Ex-presidente da Unimed se prepara para sair candidato a deputado estadual pelo Partido Novo; antes fez um balanço da sua atuação como gestor de saúde privada.
No dia 1º de abril, o médico Roberson Antequera Moron se despediu da cadeira de presidente da Unimed Bauru com muitos planos. Além de planejar novas viagens com a família, pescarias com os amigos e produzir cervejas artesanais, ele se prepara para um outro grande desafio: concorrer a um cargo público como deputado estadual pelo Partido Novo. No dia em que sentamos para conversar – início de março – Moron fez um balanço da sua gestão como presidente da cooperativa médica – cargo que ocupou de 2015 a 2018 – e fez questão de reforçar que não gostaria de falar sobre política. Uma forma de respeitar a empresa, que ele considera apolítica. “Quando eu sair daqui, eu tenho um projeto pessoal político. Vamos falar de política num outro momento”, ressaltou.
Moron fez parte da diretoria da Unimed Bauru por nove anos, como superintendente,vice-presidente e presidente. Segundo ele, seu principal papel na empresa foi interno, principalmente informatizá-la para atender a demanda, que não para de crescer. Mas foi na sua gestão que as obras do CDU – com mais de 100 consultórios médicos – foram entregues, bem como a ala de radioterapia. “É o único Hospital da Unimed do Brasil com radioterapia. Nosso hospital tem tomógrafo, ressonância, quimioterapia. Estamos investindo na nova ala de quimioterapia, que irá ficar ao lado da radioterapia, criando um centro oncológico completo”, destacou. Confira o nosso bate-papo, que aconteceu na sala da presidência.
“Hoje faltam pediatras na cidade de Bauru. Não só na Unimed, mas na rede pública e na privada. Não tem número suficiente de pediatras para atender em pronto-socorro. As pessoas esquecem, mas os médicos também têm família, não querem ficar toda noite de plantão. Por mais que a gente estimule e pague bem os plantões, existe o limite físico. É preciso entender que essa é a realidade de Bauru.”
Qual a sua avaliação da sua gestão como presidente da Unimed?
Roberson: “São três anos de mandato. Estou há nove anos na diretoria da Unimed. Este é meu terceiro mandato. Como presidente, fiquei três anos. Mas já fui superintendente e vice-presidente em outras gestões. E temos essa tradição democrática. Na verdade, a Unimed Bauru nunca reelegeu ninguém. Temos um acordo de cavalheiros: terminado o seu mandato, você deixa acontecer a renovação. Está na minha hora de abrir espaço para o pessoal mais jovem. Difícil falar da gente mesmo, mas acho que meu principal papel aqui na empresa foi interno. As pessoas enxergam muito o que aparece para fora, como o CDU, mas desde que cheguei aqui, há nove anos, meu maior trabalho foi informatizar a empresa. Trabalhei arduamente todos esses anos para criar um sistema de gestão, de troca de informações entre a Unimed, os consultórios, os médicos e o hospital. Esse sistema foi a grande inovação que a gente trouxe. Hoje a Unimed Bauru é totalmente informatizada”.
Foi na sua gestão que foi inaugurado o CDU?
Roberson: Sim, eu terminei a obra do CDU, um sonho que existia há muito tempo. Os estudos para a construção do CDU começaram no mandato do Doutor Ajax, época em que o terreno foi comprado. O Doutor Orlando começou a obra, uma construção grande. E quando eu assumi, ainda faltavam de 30% a 40% da obra para terminar. E o meu serviço foi esse: não só terminar a construção, mas colocar para funcionar, o que é bem complexo também. Tive que montar a estrutura de funcionários, prontuário eletrônico, etc.
Qual é o papel do presidente da Unimed?
Roberson: A gente tem um orgulho muito grande desse papel. São quatro diretores e o presidente tem a coordenação geral, é o líder do grupo, mas a gente divide os trabalhos. A empresa tem o ISO 9001 e a gente divide as funções. Todos os processos são profissionais. Hoje eu cuido do marketing, do departamento comercial, da relação da Unimed Bauru com as outras Unimeds – questões comerciais, pagamentos de intercâmbios, quando um paciente nosso é atendido fora e também atendemos pacientes de fora -, e assessoria de imprensa. São áreas que atuo hoje, embora a gente faça uma reunião semanal com todos os diretores e o presidente coordena todos os projetos em andamento. Na minha diretoria, o presidente teve uma função extra que foi terminar o CDU.
“Bauru vive uma situação diferente: o turismo de saúde. As pessoas vêm pra cá para se tratar, se internam no hospital e as famílias se hospedagem em hotéis e comem nos restaurantes. Nosso hospital virou um polo de atração regional. Estamos atendendo pessoas do Mato Grosso e Londrina, que vêm atrás de tratamento médico”.
E a nova gestão, como foi eleita?
Roberson: A nova gestão é basicamente constituída pelos outros três diretores que estavam na minha diretoria. Quem assume a presidência é o Doutor Emerson, que foi o vice-presidente na minha gestão. Embora exista a possibilidade de ser diferente, a gente costuma passar por fases onde as pessoas vão conhecendo a empresa, passam por um treinamento. Porque são muitas áreas, a empresa é grande, são quase 1,5 mil funcionários.
