Navio encalhado no Canal de Suez: por que incidente pode piorar crise econômica global

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O Canal de Suez, no Egito, é uma das principais travessias marítimas do mundo para o transporte de mercadorias e matérias-primas.

Desde terça-feira, a passagem pelo canal está bloqueada pelo cargueiro Ever Given, que encalhou devido a uma falha técnica e gera preocupação em todo mundo por bloquear a passagem dos demais navios.

“Se o Canal de Suez permanecer bloqueado por mais 3 ou 5 dias, isso começará a ter ramificações globais muito sérias”, disse Niels Madsen, vice-presidente de produtos e operações da consultoria dinamarquesa Sea-Intelligence, à agência Reuters.

Mas por que isso é importante para o comércio em todo o mundo, incluindo o Brasil?

1. Um elo crucial para unir Oriente e Ocidente

O Canal de Suez é um canal navegável de 193 quilômetros localizado no Egito que conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho.

Inaugurada em 1869, é uma das principais artérias econômicas do mundo, já que por ela passa mais de 12% do comércio mundial, segundo dados da Autoridade do Canal de Suez.

Seu valor está no fato de oferecer aos navios de carga uma rota entre a Ásia, o Oriente Médio e a Europa sem ter que contornar o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África.

Isso permite que os navios economizem quase 9 mil quilômetros em cada sentido, reduzindo a distância em 43%, segundo dados do World Maritime Transport Council (WSC), instituição que representa as principais empresas de transporte marítimo de carga.

2. Um valor diário de mais de R$ 50 bilhões

A fila de navios que esperam para cruzar o canal na quarta-feira inclui mais de 40 navios de carga, transportando alimentos básicos, desde grãos e cereais até os chamados produtos “secos” como cimento, e 24 navios-tanque, de acordo com dados da consultoria Lloyd’s List Intelligence.

Havia também oito navios transportando gado e um caminhão-pipa, de acordo com a Bloomberg.

O Canal de Suez é um dos chamados “pontos de estrangulamento” do planeta, conforme definido pela Agência de Energia dos Estados Unidos (EIA, por sua sigla em inglês), “essencial para a segurança energética global” e no abastecimento de matérias-primas e mercadoria.

Na verdade, quase 19 mil navios passam pelo canal a cada ano, transportando milhões de toneladas de mercadorias.

A Lloyd’s List estima que o valor diário dos contêineres que transitam pelo canal é de US$ 9,5 bilhões (mais de R$ 53 bilhões), dos quais cerca de US$ 5 bilhões (R$ 28,2 bi) vão para o oeste e outros US$ 4,5 bilhões (R$ 25.4 bi) para o leste.

3. Vital para cadeias de abastecimento

O canal é vital para as cadeias de suprimentos em todo o mundo, dizem os analistas, portanto, bloqueá-lo pode ter consequências significativas.

O primeiro problema pode ser encontrado no congestionamento dos portos, diz Lars Jensen, analista da consultoria Sea Intelligence.

“Se partirmos do pressuposto de que os navios estão cheios […], isso significa [que são] 55 mil TEU (contêineres) por dia de carga da Ásia para a Europa [via canal]. A previsão atual é de que o canal demorará cerca de dois dias para desobstruir, o que acarretará no atraso de 110 mil TEU de carga, o que provocará um pico de carregamento nos principais portos da Europa”, explica o consultor, em análise que publicou sobre o assunto.

“Em outras palavras, isso aumenta o risco de que veremos congestionamentos nos portos europeus dentro de uma semana”, prevê.

Em que isso pode significar? Que o fornecimento de “basicamente tudo o que se vê nas lojas” pode ser “afetado”, disse o consultor à rede NBC.

4. Impacto nos preços do petróleo e outras commodities

Na opinião de Salvatore R. Mercogliano, especialista em assuntos marítimos e professor de história da Universidade Campbell, da Carolina do Norte (EUA), o bloqueio pode ter “enormes ramificações para o comércio mundial”.

“A cada dia que fecha o canal, os navios porta-contêineres e petroleiros não entregam alimentos, combustíveis e produtos manufaturados para a Europa e nenhuma mercadoria é exportada da Europa para o Extremo Oriente”, analisa em conversa com a BBC.

O Canal de Suez é “particularmente importante como meio de transporte de petróleo e gás natural liquefeito, permitindo que remessas cheguem do Oriente Médio à Europa”, diz Theo Leggett, correspondente de negócios da BBC.

Na verdade, 5.163 petroleiros passaram pelo canal no ano passado, de acordo com dados oficiais do canal, movimentando quase dois milhões de barris de petróleo por dia, estima o Lloyd’s List Intelligence.

De acordo com os dados da EIA, os fluxos totais de petróleo através do Canal de Suez e do oleoduto SUMED (construído no próprio Golfo de Suez) representaram cerca de 9% do petróleo mundial total comercializado por mar e 8% do gás natural liquefeito.

Devido à sua importância e às incertezas geradas, os preços mundiais do petróleo subiram mais de 6% na quarta-feira após a suspensão do tráfego no canal, embora tenham caído ligeiramente novamente na quinta-feira.

Os mercados, portanto, ainda aguardam o desenvolvimento dos eventos:

“Obviamente, quanto mais tempo durar essa interrupção, mais provável será que os refinadores e compradores tenham de recorrer ao mercado à vista para garantir o abastecimento de outro lugar”, diz o departamento de estudos do banco ING.

O tempo será a chave para medir o impacto ao longo do tempo, de acordo com analistas.

“O efeito provavelmente será fraco e transitório. Mas se o bloqueio durar mais do que alguns dias, isso pode impactar no preço e de forma mais duradoura”, diz Bjornar Tonhaugen, da Rystad gabinete, para a agência AFP.

E o resto dos produtos e mercadorias?

“São milhões de dólares em commodities nos outros navios e, se o canal não for desobstruído rapidamente, eles buscarão outras rotas, o que significa mais tempo, mais combustível e mais custos que podem ser repassados aos consumidores”, disse Ian Woods, advogado de comércio marítimo da firma londrina Clyde & Co, em entrevista para a NBC.

Enquanto analistas e mercados observam ansiosamente a resolução do incidente, há vozes que já alertam para as lições que podem ser extraídas dele.

“É um cenário de pesadelo”, disse Leggett, da BBC.

“O incidente mostrou o que pode dar errado quando a nova geração de grandes navios, como o Ever Given, tem que passar por estreitos canais”, observa ele.

Embora algumas partes do canal tenham sido expandidas como parte de um grande programa de modernização em meados da última década, “continua difícil de navegar”, diz ele, e podem ocorrer acidentes no futuro com consequências ainda mais graves.

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/03/26/navio-encalhado-no-canal-de-suez-por-que-incidente-pode-piorar-crise-economica.amp.htm?__twitter_impression=true

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