No dicionário, a palavra “solidão” significa estado de quem está só. Para quem a vive, contudo, é muito mais do que esta simples definição. Para quem já esteve rodeado de familiares e amigos é uma dor imensa, principalmente em datas comemorativas. E o que é melhor para curar tal dor? Estar junto! Foi esse um dos objetivos de uma ação inédita da Fundação Casa e que levou três internos até a Vila Vicentina de Bauru.
Os adolescentes (as identidades foram preservadas em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA), um deles com apenas 13 anos e os outros dois com 16 e 17, foram até o abrigo de idosos na última terça-feira. Em mãos, eles carregavam presentes para entregar em homenagem ao Dia dos Pais, celebrado no domingo. Os kits eram formados por um gorro, uma caneta e uma carta.
Os itens podiam parecer simples em um primeiro momento, contudo, somente o simbolismo do gesto de presentear e de lembrar foi de um benefício gigante. A reportagem do JC acompanhou o encontro emocionante.
“Quando eu vi como eles ficaram felizes por nós simplesmente estarmos aqui, visitando, eu também fiquei muito feliz de estar ajudando eles de alguma forma”, disse o adolescente de 13 anos.
Ele, assim como os outros dois internos que participaram da ação, residia em Bauru com algum familiar, contudo, acabou envolvido com o mundo das drogas. Depois, os jovens entraram no ciclo que se repete com tantos e tantos outros jovens Brasil afora: furtos, roubos e tráfico.
O outro interno, de 17 anos, também disse que, assim como os idosos se sentem sozinho, os adolescentes da Fundação Casa também convivem muito com a solidão. Por isso, afirmou que a ação inédita teve uma via de mão dupla. “Mesmo estando junto com os outros, a gente fica muito sozinho. Estar aqui com eles também nos faz bem”.
BOM COMPORTAMENTO
A encarregada técnica da Fundação Casa, Ursula Radespiel, explicou que os adolescentes participam do Plano Individual de Atendimento (PIA), que possui metas específicas de acordo com a necessidade de cada um.
“De manhã, eles têm aulas de ensino regular na série corresponde a idade. À tarde, os jovens desenvolvem atividades relacionadas ao lazer e também participam de cursos profissionalizantes”, relata.
Eles foram selecionados para participar da ação justamente pelo bom comportamento dentro da Fundação Casa. Além das atividades que promovem a inserção dos jovens aos estudos e, muitas vezes, à uma realidade que nunca tiveram em casa, os adolescentes passam por acompanhamento psicológico regular, que também presta apoio aos pais ou parentes próximos a eles.
Ursula Radespiel ainda disse que, no tempo em que esses adolescentes permanecem na Fundação Casa, que vai de 9 meses a um ano, a equipe que presta assistência se empenha para que, quando eles estiverem prontos para sair, não retornem à antiga realidade.
‘PORTAS ABERTAS’
Vice-presidente da Vila Vicentina, César Benedito Siqueira elogiou a ação. “A Vila Vicentina está com as portas sempre abertas a esse tipo de ação. Já recebemos comunidades terapêuticas, com pessoas em recuperação, e que também fizeram muito bem ao nossos idosos. Essa ação da Fundação Casa, em especial, comoveu nossos acolhidos pela homenagem ao Dia dos Pais, pois, apesar do problema que os jovens enfrentam, eles se dispuseram a fazer a lembrança e vir até aqui para entregar em mãos”, conclui.