Tendência é reforçada por queda da ocupação dos leitos de UTI, da média diária de casos e dos atendimentos da rede municipal
Redução da taxa de ocupação das UTIs, diminuição do volume de atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios nas unidades básicas de saúde e na rede de urgência e emergência do município e ligeira queda da média diária de novos casos de Covid-19. Esta tríade de estatísticas começa a dar indícios de que a pandemia em Bauru pode estar ingressando em sua curva decrescente.
A análise é feita pela Secretaria Municipal de Saúde, que salienta tratar-se, por enquanto, apenas de uma tendência de recuo desta pandemia sem precedentes na cidade, que contabiliza quase 15 mil pessoas infectadas e 240 mortes. “Todos os dados têm sinalizado para isso, mas ainda não é possível ter certeza. O que estamos observando é que estamos em uma estabilidade, com ligeira tendência de queda”, pondera o diretor do Departamento de Saúde Coletiva do município, Luiz Cortez.
Ele salienta, contudo, que o comportamento da população – e mais um feriado prolongado está por vir, trazendo um prenúncio de novas aglomerações – interfere diretamente nos números, que podem voltar a crescer. Portanto, os cuidados relacionados ao distanciamento, uso de máscara e de álcool em gel não devem ser abandonados.
“Os casos podem voltar a aumentar, mas, provavelmente, não no pico que já chegamos anteriormente. A preocupação é a situação ir melhorando e as pessoas começarem a relaxar cada vez mais, resultando em novo aumento de número de infectados e mortes”, acrescenta.
Para a análise, a Saúde de Bauru considerou algumas variáveis, como a média de casos diários de Covid-19, a chamada média móvel, que oscilou entre 156 a 160 novos casos por dia de 19 de setembro a 9 de outubro e, agora, está em cerca de 128 casos. Trata-se, portanto, de uma redução bastante significativa.
Vale destacar que a média desta última semana não considera os 519 casos positivos divulgados no dia 19 de outubro. Estes fazem parte do inquérito sorológico que já vinha sendo desenvolvido há algum tempo pela Prefeitura de Bauru em parceria com o Instituto Butantan, mas foram notificados juntos, em um mesmo dia, pela Secretaria Municipal de Saúde.
ATENDIMENTOS
Além da média móvel, um outro indicador representativo é a redução do número de pacientes com sintomas de doenças respiratórias atendidos nas unidades básicas de saúde e unidades de urgência de Bauru. Em outubro, que já está praticamente no fim, foram 4.087 pessoas atendidas, número 43,8% menor do que as 7.278 de setembro.
Em meses anteriores, o volume de pacientes com sintomas respiratórios que procuraram a rede de saúde municipal também foi alto: foram 6.484 atendidos em agosto e 7.192 em julho. “Este é o dado mais sensível que a gente tem, porque mostra um aspecto da pandemia quase em tempo real. E, como a Covid-19 é a principal doença respiratória atualmente, podemos inferir, mais uma vez, que estamos com uma transmissão menor da doença”, pontua Cortez.
Ocupação nas UTIs do HE continua em queda
Da mesma forma que os atendimentos na rede municipal diminuíram, a taxa de ocupação de leitos de UTI para a Covid-19 do Hospital Estadual segue em queda. Há 29 dias, o índice não chega a 100%.
Além disso, desde o dia 29 de setembro, o patamar se manteve sempre inferior a 90% e, desde 13 de outubro, abaixo de 80%. Neste sábado (24), o índice era de 68%, com ocupação de 38 dos 52 leitos, sendo 23 pacientes moradores de Bauru e 15 da região.
“A ocupação dos leitos de UTI do Hospital Estadual de Bauru vem diminuindo gradativamente”, pontua a Secretaria de Estado da Saúde, por meio de nota. Ainda de acordo com a pasta, o HE também conta com 58 leitos de enfermaria, que estão com taxa de ocupação de 50%. Já no hospital de campanha instalado no Hospital das Clínicas, há 40 leitos de enfermaria destinados à Covid-19, com taxa de ocupação de 18%.
Taxa de retransmissão em alerta
Quanto mais as pessoas permanecem em contato umas com as outras, maiores são as chances de a taxa de retransmissão (Rt) também aumentar. Atualmente, em Bauru, este índice é de exatamente 1, patamar considerado o limiar para definir quando a pandemia ainda está fora de controle.
Com o indicativo correspondente a 1, significa que cada pessoa infectada tem potencial para transmitir o vírus para mais uma. Acima de 1, a tendência é de que o número de infectados volte a aumentar em progressão geométrica. Se o Rt é 2, por exemplo, cada 100 pessoas infectadas podem infectar outras 200. Estas 200 podem infectar 400 e assim por diante.
“Mas o Rt em 1 ainda é muito alto e requer atenção. O índice ainda precisa abaixar muito mais para a gente chegar a uma situação um pouco mais confortável e segura”, frisa Luiz Cortez. O diretor do Departamento de Saúde Coletiva salienta, ainda, que é um equívoco defender a estratégia de esperar que o controle da Covid-19 seja alcançado com a chamada imunidade de rebanho, ou imunidade coletiva.
Dentro da conceituação científica, ela é atingida quando determinada porcentagem de indivíduos é infectada e fica imune, momento em que esta enfermidade tende a parar de se alastrar. “É uma ilusão contar com isso, até porque a gente não sabe, até agora, por quanto tempo uma pessoa infectada e que se curou fica imune à Covid-19”, pontua, destacando que vários casos de reinfecção estão sendo registrados ao redor do mundo.
A estimativa atual, considerando as subnotificações, é que entre 150 mil e 200 mil moradores de Bauru já tenham sido infectados pelo coronavírus. O cálculo considera a projeção feita pela USP. De acordo com o estudo, o número de contaminados no País deve ser de 10 a 14 vezes maior do que os registros oficiais.