É a mística que transforma o agir cristão em missão e, ao mesmo tempo, é ela que faz a missão acontecer. A missão é o que se vê. É a mística percebida, concretizada, encarnada na realidade. Já a mística é o que dá motivo e sentido verdadeiro e contínuo à missão. As ações e vivências dos cristãos devem ser entendidas à luz da mística. Fora desta as ações se empobrecem, perdendo a especificidade cristã. Através da mística o espírito do evangelho é interiorizado e se torna princípio de ação. Ação que busca o agir excelente (melhor possível), é um imperativo.
O dom do Conselho contribui para a necessária passagem da contemplação à ação prática, aplicando em situações concretas a inspiração recebida de Deus, possibilitando a inserção dos valores evangélicos em todas as situações da vida pessoal e comunitária. Diante da complexidade das situações, o Conselho é indispensável. Ao Conselho deve-se associar o dom da Fortaleza que confere constância na ação realizada em condições quase sempre complexas e adversas.
Através da mística é possível fazer duas experiências e conjugá-las: janela e espelho. Da janela vê-se a realidade. O segundo passo é se ver inserido na realidade, ou seja, o que a realidade me fala e quais são os seus apelos e interpelações. A partir destes dois momentos é possível inserir-se na realidade. Dessa maneira a observação transforma-se em solidariedade concreta e comprometimento.
Toda mística se constrói sobre o humano e se manifesta a partir do humano. O homem por ser capaz de Deus tem o desejo de unir-se a Ele. Para se chegar à unidade do homem com Deus, existem duas vias, segundo L. Boff: “Uma consiste na mística do desnudamento do mundo, do esvaziamento exterior e interior. Busca Deus para além de qualquer realidade. A outra via é a da mística da inserção no mundo. Penetra-se nas realidades que nos toca viver. A partir da busca insaciável de Deus o mundo se sacramentaliza como lugar de sua presença”. Portanto, o místico não é alguém excepcional, mas um cristão que vive sua fé no cotidiano, de modo intenso e engajado. A mística garante que o agir seja ético e excelente, constante e gratificante. Ela é sempre militante, em movimento, uma espécie de água corrente que por onde passa produz vida. Sem mística há estagnação e conformismo.