Há uma intenção óbvia, porém pouco aprofundada, de questionar a obsessão atual por lançamentos tecnológicos e o consumo desenfreado em massa, uma característica que muito tem sido associada à antologia Black Mirror. Para evidenciar esse aspecto, o diretor Lars Klevberg adota um tom caótico em algumas cenas, fazendo um paralelo com o habitual empurra-empurra da Black Friday americana, com multidões se atropelando e correndo em direção ao brinquedo, como se da nova aquisição dependessem suas vidas. Fica claro, portanto, que não se pretende criar um mistério acerca da origem maligna do boneco, a razão que o leva a se tornar um assassino é sinalizada já no primeiro ato do longa, e, a partir desse ponto, o suspense é pautado em aguardar as mortes sangrentas do icônico personagem.
É interessante notar como, apesar do “defeito” de fábrica, Chucky não se torna cruel arbitrariamente. Ele não mata apenas porque não consegue se conter, há um processo revelador de espelhamento no comportamento humano, no qual ele baseia suas ações e cataloga suas falas para se ajustar à rotina e desejo de seus donos. Ao ver Andy gargalhando enquanto assiste a O Massacre da Serra Elétrica ou desejando que o padrasto o deixe em paz para sempre, Chucky banaliza a violência sem poder recorrer a qualquer tipo de ambiguidade para decodificá-la. Embora literal em suas interpretações do discurso proferido por aqueles ao seu redor, o brinquedo tem suas motivações muito claras: diante da crescente insatisfação de Andy, Chucky se convence de que é seu papel essencial mudar a situação do melhor amigo. E, para fazer isso, nada mais “natural” do que um assassinato antes tão celebrado pelo garoto. Na lógica do boneco, não existe uma separação entre ficção e realidade, tudo é uma coisa só. E ao tentar apresentar essa personalidade ingênua e, ao mesmo tempo, aterrorizante de Chucky, o filme emplaca alguns de seus momentos mais divertidos.
Talvez por conta de toda essa contextualização, a figura de Chucky acabe se tornando menos aterrorizante e intimidante do que na versão original. Aqui, o maior esforço é no sentido de manter um suspense psicológico, pois, à medida que o boneco se familiariza com as contradições humanas, ele passa a manipular as situações para atingir seu objetivo de isolar Andy de todos à sua volta e provar que ele é o único que se importa de verdade com o garoto. Chucky é sutil, calculista e parece estar sempre um passo à frente dos demais, motivo pelo qual ninguém sequer cogita que ele é a mente por trás dos assassinatos — potencializado, claro, pelo fato de ele ser um brinquedo.
Por toda a construção da personalidade do boneco nos dois primeiros atos, de que ele é mais assustador por sua inteligência do que por qualquer outro atributo, é decepcionante ver que o roteiro de Tyler Burton Smith abre mão completamente da lógica do brinquedo ao inseri-lo em um ato final que espetaculariza seu sadismo. É como se, de repente, Chucky quisesse apenas ferir Andy e Karen. Uma decisão que só não se converte em um desastre total por conta da eficiência de Klevberg ao conduzir a cena do supermercado, com direito a todas as características de um apocalipse zumbi e enfim explorando o seu lado trash, até então abordado de forma tímida. No fim das contas, o maior tropeço de Brinquedo Assassino é não se decidir quanto ao que quer ser.