RIO — O meio ambiente está sendo degradado em uma velocidade sem precedentes na História da Humanidade. Um relatório divulgado esta segunda-feira concluiu que cerca de 1 milhão de espécies de animais e vegetais estão ameaçadas de extinção . Muitas poderão desaparecer nas próximas décadas.
O número de espécies nativas dos principais habitats terrestres caiu em pelo menos 20%, principalmente desde 1900. Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos corais e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados.
O relatório foi aprovado no sétimo encontro da Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), que ocorreu na semana passada em Paris.
— A saúde dos ecossistemas dos quais nós e todas as outras espécies dependem está se deteriorando mais rapidamente do que nunca — adverte o inglês Robert Watson, presidente do IPBES. — Estamos erodindo as próprias fundações de nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo.
Watson, no entanto, diz que ainda não é tarde para mudar este “quadro sinistro”, desde que sejam tomadas medidas imediatas:
— Precisamos de mudanças transformadoras em paradigmas, metas e valores tecnológicos, econômicos e sociais – ressalta. — Com isso, a natureza poderá ser conservada e usada de forma sustentável.
Este é o primeiro relatório dedicado à avaliação do ecossistema mundial. Seus dados foram compilados nos últimos três anos por 145 especialistas de 50 países. Foram avaliadas as mudanças ocorridas no planeta nas últimas cinco décadas, proporcionando uma visão sobre como o desenvolvimento econômico impactou o meio ambiente , assim como cenários previstos para as próximas décadas.
— A biodiversidade e as contribuições da natureza dão uma “rede de segurança” para as nossas vidas. Mas esta rede está quase despencando — alerta a coautora do relatório, a argentina Sandra Díaz. — A diversidade das espécies e ecossistemas está caindo rapidamente.
Segundo os cientistas, a emissão de gases de efeito estufa dobrou desde 1980, elevando a temperatura global em até 0,7 grau Celsius.
Coautor do relatório e professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Indiana, o brasileiro Eduardo Brondizio ressaltou que o grupo dedicou-se à compreensão das principais causas de danos à biodiversidade.
— Precisamos entender a história e a conexão de indicadores demográficos e econômicos, assim como os valores sociais que os sustentam — explica. — Os principais fatores indiretos incluem o aumento da população e consumo per capita. E também a inovação tecnológica, que, em alguns casos, diminuiu, mas em outros aumentou os danos à natureza.
Brondizio também destaca a “interconectividade global”: a extração e produção de recursos em uma parte do mundo para satisfazer consumidores de regiões distantes.
Mais sinais de alerta
Três quartos do ambiente terrestre e cerca de 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados por ações humanas. Em média, essas tendências foram menos graves ou evitadas em áreas mantidas ou administradas por povos indígenas e comunidades tradicionais.
Mais de um terço da superfície terrestre do mundo e quase 75% dos recursos de água doce são dedicados atualmente à produção agrícola ou pecuária.
Aproximadamente 60 bilhões de toneladas de recursos renováveis e não renováveis são extraídos globalmente a cada ano — tendo quase dobrado desde 1980.
A degradação do solo reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre global.
> Até US$ 577 bilhões em safras globais anuais estão em risco devido à perda de polinizadores, como abelhas.
Entre 100 milhões e 300 milhões de pessoas estão sujeitas a inundações e furacões devido à perda d habitats costeiros e algum tipo de proteção.
Em 2015, 33% dos estoques de peixes marinhos estavam sendo colhidos em níveis insustentáveis.
> As áreas urbanas mais do que dobraram desde 1992.
> A poluição causada por plásticos aumentou dez vezes desde 1980.
Entre 300 milhões e 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lamas tóxicas e outros resíduos de instalações industriais são despejados anualmente nas águas do mundo, e os fertilizantes que entram nos ecossistemas costeiros produziram mais de 400 “zonas mortas” oceânicas, cobrindo uma área equivalente a 245 mil km², maior do que o Reino Unido.
Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/mais-de-1-milhao-de-especies-estao-ameacadas-de-extincao-23643683?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo