Pandemia obriga parte dos artistas de Bauru a migrar para outras atividades

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O sambista Ivo de Paula Fernandes vem atuando como motorista de aplicativos para driblar a crise / Foto: Arquivo Pessoal

Impactados pela pandemia, eles buscam outras fontes de renda para contornar a crise no setor cultural; titular da pasta fala sobre auxílios

“Foram os primeiros a parar e serão os últimos a voltar ao normal”. Essa é uma constatação comum na classe artística a respeito dos impactos que a pandemia da Covid-19 vem causando a eles. Apesar do Auxílio Emergencial, da recente Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, sancionada em junho, e do Projeto ‘Viva a Cultura’ (leia mais abaixo), artistas bauruenses de diversos segmentos tiveram de enfrentar a crise no setor cultural migrando para outras fontes de renda.

Exemplo disso é o sambista e produtor cultural Ivo de Paula Fernandes, que precisou recorrer ao serviço de transporte por aplicativos para minimizar o impacto de todos os cancelamentos de shows. “Eu, que larguei tudo para viver da bandeira do samba, fui muito impactado pela pandemia”, afirma Fernandes.

Há 15 anos trabalhando com música em Bauru, no grupo Quintal do Brás – fundado por ele – e demais coletivos, Ivo passou os últimos meses vivendo da renda exclusiva de suas apresentações. “A música vinha bem. Então, minhas contas estavam baseadas neste ganho mensal. Agora, estou com dificuldade extrema, porque só tenho o aplicativo como fonte de renda e não tem sido suficiente.”

Outro que teve sua agenda completamente riscada foi o DJ Marlon Batista de Oliveira. Ele trabalha com música há mais de 10 anos e teve de cancelar seus planos. ” Felizmente, o dono da casa onde eu morava foi compreensivo, porque estávamos sem condições de pagar o aluguel e outras contas”, conta o músico que mora com a noiva, com quem pretendia se casar ainda este ano.

Neste momento delicado, o casal pôde contar com a ajuda de algumas doações de cestas básicas e logo resgataram uma fonte de renda que havia dado certo no passado. “Minha noiva fazia trufas e ovos de Páscoa para levantar renda pro nosso casamento. Agora, que adiamos, voltamos a vender para nos manter”, comenta.

Também recebendo o auxílio e participando do projeto municipal “Viva a Cultura”, o poeta e escritor Leonardo Alípio de Miranda Benini, conhecido como Nôah, mudou de estratégia para manter a renda de sua família. “Nas ruas, eu oferecia meus poemas para as pessoas em troca de qualquer moeda. Ganhava cerca de R$ 100,00 em três horas.”

Logo no início do isolamento social, o trabalho foi impossibilitado e Nôah passou dificuldades com as contas se atrasando. “Minha mãe nos ajudou e eu criei o canal ‘Benanha’ no YouTube, para divulgar meus poemas e vender meus livros. Mas não consegui monetizar. Então, conto apenas com as doações em um financiamento coletivo. Até o momento, só uma pessoa me ajudou”, finaliza.

Menos um espaço

Aceituno Jr

Yuri Raphael Carnatthioni Rodrigues, proprietário da Casa Orates, está encerrando as atividades

Palco de bandas de diversos estilos, apresentações de teatro e de danças, além de exposições de telas e grafite, a “Casa Orates” está encerrando suas atividades neste mês de julho. Sócio proprietário do espaço desde janeiro de 2018, Yuri Raphael Carnatthioni Rodrigues tentou, ao máximo, manter a casa, mas não teve fôlego para continuar arcando com os aluguéis com o local fechado.

Também na esperança da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, Yuri aguardou para entregar definitivamente o espaço. “Com a imprevisibilidade da Lei e do final da pandemia, não conseguimos manter. Assim, eu, meu sócio e minha esposa, que também nos ajudava lá, tivemos de buscar emprego em uma empresa de telemarketing”, comenta.

Mesmo assim, ainda existe o sonho que, em algum momento, o projeto que deu espaço a tantos artistas, retome suas atividades. “Temos total interesse em voltar aos trabalhos”, conclui.

Mais um edital do ‘Viva Cultura’

Trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados puderam contar com o Auxílio Emergencial do governo federal neste período de enfrentamento à pandemia. Mas o verdadeiro alívio para a classe artística do País veio com a aprovação da lei que leva o nome de um dos grandes compositores e cronistas brasileiros, Aldir Blanc. De acordo com o secretário de Cultura, Rick Ferreira, para Bauru, virão R$ 2,3 milhões. “80% será para o pagamento dos auxílios e 20% para editais. Na próxima semana, deve sair a regulamentação. Enquanto não tivermos isso, é prematuro falar sobre informações específicas da Lei”, comenta. De acordo com o texto, pessoas que já recebem o auxílio emergencial por conta da Covid-19 não poderão obter o benefício. “Também na próxima semana, será liberado um cadastro genérico no site da secretaria para que os artistas de Bauru se cadastrem. A base de dados servirá para diversas ações”, afirma Rick. Além disso, os artistas bauruenses terão uma nova oportunidade de participar do projeto “Viva a Cultura”. “O primeiro edital, foi realizado com recursos da iniciativa privada. Na próxima semana, será publicado um novo edital para o projeto. Dessa vez, será custeado pelo Fundo Especial de Promoção de Ação Cultural (Fepac), que cederá R$ 100 mil. O valor é parte do capital disponível para manutenção do Teatro Municipal”, finaliza.

Fonte: https://www.jcnet.com.br/noticias/cultura/2020/07/729972-pandemia-obriga-parte-dos-artistas-de-bauru-a-migrar-para-outras-atividades.html

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