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PRIMEIRO SEXO GAY NA TV

TRENDING TOPICS A cena de ‘Liberdade Liberdade’ rendeu assunto: foram registradas 124 mil mensagens

Enquanto o ator português Ricardo Pereira tem as nádegas em primeiro plano, ao fundo Caio Blat tem as partes íntimas cobertas por uma pescoçuda jarra de barro, de formato fálico, sugestivo. Em seguida, muitas carícias e um beijão de tirar o fôlego, ao som dos violinos do Adaguetto de Gustav Maler, na trilha sonora. A sequência de imagens e diálogos positivos foi a primeira com sexo entre homens da história da televisão brasileira. Aconteceu na novela das 23 horas, “Liberdade, Liberdade”. A cena de cinco minutos, tem algum vai-e-vem e cara de gozo. Uau! Foi festejada como um “brado heroico retumbante” da Globo para acabar, de vez, com a homofobia. Quem sabe até aumente.
É claro que a emissora deixou vazar o conteúdo para a imprensa, com antecedência, para segurar o público até tarde da noite. Nessa altura, as crianças já deveriam estar dormindo. Toda a trama é indicada para um público de 16 anos para cima. O aspecto afetivo sobressaiu-se ao sexual, destacando a cumplicidade entre os amigos que se tornaram amantes em pleno século 19. Naquele tempo, a homossexualidade era crime punido com morte.
Para os que torcem pela causa gay, a Globo ainda ficou a dever. Almodóvar já fez mais e melhor, em Má Educação. Mas, reconheçamos o esforço. A emissora alcançou 22 pontos no Ibope, no Rio, e 17 em São Paulo, o que significa perspectiva de um bom faturamento. No twitter, 124 mil mensagens foram registradas, o que valeu o primeiro lugar no “Trending Topics”, que é a lista dos assuntos mais comentados no mundo, no dia, por esse aplicativo. Realmente, autores e atores souberam transmitir a ansiedade dos personagens. Aquele desejo, e o medo desse desejo que “não ousa dizer o seu nome”, como disse Oscar Wilde.
A partir de Liberdade, Liberdade, de Mário Teixeira, a Globo quer lançar o que chama de “plataforma de mobilização social” contra o preconceito e a discriminação, em defesa da diversidade. Vem aí assédio sexual, violência, racismo e homofobia. Chegamos a conhecer um fenômeno social quando o compreendemos como fato carregado de sentido, que aponta para outros nexos causais. Quando um fenômeno é conhecido, fica mais fácil agir para evitar que males piores aconteçam.
Nos países civilizados o homossexualismo já deixou de ser tabu há muitos anos. Em 1927, o filme Wings (Asas), premiado naquele ano, apresenta a um pudico beijo entre soldados na trincheira da Primeira Guerra Mundial. Nos anos 1960, David Bowie inaugurou o estilo andrógino com brinquinho na orelha. Mais recente, O Segredo de Brokeback Moutain, de Ang Lee, ganhou três Oscar com o complexo relacionamento romântico entre dois cow-boys, no Oeste americano. No cinema brasileiro, Lazaro Ramos e Felipe Marques demonstram suas ligações amorosas em Madame Satã. Na telinha, Luciana Vendramini e Gisela Tigre, em Amor e Revolução, chocaram a tradicional família brasileira em 2011, no SBT. Sem falar no selinho gay de Mulheres Apaixonadas, entre Paula Picarelli e Aline Morais. Em 43 anos a Globo produziu 62 novelas com personagens LGBTs.
É natural ter os do contra. Tudo o que é diferente do contexto causa discussão. Que cada um viva do jeito que se sentir melhor. Pode até incomodar o outro. Que se distancie. Aprendi que é melhor aceitar os gays. Dói menos. O que não se pode é ser juiz dos outros. Mudar o padrão vibratório de cada um.
Gostei da mensagem postada por um gaúcho “macho”, desde Bagé, onde o Brasil acaba, ou começa: “Somos todos passivos. O governo põe no nosso biroco todos os dias e tu nem percebes”.

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