Marco da noite bauruense vai ao chão

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Demolição do imóvel localizado na quadra 8 da rua Virgílio Malta começou nesta quarta-feira / Foto: Samantha Ciuffa

Prédio na quadra 8 da rua Virgílio Malta, que abrigou as boates Camarim e Comossomos, começou a ser demolido ontem

A juventude que aproveitou a noite bauruense nas décadas de 80 e 90 certamente se lembra de muitas histórias, festas e boemia que tiveram como cenário a quadra 8 da rua Virgílio Malta, no Centro da cidade. Palco de famosas e importantes boates de Bauru, o prédio foi comprado pela Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (Afpesp) e começou a ser demolido nesta quarta-feira (22).

O imóvel abrigou duas memoráveis boates em épocas distintas. De 1983 a 1995, o prédio era o endereço da famosa Camarim. Anos depois, passou a ser a Comossomos, conhecida como uma das primeiras “baladas gays” – termo utilizado na época – de Bauru.

Dono da Camarim, João Cabreira, que, até hoje, já comandou mais de 20 casas noturnas, destaca o perfil da boate que marcou os anos 80. “Ela era contemporânea, elitizada, tinha um ambiente chique. Naquela época, tinha a boemia, o pessoal ia muito bem vestido, foi muito legal”, conta.

Ele ainda lembra que personalidades como Kid Vinil, Elke Maravilha, Titãs, Barão Vermelho e RPM já estiveram ali. “A Camarim marcou a época dos anos 80, só tínhamos ‘barzinhos’ antes. Essa época também tinha boa música”, diz.

É de lá que vem uma peça icônica de um cachorro, que, hoje, ocupa o escritório do empresário em um de seus empreendimentos, o Sampa. “Hoje, tem painéis, mas, na época, todos queriam fazer fotos com o cachorro. Era a marca do Camarim”, comenta.

COMOSSOMOS

Também foi no prédio da quadra 8 da rua Virgílio Malta que a comunidade LGBTQIA de Bauru teve espaço com a Comossomos. Muitas drag queens da cidade começaram a performar por lá. “Os gays sempre se encontravam em guetos, ainda mais naquela época que era muito conservadora. Pelas minhas pesquisas, a Tina [Haga] foi a terceira a abrir uma balada, a Comossomos, para esse público e teve tanto destaque que ficou 14 anos no mercado”, comenta o empresário e secretário de Cultura, Rick Ferreira.

Ele ainda conta que trabalhou na casa como decorador, fotógrafo e promoter por um tempo. “Foi com essa experiência e o contato com muitos amigos da Comossomos que surgiu a ideia de abrir a Lab, depois que a casa fechou. Após esse período, os projetos sociais começaram a ganhar força e surgiu, também, a Associação Bauru pela Diversidade (ABD). Olha tudo que o veio por conta dessa boate”, finaliza.

Acionada pela reportagem, a Afpesp não respondeu, até o fechamento desta edição, desde quando a associação está responsável pelo prédio, qual será a finalidade do terreno adquirido e até quando serão realizadas obras no local.

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