Município tem 160 casos confirmados e nove mortes em decorrência da Covid-19
Preocupada com o descaso da população de Bauru, que insiste em ir às ruas mesmo com as recomendações das autoridades para manter o isolamento social, a bauruense Maria Ines Faneco resolveu agir. Ela usou o muro da própria casa, em um cruzamento movimentado da Vila Falcão, para alertar sobre a importância de conter o avanço do novo coronavírus. Para isso usou spray vermelho e preto e pichou uma mensagem de impacto: Quantas pessoas terão que morrer para que você fique em casa?. A foto foi divulgada em uma rede social e recebeu dezenas inúmeras reações de apoio.
“As pessoas estão brincando com a morte. Muitas me dizem ‘mas Bauru só tem nove mortes’. Como assim? Quantas pessoas eles querem que morram? Já temos problemas com a falta de leitos na cidade. Se 30, 40, 50 pessoas ficarem doentes não vai ter onde por. Por mais que façam hospitais de campanha, não vai ter aparelhos para todo mundo e nem profissionais pra cuidar de todas essas pessoas”, avalia.
O índice de isolamento social em Bauru atingiu 42% no sábado (09), segundo o Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP) do Governo do Estado. Percentual muito longe do considerado ideal, de 70%, e abaixo do mínimo de 55% estipulado como nova meta pelas autoridades em saúde. Bauru também fica abaixo da média paulista que atingiu 50% no sábado. O sistema analisa os dados de telefonia móvel para indicar tendências de deslocamento e a pontar a eficácia das medidas de isolamento social.
Aos 59 anos, Faneco trabalha como pipoqueira, mas teve que cancelar todos eventos – como aniversários e chás de bebês, que havia agendado até agosto deste ano depois que o comércio foi fechado e as atividades consideradas não essenciais foram suspensas, seguindo decretos estaduais e municipais. Ela relata que tem conseguido pagar as contas da casa e se mantido com a ajuda de familiares e amigos.
Mas o medo da pandemia não a afastou de desenvolver ações solidárias. Há anos ela integra um grupo denominado Esquadrão do Bem que arrecada e distribui donativos em comunidades carentes de Bauru. A pipoqueira explica que, seguindo as orientações das autoridades em saúde, muitos integrantes que fazem parte do grupo de risco não puderam continuar. Mas o movimento ganhou outros colaboradores.
“No começo eu fiquei apavorada com essa doença e comecei a ficar doente. Recebia muitas mensagens de pessoas pedindo ajuda e eu dentro de casa sem poder ajudar. Não tinha como parar esse trabalho”, conta.
Antes da pandemia, 520 famílias eram assistidas pelo grupo e agora esse número subiu para 750. Segundo ela, são trabalhadores informais que ficaram desempregados durante a pandemia, que moram em locais sem infraestrutura e que pedem ajuda para sobreviver. “O pessoal está desesperado de fome. Se está ruim pra gente, imagina pra quem mora em um barraco com quatro ou cinco filhos”, relata. Neste domingo alimentos foram distribuídos pelos voluntários na comunidade do Parque das Nações e, no dia anterior, na do Parque Jaraguá. Todos usavam máscaras e mantinham distância mínima entre eles e os assistidos para evitar o contágio.
A corrente do bem e o número de doações a surpreendeu. Mais de 670 cestas básicas já foram distribuídas com ajuda de empresas e parceiros. “Apareceram muitos doadores. Até gente que criticava o nosso trabalho veio ajudar. Eu sempre convido as pessoas a conhecerem nosso trabalho. Todo mundo tem que ir numa favela para ver a realidade, não adianta doar um caminhão de comida”, contou.
De acordo com o levantamento mais recente divulgado pela Prefeitura de Bauru, neste domingo (10) o município somava 160 casos confirmados de coronavírus, além de nove mortes. Outros 38 pacientes aguardam os resultados de exames e 82 pessoas são consideradas curadas.