Como é administrar o Hospital da Unimed, uma referência regional?
Roberson: Isso foi intencional. Quando a Unimed construiu o hospital, em Bauru havia uma deficiência de rede. Os hospitais não eram referência, isso limitava o tipo de medicina que podíamos exercer na cidade. Era muito comum a pessoa ter que ir se tratar fora. Dessa necessidade – há mais de 20 anos – decidiram construir um hospital inicialmente pequeno, mas com maternidade. E foi crescendo. Depois foi construída uma UTI neonatal, um pronto-atendimento para emergências, um centro cirúrgico… Uma coisa foi puxando a outra. Por ser uma empresa dos médicos, ou seja, a Unimed administra o hospital, você consegue enxergar mais rápido quais as necessidades tecnológicas e de investimentos. O médico aprende uma nova técnica ou um novo tratamento que irá trazer benefícios ao nosso cliente. Se a gente não oferecer aqui, ele vai buscar em outra cidade. Nosso negócio é oferecer o melhor que a gente consegue pelo preço que nosso cliente consegue pagar. O hospital segue essa filosofia: ser o melhor hospital da região. Essa é nossa meta. Gostaríamos de ser o melhor hospital do Brasil, mas temos que enxergar a nossa realidade. A gente investe para trazer a melhor qualidade possível para nossa cidade.
Qual a mais recente aquisição do Hospital da Unimed?
Roberson: A gente não para. Agora estamos ampliando o centro cirúrgico. Serão construídas mais quatro salas. Também está em construção um centro cirúrgico ambulatorial e um novo setor de endoscopia. Então, já teremos outras quatro novas salas. Mais salas de endoscopia e colonoscopia. Já existia esse serviço no hospital, mas agora vamos construir um espaço específico para isso. No começo da minha gestão, a gente inaugurou a radioterapia, algo pioneiro. É o único Hospital da Unimed do Brasil com radioterapia. Nosso hospital tem tomógrafo, ressonância, quimioterapia. Estamos investindo na nova ala de quimioterapia, que irá ficar ao lado da radioterapia, criando um centro oncológico completo. Essa obra deve ficar pronta até o fim deste ano. A gente dimensionou o hospital para a demanda de Bauru, mas as pessoas da região, reconhecendo a nossa qualidade, passaram a vir se tratar aqui. Isso sobrecarregou o hospital. Hoje, na nossa UTI, metade dos pacientes não é de Bauru. No total, são mais de 20 leitos. Às vezes, a gente ouve: ‘por que o hospital não amplia?’. Porque custa muito dinheiro. Você acaba de fazer um investimento e não consegue medir o quanto isso vai atrair de gente de fora. Então, muitas vezes você faz o investimento para resolver o problema enfrentado agora e seis meses depois isso acaba virando um novo problema. Atendemos por mês, no Hospital da Unimed, cerca de 8 mil crianças no PA Infantil e 8 mil pessoas no PA. Trabalhamos com 95% de ocupação. Bauru vive uma situação diferente: o turismo de saúde. As pessoas vem pra cá para se tratar, internam no hospital, as famílias se hospedagem em hotéis, comem nos restaurantes. Nosso hospital virou um polo de atração regional. Estamos atendendo pessoas do Mato Grosso e Londrina, que vêm atrás de tratamento médico.
“Nosso negócio é oferecer o melhor que a gente consegue pelo preço que nosso cliente consegue pagar. O hospital segue essa filosofia: ser o melhor hospital da região. Essa é nossa meta. Gostaríamos de ser o melhor hospital do Brasil, mas temos que enxergar a nossa realidade. A gente investe para trazer a melhor qualidade possível para nossa cidade”.
Há reclamações sobre a demora no pronto-atendimento do Hospital da Unimed. Por que isso acontece?
Roberson: Há muita gente da nossa região para ser atendida, mas há também – não posso deixar de falar – o mau uso do pronto-atendimento. O brasileiro tem o hábito errado de ir ao pronto-atendimento para resolver problemas que não são emergências médicas, como uma troca de receita, um atestado ou por ter um sintoma banal, como uma gripe. Isso que estou falando é muito estudado. Cerca de 80% das consultas em pronto-atendimento não são emergência. A gente estuda e classifica todo atendimento do hospital. Demorou para ser atendido porque você nem deveria estar lá. Tanto que as pessoas que têm um infarto, um derrame ou um acidente de carro não esperam nada.
Existe uma classificação do atendimento na recepção do hospital?
