Pesquisa inédita permite que doença seja identificada pela saliva 30 anos antes dos sintomas aparecerem
O Alzheimer é uma doença que afeta, atualmente, cerca de 46,8 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com o Instituto Alzheimer Brasil. O diagnóstico da doença, hoje em dia, é uma combinação de vários exames e análise de sintomas que podem identificar a condição. No entanto, um novo teste que está sendo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) permite diagnosticar a doença por meio da saliva, de forma indolor, até 30 anos antes.
Com base em um estudo realizado em 2008, onde foi percebida a presença de substâncias no sangue de pessoas que tinham a doença, o cientista e biotecnólogo Gustavo Alves e sua equipe desenvolveram um teste que utiliza biomarcadores para identificar a doença 30 anos antes dos sintomas começarem a aparecer.
Para isso, basta coletar a saliva do paciente por 13 minutos, utilizando um swab estéril com algodão na ponta. Em entrevista a EXAME, Alves disse que o uso de saliva para diagnóstico é inédito: “A ideia de utilizar a saliva veio porque, até então, a saliva era considerada um líquido sem muita utilidade – não se tinha muita crença de que poderia ser utilizada como método diagnóstico”, comentou Alves.
Inicialmente, o professor de pesquisa do SENAC e sua equipe analisaram a saliva de 54 idosos, com e sem a doença, para identificar as proteínas TAU e Beta amilóide. Os resultados das amostras dos indivíduos com alzheimer foram positivos, o que fez com que a equipe resolvesse realizar mais testes.
Em 2020, eles reunirão 180 pacientes – entre eles, 60 idosos com a doença, 60 idosos sem a doença e 60 jovens sem a doença -, e coletarão sua saliva, para depois colocá-la em processo de centrifugação e viabilizar a identificação das proteínas. Com esses resultados, será possível expandir o estudo e comprovar a presença das proteínas em idosos com Alzheimer, além de identificar os jovens que poderão desenvolver a doença. “A nossa ideia é facilitar o processo de diagnóstico, principalmente porque essas proteínas começam a se acumular no cérebro da pessoa cerca de 30 anos antes dos sintomas aparecerem”, disse Alves.
Sem investimento estatal ou bolsas de estudo, o projeto, que foi apresentado na Conferência Internacional de Alzheimer em Los Angeles em 2019, atualmente está procurando investidores e financiamento para que possa chegar até a população. Para facilitar o processo, Alves informou que está montando uma startup – que deve começar a funcionar em mais ou menos um mês – para concentrar os avanços e conseguir financiamento.
A intenção, segundo ele, é transformar o produto em uma patente e fazer com que os hospitais comecem a utilizá-lo em cerca de dois anos. Até o momento, não existem remédios ou tratamentos para o Alzheimer, apenas pesquisas para criar remédios efetivos contra a doença.