Motos só são 12% das multas e abusos nas ruas impressionam

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Não é preciso permanecer por muito tempo no trânsito de Bauru para observar motociclistas em alta velocidade, ultrapassando o sinal vermelho ou fazendo retorno em locais proibidos. “Se você vai para o corredor de veículos, sempre tem algum que cola atrás, fica impaciente, acelerando para você sair da frente, mesmo quando o sinal já está fechado. Isso acontece direto”, afirma o mototaxista José Carlos da Silva, 54 anos.

Com a experiência trazida pela maturidade, ele conta ser um dos inúmeros motociclistas que respeitam as regras de trânsito na cidade. Porém, trabalhando cerca de dez horas por dia, revela que os abusos de outros condutores sobre duas rodas são diários.

Mas, segundo dados de 2018, os motociclistas receberam apenas 12% das multas aplicadas de janeiro a julho. Considerando também os flagrantes feitos por radares de velocidade, foram 4.225 autuações de um total 34.427 elaboradas no período.

Além de trafegar acima da velocidade, as infrações mais comuns entre os motociclistas, de acordo com a Emdurb, são estacionar em local proibido e avançar o sinal vermelho. Gerente de infrações de trânsito da empresa pública, Gustavo Cardoso explica que os abusos tendem a ser mais frequentes entre os motociclistas imprudentes pela própria versatilidade do veículo, que permite a execução de manobras mais arriscadas, como fazer retornos proibidos em avenidas de grande fluxo como a Duque de Caxias.

“Tem até aqueles que desviam do trânsito passando por cima das calçadas, com risco de atropelar e ferir pedestres. É claro que temos de separar motociclistas de motoqueiros. Tem os que obedecem às regras de trânsito, mas também tem os que cometem infrações absurdas como esta”, observa.

Estando certos ou errados, os condutores de motos são sempre mais vulneráveis às graves consequências que um acidente pode trazer. “Isso porque, diferentemente do carro, na moto, o para-choque, o para-brisa é o próprio condutor”, comenta Cardoso.

MORTES

As estatísticas da Emdurb apontam que, no ano passado, das 22 vítimas fatais do trânsito de Bauru, 16 estavam em motos. “Toda hora a gente vê motociclista no chão”, acrescenta o mototaxista Ricardo Wagner Comin, 57 anos, há 14 na profissão. “Mas o desrespeito dos motoristas de carro com quem está de moto também é grande. Eles mudam de faixa, fecham a gente e não estão nem aí. Falta educação para todo mundo”, opina.

O risco para os motociclistas também está no céu. Foi uma antena corta-cerol que salvou a vida de José Carlos da Silva no final do ano passado. “Estava na avenida Lúcio Luciano e a antena cortou a linha. Se não fosse a antena, eu poderia não estar mais aqui”, completa.

Rapidez e praticidade viram riscos

Alternativa para escapar do trânsito e se deslocar com maior rapidez, as motos podem ser adquiridas por prestações de baixo valor e, por estas razões, se tornaram um veículo viável para boa parte da população. Mas, quando a imprudência anda junto, o resultado é a perda de vidas, vítimas com sequelas muitas vezes irreversíveis, mudança de rotina para famílias inteiras, sobrecarga no sistema de saúde e retirada de pessoas, principalmente jovens, do mercado de trabalho.

“Moto dá uma sensação de liberdade e, quando a pessoa é muito nova, acredita que nada vai acontecer e quer sair acelerando para ter este prazer. É quando os abusos acontecem”, analisa Daniel Augusto Contrera, 32 anos, que dirige moto desde que tirou a primeira CNH.

Há cerca de dez anos, ele viveu o único acidente grave de sua trajetória como motociclista, em que atropelou uma idosa que tentou atravessar a avenida Rodrigues Alves. “O sinal estava verde para mim e ela surgiu de trás no arbusto do canteiro central. Não deu tempo de evitar o choque, a moto era grande e, infelizmente, ela acabou falecendo”, relembra ele, que, na ocasião, sofreu apenas ferimentos leves.

A cada dez veículos no trânsito bauruense, dois são motos

A cada dez veículos que trafegam pelas ruas de Bauru, dois são motocicletas, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Os dados mais recentes do órgão, de junho deste ano, contabilizavam 277.792 veículos emplacados na cidade, sendo que, destes, 56.125 – ou 20% – eram motos.

Gustavo Cardoso, da Emdurb, explica que não é possível estabelecer uma relação direta entre os percentuais da frota e de multas, já que muitas das infrações de trânsito mais recorrentes não se aplicam a motociclistas. “Exemplos são o uso de cinto de segurança e usar o celular. A maioria encaixa o aparelho dentro do capacete e o agente de trânsito não consegue ver”, detalha, lembrando que o uso de capacete está consolidado no País e, mesmo com a viseira levantada, o condutor não é autuado se estiver usando óculos.

Não há medidas de impacto imediato e permanente para conter os abusos, mas a Emdurb aposta em iniciativas como a recente distribuição de antenas de proteção contra linhas de pipa com cerol, que são uma oportunidade para oferecer orientações aos condutores. “A gente aproveita este momento para alertar sobre a importância de respeitar as regras de trânsito”, diz.

Fonte: https://www.jcnet.com.br/Geral/2018/08/motos-so-sao-12-das-multas-e-abusos-nas-ruas-impressionam.html

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