Segundo a polícia, pessoas estão fraudando comprovantes de residência para receber o benefício pago pela Vale.
Nos últimos meses, a população de Brumadinho e de outras de cidades às margens do Rio Paraopeba cresceu. Mas, segundo a polícia, por causa de uma fraude.
Mais carros, mais gente circulando. A tranquilidade da cidadezinha do interior ficou para trás. “Brumadinho era uma cidade pacata, boa de se viver. Hoje é difícil. A gente tem medo de sair na rua à noite”, diz a recepcionista Tânia de Souza.
“Hoje em dia, estou deixando a loja um pouco mais fechada, ou, talvez, fechando mais cedo porque eu tenho receio de ficar sozinho aqui e acontecer alguma coisa”, conta o comerciante Joaquim Reginaldo da Silva.
A Prefeitura de Brumadinho afirma que a população pulou de 39.500 moradores para 44.500 depois da tragédia com a barragem da Vale, em janeiro.
Após a tragédia, a mineradora começou a pagar um auxílio emergencial a todos os moradores de Brumadinho e a quem vive ao longo do Rio Paraopeba, distante um quilômetro da margem para cada lado, até a cidade de Pompéu: um salário mínimo para adultos, meio para adolescentes e um quarto de salário para crianças.
A notícia chamou a atenção de estelionatários de todo o Brasil. Muitos fraudaram comprovantes de residência para receber o benefício. A polícia prendeu 32 suspeitos de cometer o crime e investiga outros 84, só em Brumadinho. “Essas pessoas se utilizam de um documento falso para conseguir a vantagem econômica indevida. A pena é de um a cinco anos”, afirma a delegada Ana Paula Gontijo.
Parte dos moradores de São Joaquim de Bicas, vizinha a Brumadinho, tem direito ao auxílio emergencial. De acordo com a prefeitura, a população também aumentou: de 30 mil para 39 mil depois que o benefício foi liberado.
Em São Joaquim de Bicas tem muita gente de olho em um documento: o comprovante de endereço para cadastro dos moradores no programa de Saúde da Família e que é aceito pela Vale para pagamento do auxílio emergencial. Funcionários da prefeitura dizem que estão recebendo ameaças para fornecer o documento com data retroativa ao rompimento da barragem.
Uma funcionária da prefeitura conta que os colegas estão trabalhando com medo. “Pessoas chegaram a ir na casa desses agentes de saúde, desses colegas, solicitando em tom ameaçador mesmo, pedindo para fazer o comprovante de endereço e assim eles conseguirem indenização”, conta.
Milhares de pessoas dependem do auxílio pago pela Vale. Seu Antenor e a família dele são donos de um terreno pertinho do Rio Paraopeba e, por causa dos rejeitos de minério, não pode retirar água do rio. “Até beber água desse rio a gente já bebeu e, depois que aconteceu isso, acabou”, diz Antenor.
A Vale declarou que está colaborando na apuração dos casos e que suspende o pagamento quando se confirma uma fraude.