específico, opção de motores turbo e aspirado e novas transmissões (o Pulse usa um câmbio CVT com sete marchas simuladas). A geometria do conjunto da suspensão, inclusive, é a responsável pelo aumento de 1,1 centímetro no entre-eixos do Pulse em relação ao Argo — total de 2,53 metros.
Porém, essa distância é a menor na comparação com os rivais VW Nivus (2,57 m), Caoa Chery Tiggo 3X (2,55 m) e até mesmo o Honda WR-V (2,55 m). O comprimento é de 4,10 m e a largura cresce 3 cm (1,78 m) em virtude das molduras plásticas parrudas nas caixas de rodas – umas ombreiras modernas.
Tão polêmico quanto a questão Pulse x Argo é o porta-malas. Segundo a Fiat, o bagageiro do SUV tem 370 litros. Só que não é bem assim. A marca usa um método vantajoso para aferir a capacidade volumétrica, como se alguém “enchesse de água” o compartimento e medisse a quantidade de líquido dentro. A tática é a mesma adotada na reestilização do Jeep Compass, cujo porta-malas passou de 410 l para 476 l da noite para o dia.
No Brasil, boa parte das montadoras usa o padrão denominado VDA, que envolve a colocação de dois tipos de blocos retangulares com 1 litro de volume (e sempre com as mesmas medidas, 20 cm x 10 cm x 5 cm) até lotar o bagageiro. Há também o SAE, que tem conceito similar, mas conta com mais opções de blocos, o que dá maior versatilidade e aproveita melhor o espaço do compartimento. Em suma, o número real do Pulse deve ser bem menor que os 370 l divulgados.
Concorrentes
Pulse | Nivus | Tiggo 3X | WR-V | |
Comprimento | 4,10 m | 4,27 m | 4,20 m | 4,07 m |
Entre-eixos | 2,53 m | 2,57 m | 2,55 m | 2,55 m |
Largura | 1,78 m | 1,76 m | 1,76 m | 1,73 m |
Altura | 1,58 m | 1,49 m | 1,57 m | 1,60 m |
Altura mínima do solo | 19,6 cm | 17,5 cm | 15,7 cm | 14,5 cm |
Porta-malas | 370 l* | 415 l | 420 l | 363 l |
De volta à plataforma, a Fiat diz que a MLA traz uma exclusiva arquitetura elétrica com suporte ao uso cada vez mais intenso da eletrônica, como a central multimídia de última geração e sistemas de auxílio à condução. Contudo, não dá para deixar de falar que o Pulse compartilha algumas peças com o Argo, como teto, portas, vidros e até o ângulo do para-brisa (uma modificação seria muito cara).
A surpresa fica por conta da traseira, que recebe porta-malas com chapa externa exclusiva. Para entender, imagine que quase todas as partes móveis da carroceria (portas, capô e porta-malas) são, na verdade, um sanduíche com duas ou mais chapas de aço. O que a fabricante fez foi apenas trocar a parte externa (também chamada de skin, pele em inglês) do porta-malas.
Com isso foi possível adotar lanternas que avançassem mais sobre a tampa e colocar a placa na parte superior, um recurso que, somado ao aplique preto no para-choque, deixa o modelo visualmente mais alto. A superfície superior, inclusive, estende-se sobre as laterais — o que exigiu uma vigia traseira nova.
Visualmente (e pessoalmente) falando, o Pulse, assim como o Nivus, é belíssimo. Não que deixe de ser um Argo metido à besta, assim como o VW é um Polo diferenciado. Todas as configurações vêm com faróis e lanternas de LED de série — essa assinatura apareceu pela primeira vez na família Argo com o conceito Sting no Salão de São Paulo, em 2018.
Os para-choques são completamente novos (luzes de neblina só na versão mais cara), assim como o capô. A frente é mais alta e retilínea, dando um aspecto mais robusto ao SUV do BBB 21. O charme fica a cargo do chamado wide blade, um aplique na parte superior da grade que conecta as extremidades. Na configuração mais cara, Impetus, ele é cromado; nas demais, fosco. O desenho ficou bem harmonioso. Ao vivo o carro impressiona mais do que pelas fotos, mas seu porte é mais de um Argo on steroids do que propriamente de um SUV (vide Nivus).
Entretanto, não só de uma carinha bonita vive o Pulse. Além da forma, o novo carro da Fiat tem conteúdo — e coração. O SUV promove a estreia do aguardado 1.0 turbo de três cilindros (T200) derivado do Firefly.
O motor traz as mesmas tecnologias do 1.3 turbo (T270) lançado meses atrás e que já equipa Fiat Toro, Jeep Compass e Commander. Há válvula de alívio eletrônica, injeção direta de combustível e o sistema MultiAir III, que controla o momento e o ângulo de abertura das válvulas. O resultado disso tudo é a maior potência da categoria: são 130 cv a 5.750 rpm e 20,4 kgfm disponíveis entre 1.750 rpm e 3.000 rpm (2 cv a mais e o mesmo torque do VW Nivus).
Outra novidade é que esse motor é pareado com uma transmissão do tipo CVT, e não com uma automática convencional de seis marchas. Segundo a Fiat, essa foi a melhor opção encontrada para solucionar vários quesitos, como desempenho, consumo de combustível e eficiência do conjunto.