Roberson: Exatamente. As pessoas que têm risco de vida são atendidas assim que chegam ao hospital. É a classificação de risco. Tem uma sala de emergência lá. Uma pessoa que chega com hemorragia ou fratura, nem passa pela triagem, vai direto para a emergência. Passa na frente. Só que atrasa a fila de quem está aguardando na sala de espera. Eu compreendo a pessoa que vai ao pronto-atendimento, não está de má-fé, precisa resolver um problema. Ela até pode esperar dois ou três dias, mas se ela não tiver a perspectiva de resolver o problema – marcando uma consulta – ela vai no PA. O que fizemos na minha gestão? O Doutor Agostinho, nosso superintendente, criou um projeto chamado Consulta Fácil. Você liga na Central de Atendimento e consegue o médico da especialidade que está precisando com a maior brevidade. Ao ligar, uma equipe vai encaixar essa consulta que você precisa o mais rápido possível. Isso desafoga o pronto-socorro. Outra coisa importante foi o CDU, que tem mais de 100 consultórios, distribuídos em especialidades variadas. Isso tem agilizado o atendimento de consultas e também desafoga o pronto-atendimento. Esse hábito do brasileiro de resolver imediatamente seus problemas de saúde esbarra na questão de limitação. Hoje faltam pediatras na cidade de Bauru. Não só na Unimed, mas na rede pública e na privada. Não tem número suficiente de pediatras para atender em pronto-socorro. As pessoas esquecem, mas os médicos também têm família, não querem ficar toda noite de plantão. Por mais que a gente estimule e pague bem os plantões, existe o limite físico. É preciso entender que essa é a realidade de Bauru. E tentamos trabalhar da melhor maneira dentro dessa realidade.
De que forma a crise econômica atingiu a Unimed Bauru?
Roberson: Atingiu muito porque vários clientes são empresas, que demitiram e essas pessoas perderam o plano de saúde. Isso impacta porque o custo fixo da Unimed é grande. Temos uma estrutura de PA e de hospital. Uma coisa que ouço as pessoas dizerem e que me deixa muito triste: ‘pago plano e não uso’. Usa sim, tem 30 médicos de plantão 24 horas, 365 dias por ano. E tem um custo. O hospital tem energia elétrica, papel, água, funcionários, estoque de medicamentos… E quando há uma crise que reduz o número de clientes o impacto é muito grande. Tivemos uma redução perto de 5% no número de clientes no período mais agudo da crise, em 2016. Graças a Deus já está em fase de recuperação plena. Melhorou e estamos atingindo os números que tínhamos antes da crise. Não vejo ainda um aquecimento da economia, mas uma lenta recuperação. E a empresa sofre: menos dinheiro, menos capacidade de investimentos. Tem que remanejar, mas aqui já fazemos planejamento para mais de 10 anos. O CDU, por exemplo, tinha recursos para terminar as obras independente da crise financeira.
Como o senhor avalia a saúde pública em Bauru?
Roberson: Tudo depende de como você vai comparar. As pessoas não gostam muito, mas a saúde no Brasil é boa comparada a muitos países. Isso não quer dizer que é perfeita. Existem falhas e algumas são estruturais e outras de gestão. Prefiro não colocar meu dedo na saúde pública porque sou um gestor privado, por enquanto. Acho que
tem coisas que dá para fazer uma gestão melhor, mas tem falhas que são estruturais. Você pode colocar o melhor gestor do mundo ali que não vai resolver porque criou-se situações na Constituição de 88 que são fantasiosas, impossível acesso ilimitado a qualquer necessidade. Isso para qualquer assunto, não só para a saúde. E tudo tem limite no mundo real. E a Constituição colocou que a saúde é um direito do cidadão e não falou de onde vem o dinheiro, quem vai pagar por isso e faltou combinar com a natureza porque a própria vida é limitada. Então a hora que se diz que não tem limite no seu gasto e no seu direito, mas no mundo real tem limitações de custo, começam a surgir problemas que temos hoje. A pessoa vai fazer um transplante no exterior bancado pelo SUS e falta, às vezes, Novalgina no pronto-socorro para tratar uma febre. Não tem gestor que consegue resolver se a gente não decidir – aí é uma opinião pessoal – quais são os limites. Em algum momento alguém vai ter que falar sério e dizer o que deve ser ser feito para que atinja a maior quantidade de pessoas naquilo que é o básico. E situações de exceção devem ser tratadas como exceção. Não pode simplesmente entrar com uma liminar e se tratar em Nova York. Gostaria que isso fosse possível para todo mundo, essas coisas estão acontecendo no Brasil só para quem tem bons advogados. Quem paga é quem fica sem a Dipirona no posto de saúde. É difícil falar isso, mas é verdade: o cobertor é curto.
E Bauru?
Roberson: Acho que Bauru tem uma saúde boa, acredito que a vinda de duas faculdades de medicina algumas deficiências estruturais, de parte acadêmica, vão se corrigir. Bauru vai ganhar muito. Teremos bons professores universitários, elevando o nível de qualidade do atendimento em Bauru. Os que trabalham aqui vão ter que perseguir um aperfeiçoamento para oferecer aos seus clientes a melhor qualidade possível. Todos ganham. E quem mais ganha são os clientes, que terão um atendimento melhor em Bauru. Saúde de Bauru tem deficiências, eu sei, coisas tristes acontecendo, pessoas desassistidas, mas as perspectivas de futuro são boas”.
“Cerca de 80% das consultas em pronto-atendimento não são emergência. A gente estuda e classifica todo atendimento do hospital. Demorou para ser atendido porque você nem deveria estar lá. Tanto que as pessoas que têm um infarto, um derrame ou um acidente de carro não esperam nada”.