Férias, trabalho e nós

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O clima de férias da garotada neste meio de ano é instigante. Seria muito bom, seria muito legal se pudéssemos acompanhá-los, mas a reforma trabalhista se esqueceu de prever isso. Ao contrário, a reforma trabalhista nos dará mais trabalho. Assim como a da Previdência. Teremos de ajudar a pagar a conta da incompetência e da corrupção, do chamado Custo Brasil. Alguém tinha a ilusão de que seria diferente?

As experiências socialistas mundo afora se mostraram irreais, não deram certo, mas da teoria em que se basearam, ou seja, o marxismo, sobrevivem algumas boas explicações para dilemas da vida em sociedade. Karl Marx escreveu, por exemplo, que o princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. Alguém acha que o Estado e, principalmente seus atores, os políticos, ainda que eleitos pelo voto, nos representam condignamente?

Até tentei me inscrever num desses cursos de férias no Jardim Botânico, mas não aceitaram (rsrsrsrs). Mas tudo bem, ver os filhos e sobrinhos livres, leves e soltos por aí já paga a pena. Chegamos à metade de 2017 com meia língua para fora, por isso este devaneio.

Não tem jeito que dê jeito neste jeito, será preciso trabalhar muito ainda para ter sorte na vida. E o trabalho… ‘Mesmo com toda a fama, com toda a brahma// Com toda a cama, com toda a lama// A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando…’, cantam Chico Buarque e Caetano Veloso no long play “Chico Buarque & Maria Bethania”, de 1975, lado 2.

A música e a poesia ajudam a compensar. “A música é a linguagem dos espíritos”, disse o nobre poeta árabe Khalil Gibran. Concorda, maestrina Sonia Berriel? E o bom é que todos ouvem música – pobres, ricos, todas as raças, gêneros, idades. Então, também ouço. Para falar comigo mesmo, com minha emoção e sentimentos.

Temos o dom (ou seria única opção?) de seguir em frente. Crentes de que tudo pode melhorar. De fato, pode ou não. Depende da expectativa que se tem da existência. Para uns, basta o que é essencial. Para outros, é preciso ter sempre mais e mais…

‘Mesmo com o nada feito, com a sala escura// Com um nó no peito, com a cara dura// Não tem mais jeito, a gente não tem cura// Mesmo com o todavia, com todo dia// Com todo ia, todo não ia// A gente vai levando, a gente vai levando// A gente vai levando essa guia…’

Este texto meio que sem sentido prático e desleixadamente escrito é para dizer que a minha (nossa) inquietude, por vezes, é perturbante. Se tudo está bem, falta algo. Se não está, a menor coisa serve para nos consolar.

Outro pensador social, o brasileiro e filósofo Paulo Freire, vaticinava sobre as expectativas de todos nós, fruto de uma história de desumanização devido à exploração do homem pelo próprio homem: ‘Há uma pluralidade nas relações do homem com o mundo, na medida em que ele responde à ampla variedade de seus desafios. Que não se esgota num tipo padronizado de respostas. No jogo constante de suas respostas, altera-se no próprio ato de responder. Organiza-se. Escolhe a melhor resposta. Testa-se. Age. A forma como o indivíduo capta e interpreta a sua realidade vai determinar sua relação com o mundo objetivo e sua pluralidade de significações. É na cultura que ele vai encontrar os primeiros elementos para construção de discernimentos, ou seja, a consciência de sua temporalidade e de sua historicidade’.

Parece que, segundo Freire, devemos almejar a autoconsciência de quem somos e o que deveríamos fazer para então interagirmos com o mundo exterior. Ou isso tudo ocorre ao mesmo tempo?

‘Mesmo com todo o emblema, todo o problema// Todo o sistema, todo Ipanema// A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando// A gente vai levando essa gema!’

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