A busca por uma fonte de renda frente ao desemprego provocou o aumento da concorrência entre profissionais que trabalham com transporte de passageiros por aplicativo em Bauru. Devido ao grande número de motoristas trabalhando em empresas como Uber e 99, um movimento de migração entre cidades se intensificou entre estes profissionais, pouco mais de um ano depois do início da operação deste tipo de serviço no município.
Muitos saíram de Bauru para buscar passageiros em centros urbanos maiores, como São Paulo e Ribeirão Preto, ou em cidades turísticas, enquanto outros viajam periodicamente de cidades menores da região para Bauru com o objetivo de ganhar algum dinheiro. Não há estatísticas oficiais, mas a estimativa é de que haja, atualmente, pelo menos 1,5 mil profissionais atuando neste ramo no município.
O mercado saturado fez com que Sérgio Gouveia, 41 anos, decidisse concentrar a maior parte de suas atividades em São Paulo. Motorista de Uber desde quando o serviço foi implantado em Bauru, em março de 2018, ele diz que, na Capital, os profissionais estão arrecadando pelo menos o dobro do que faturam os que permanecem em Bauru.
“Se, em 14 horas de trabalho, uma pessoa ganha R$ 200,00 em Bauru, em São Paulo vai ganhar de R$ 450,00 a R$ 500,00”, conta. Com a vantagem, Gouveia optou por permanecer mais de 90% do tempo na Capital, onde se acomoda em hostels ou casa de parentes.
Arquivo pessoal |
Jovina de Souza mora em Jaú, mas viaja para trabalhar em Bauru, Ribeirão Preto e Piracicaba, onde permanece uns dias |
Quando retorna a Bauru para rever a família, incluindo esposa e filhos, fica por cerca de três dias na cidade, sem deixar de trabalhar como motorista de Uber. Para viabilizar financeiramente esta logística, reduz os custos das viagens de ida e volta oferecendo carona em aplicativos específicos, onde consegue dividir as despesas com mais três pessoas.
“É o esquema que a maioria faz. Conheço alguns que ficam menos tempo lá por causa da família. Trabalham em São Paulo durante a semana e ficam em Bauru todo sábado e domingo”, acrescenta.
FATURAMENTO EM QUEDA
Luan Henrique Cabral Pacheco, 26 anos, chega a ficar um mês na Capital, onde, até então, nunca havia trabalhado. Tomou a decisão ao ver seus rendimentos minguarem no final do ano passado: para ganhar os cerca de R$ 150,00 habituais por 10 horas de trabalho, precisou aumentar a carga de trabalho para 14 horas.
“O faturamento caiu muito. Comecei em São Paulo em novembro de 2018. O trânsito é estressante, mas fui porque os ganhos são maiores. Hoje, trabalho das 18h às 2h da madrugada e ganho de R$ 250,00 a R$ 300,00 por dia”, reforça.
Sérgio e Luan contam que muitos colegas de profissão que ficaram em Bauru estão enfrentando dificuldades. Parte deles alugou veículos para trabalhar com transporte por aplicativo e, agora, está devolvendo os carros porque não consegue mais equilibrar receitas e despesas.
Alguns, contudo, continuam migrando de municípios vizinhos para Bauru em busca de melhores oportunidades. É o caso da moradora de Jaú Jovina Maria Ferreira de Souza, 55 anos, que trabalha como motorista de Uber não apenas na “Cidade Sem Limites”, mas também em Ribeirão Preto e Piracicaba.
“Sempre que tem uma corrida para levar passageiro para estas cidades mais distantes, alugo quartos em casa de estudante pela Internet e aproveito para ficar uns três dias. No restante do tempo, quando está ruim em Jaú, parto para Bauru e fico três, quatro dias também, na casa de parentes”, conta, revelando que, aqui, chega a trabalhar por 18 horas seguidas.
Segundo Jovina, apesar de a Uber operar em Jaú, a demanda de clientes por meio do aplicativo é baixa, já que a cidade é pequena e boa parte das pessoas – incluindo passageiros e motoristas – se conhece. “Elas preferem chamar no privado, direto no número do celular, o que acaba prejudicando quem trabalha pela Uber”, aponta.
Limite
Para o motorista Sérgio Gouveia, a saturação do mercado de trabalho no ramo de transporte de passageiros por aplicativo poderia ser corrigida se as empresas limitassem a quantidade de veículos em atividade em Bauru, de maneira proporcional à demanda pelo serviço. “Esta medida drástica, por exemplo, foi tomada em Nova York”, argumenta.
Em nota, a Uber alegou que a eficiência do sistema da empresa é baseada “na flexibilidade e na tecnologia para equilibrar a oferta e demanda de viagens”, já que grande parte dos motoristas parceiros utiliza a Uber como fonte complementar de renda, dirigindo alguns dias por semana ou algumas horas no dia. A Uber informou ainda que a ferramenta é uma forma de “gerar renda de forma fácil, prática e acessível a todos” e que “limitar o número de motoristas parceiros restringiria o acesso das pessoas à plataforma, gerando ineficiência e impedindo a sua viabilidade”.
De Bauru para Itajaí
Foi por meio de amigos que trabalham com transporte de passageiros por aplicativo na cidade turística de Itajaí, em Santa Catarina, que Estela Fernanda de Oliveira Cuco, 24 anos, decidiu recomeçar a vida em um novo estado brasileiro. Há cinco meses, ela saiu de Bauru para atuar como motorista de Uber em terras catarinenses, onde consegue alcançar o dobro do faturamento que acumulava no Interior paulista.
“Vim sozinha, sem ninguém da família, mas consegui me adaptar rapidamente. As pessoas são muito receptivas e tem sido uma experiência bem legal. Moro em Itajaí e vou todos os dias para Balneário Camboriú, que é uma cidade turística vizinha bastante conhecida e movimentada, mas com boa qualidade de vida, muito diferente de São Paulo, por exemplo”, observa.
Ao decidir mudar de rumos, Estela conta que conseguiu realizar um sonho antigo: voltar a estudar. Neste ano, ela começou a cursar psicologia em uma universidade privada de Itajaí.
Fonte: https://m.jcnet.com.br/Geral/2019/03/motoristas-por-aplicativo-migramde-cidade-em-busca-de-mais-clientes.html?utm_source=Whatsapp&utm_medium=referral&utm_campaign=Share-Whatsapp