Por O Globo
LOS ANGELES – Numa época em que cada semana parece trazer um novo filme de super-herói, “Vingadores: Ultimato” tem um trunfo indiscutível. Trata-se do clímax de uma história que começou em “Homem de Ferro” (2008) e se espraiou por 21 blockbusters. Sagas assim são comuns nos gibis de onde vêm Capitão América, Thor e Hulk, mas nunca haviam chegado ao cinema com tal magnitude — e sucesso. Até o último fim de semana, o Universo Cinemático Marvel tinha arrecadado US$ 18,6 bilhões — sete vezes o que lucrou “Avatar”, maior bilheteria de todos os tempos.
A expectativa também é medida em números. Estima-se que “Ultimato” alcance US$ 1 bilhão já na primeira semana de exibição. Uma das maiores redes de cinema dos EUA, a AMC, anunciou que vai deixar 17 endereços abertos por 72 horas ininterruptas para abrigar fãs ávidos.
No Brasil, onde o filme chega na virada desta quarta para quinta-feira, o épico de 181 minutos deve ocupar 2.700 das nossas 3.556 salas (ou 80% do total). A ingresso.com informa que antes mesmo de estrear, “Vingadores: Ultimato” já é o filme mais vendido do ano na plataforma. No país inteiro, já há 1.100 sessões esgotadas.
Com o atrativo de ser um filme de super-heróis, no plural, a franquia dos Vingadores é o carro-chefe do Marvel Studios, controlado pela Disney, que há uma década domina as grandes telas. Para os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, que além de “Vingadores: Ultimato”, assinam juntos outros seis filmes da Marvel, os efeitos especiais são importantes, mas o que garante os resultados são os homens e mulheres superpoderosos.
— O que leva as pessoas para o cinema hoje geralmente são filmes com CGI (imagens geradas por computadores, na sigla em inglês) , que não seriam tão bons de assistir no celular. Isso é um ponto. Mas com a Marvel, vale a pena investir no ingresso — afirma McFeely. — Esses não são rostos que você nunca viu. As pessoas vão ver o fim de uma história que elas seguiram por dez anos e, se isso está salvando o cinema, ótimo. No fim, é tudo uma boa forma de contar histórias.
McFeely é complementado pelo parceiro Markus:
— Com relação ao predomínio dos heróis nas bilheterias, não acho que tiramos nada do mercado. Mantemos ele aberto.
Para ele, a saga dos Vingadores “não é uma coleção de greatest hits ”, e sim uma experiência que vai além da zona de conforto esperada pelo público. Um exemplo disso seria o fim trágico do último filme, “Vingadores: Guerra Infinita”, no qual metade dos protagonistas foi dizimada pelo vilão intergalático Thanos.
— Os espectadores estão preparados para irem e experimentarem mais emoções do que a média dos filmes de super-heróis oferece — afirma Markus. — Muitas vezes, você quer apenas passar duas horas em uma sala com ar condicionado. No nosso caso, as pessoas estão envolvidas em uma espécie de tensão.
Com o grand finale iminente, a dúvida é como o Universo Cinemático Marvel prosseguirá. Iniciada com o macho-alfa e bilionário politicamente incorreto Tony Stark (identidade do Homem de Ferro, vivido por Robert Downey Jr.) e expandida com heróis apolíneos como Capitão América (Chris Evans) e Thor (Chris Hemsworth), a marca deve seus maiores sucessos recentes — de público e crítica — a escolhas menos óbvias.
Com décadas de quadrinhos à disposição, a Marvel acabou redescobrindo personagens que encontram ressonância com a atual agenda da representatividade, como o monarca africano Pantera Negra e a empoderada Capitã Marvel.
O próximo personagem a ser introduzido no universo é um chinês, o mestre do kung-fu Shang-Chi, cujo filme está em desenvolvimento. A médio prazo, teremos toda a galeria de X-Men, mutantes desajustados e marginalizados que, graças à aquisição da Fox pela Disney, agora podem contracenar com os Vingadores.
Intérprete da Viúva Negra, Scarlett Johansson acredita que a sua personagem evoluiu de acordo com o “zeitgeist” dos últimos anos. Para ela, a espiã russa Natasha Romanova começou posando como “uma secretária sexy com habilidades” em “Homem de Ferro 2” (2010).
— Já no seu segundo filme (o primeiro “Vingadores”, de 2012), a Viúva Negra era parte da equipe dos meninos — completou a atriz, durante a entrevista coletiva de “Ultimato” em Los Angeles. — Acho que os fãs exigiram, não só da Marvel, mas de todos os estúdios e cineastas, que apresentassem um elenco diverso, que representasse as aspirações do público. Me senti numa festa de testosterona por muito tempo, então foi muito bacana ver outras mulheres no elenco.
Para a colega Karen Gillan, que vive Nebula, filha do vilão Thanos, “não dá para entender” por que levou tanto tempo até as mulheres serem vistas como protagonistas capazes de liderar blockbusters dos quadrinhos. Ela comemora a complexidade da sua personagem, que é uma das filhas do vilão Thanos e inicia sua saga em “Guardiões da galáxia” (2014) como uma vilã, para, aos poucos, expor um outro lado.
— Acho que, talvez, vamos ver ela virando uma heroína. Nebula sofreu abuso e foi sempre a irmã menos favorita — defende Karen. — É o tipo de coisa que afeta as pessoas por toda a vida e com a qual é possível se identificar