Ministro da Saúde Nelson Teich pede demissão menos de um mês depois de assumir

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Nelson Teich foi consultor informal na campanha eleitoral de Bolsonaro e chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Saúde após a eleição

O ministro da saúde Nelson Teich pediu exoneração do ministério nesta sexta-feira, um mês depois de assumir o cargo no governo do presidente Jair Bolsonaro.

Ele deixao governo após sofrer pressão por semanas para indicar o uso da cloroquina — remédio cuja eficácia contra o coronavírus não é comprovada — para pacientes com covid-19.

A sua saída foi divulgada pelo ministério nesta manhã, que marcou uma coletiva de imprensa à tarde para dar mais informações sobre sua saída.

Quem é Nelson Teich

O empresário e oncologista foi o escolhido para assumir o lugar de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) como ministro da Saúde em abril. Ele se reuniu no Palácio do Planalto, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), antes do anúncio da demissão de Mandetta.

Nascido no Rio de Janeiro, o médico se formou pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e se especializou em oncologia no Instituto Nacional de Câncer (Inca). Atualmente, é sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos.

Em sua primeira fala como ministro, ao lado do presidente, Teich afirmou que não havereria mudanças radicais na política adotada até agora e que tomaria decisões com base em critérios técnicos. Disse, porém, existir um alinhamento completo entre ele e Bolsonaro.

“Não vai haver qualquer definição brusca ou radical do que vai acontecer. O que é fundamental hoje é que tenhamos mais informações sobre o que acontece com as pessoas com cada ação tomada”, disse Teich.

O médico afirmou nesta quinta-feira “tem pouca informação, é confuso”, o que leva muitas pessoas a tratarem “ideia como fato” e “cada decisão como um tudo ou nada”.

Segundo ele, colher mais informações é fundamental para “entender o momento e qual caminho seguir para definir a melhor forma de distanciamento social e que isso seja cada vez mais baseado em informação sólida”.

“Quanto menos informação se tem, mais é discutido na emoção. Discutir saúde e economia é ruim, elas não competem entre si.”

Teich afirmou que tudo será tratado no ministério sob seu comando de “forma técnica e científica” e reforçou a importância de trabalhar com base em uma “área de dados e de inteligência” para cada ação tomada e fazer um programa robusto de testes para coronavírus.

“Quando se tem muita incerteza, colher dados é fundamental. Temos que entender mais da doença. Quanto mais fizermos isso, maior vai ser nossa capacidadade de administrar o momento, planejar o futuro e sair da política de isolamento, porque isso é fundamental. As pessoas vão ter muita dificuldade em se isolar.”

“Estamos fazendo hoje para que a sociedade retorne cada vez mais rápido a uma vida normal”, afirmou o novo ministro.

Teich atuou como consultor informal na campanha eleitoral do presidente, em 2018, e, na época, até chegou a ser cotado para o cargo, mas acabou preterido por Mandetta.

Ainda assim, participou do governo, entre setembro de 2019 e janeiro de 2020, como assessor de Denizar Vianna, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.

Dele, inclusive, foi sócio no MDI Instituto de Educação e Pesquisa. A empresa de pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências sociais, humanas, físicas e naturais e treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial foi aberta em março de 2009 e fechada em fevereiro de 2019, segundo consta no site da Receita Federal.

Em 1990, fundou o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI), sendo seu presidente até 2018 — em 2015, a empresa foi comprada pela UHG/Amil.

Retrato de Luiz Henrique Mandetta
Direito de imagemEPA Image captionMandetta entrou em conflito com Bolsonaro sobre as medidas adotadas na pandemia do novo coronavírus

Também foi fundador — e presidente (pro bono) — do COI Instituto de Gestão, Educação e Pesquisa, organização sem fins lucrativos criada em 2009 para a realização de pesquisas clínicas e projetos e execução de programas de treinamento e educação em diversas áreas do cuidado do câncer, e, em 2016, do Medinsight – Decisões em Saúde, empresa de pesquisa e consultoria em economia da saúde.

E, entre 2010 e 2011, Teich, que é doutor em Ciências da Saúde – Economia da Saúde pela Universidade de York, do Reino Unido, prestou consultoria nesta área no Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.

“O Nelson é dos principais oncologistas do país e é um grande empresário, empreendedor e gestor de saúde. Seu momento atual é de dedicação a causas públicas”, diz Angélica Nogueira, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

A médica enfatiza que ele é muito técnico, científico e um exímio negociador. “Numa eventual transição, sua chegada pode ser positiva, por ser tratar de um profissional tecnicamente preparado e que poderá promover uma boa comunicação entre o Planalto e o Ministério da Saúde”, acrescenta.

O que pensa Teich sobre o coronavírus

Nas últimas semanas, o oncologista tem publicado artigos na rede profissional LinkedIn sobre o coronavírus. Em um deles, intitulado “COVID-19: Histeria ou Sabedoria?”, comenta sobre a polarização que tomou conta do Brasil no momento.

“A discussão sobre as estratégias e ações que foram definidas por governos, incluindo o brasileiro, para controlar a pandemia de covid-19 mostra uma polarização cada vez maior, colocando frente a frente diferentes visões dos possíveis benefícios e riscos que o isolamento, o confinamento e o fechamento de empresas e negócios podem gerar para a sociedade”, escreveu.

“É como se existisse um grupo focando nas pessoas e na saúde e outro no mercado, nas empresas e no dinheiro, mas essa abordagem dividida, antagônica e talvez radical não é aquela que mais vai ajudar a sociedade a passar por esse problema”, afirma, ainda, o artigo.

Retrato de Jair Bolsonaro
Direito de imagemAFP Image captionPresidente busca um novo nome para assumir o Ministério da Saúde

Destacou ainda que “a situação do gestor de saúde é muito difícil, porque ele precisa tomar decisões duras usando informações e projeções que apresentam grande incerteza” e que “o sucesso vai depender da capacidade de colher dados críticos em tempo real, de incorporar e analisar essa base de dados atualizada, de ajustar as projeções quanto aos possíveis impactos das escolhas, rever as decisões e desenhar novas medidas e ações”.

Em outro texto, “COVID-19: Como conduzir o Sistema de Saúde e o Brasil”, salienta que o isolamento horizontal, ao contrário do que defende Bolsonaro, é a melhor estratégia para o momento.

“Diante da falta de informações detalhadas e completas do comportamento, da morbidade e da letalidade da covid-19, e com a possibilidade do Sistema de Saúde não ser capaz de absorver a demanda crescente de pacientes, a opção pelo isolamento horizontal, onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento. Além do impacto no cuidado dos pacientes, o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país.”

Sobre a opção difundida pelo presidente, aponta que tem fragilidades e não representaria uma solução definitiva para o problema: “Como exemplo, sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem à partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela Covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias, para as pessoas de alto risco que foram isoladas e ficaram em casa. O ideal seria um isolamento estratégico ou inteligente”.

Fonte: BBC

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