Deputado estadual por 20 anos, Pedro Tobias decide não disputar as próximas eleições para coordenar em São Paulo a campanha presidencial de Geraldo Alckmin.
Nosso encontro para esta entrevista não aconteceu rapidamente. Antes de ficar frente a frente com o deputado estadual Pedro Tobias, 70 anos, conversei bastante com seu assessor José Eduardo Amantini, ex-prefeito de Itapuí. Não houve nenhuma imposição, apenas alinhamento de informações, uma forma de me situar na nova fase em que se encontra um dos políticos mais queridos e conhecidos de Bauru e região. Na ocasião, me foi entregue também uma lista com valores e obras que o deputado conquistou para a cidade desde 2001. A mais recente foi a reforma da Maternidade Santa Isabel (R$ 20 milhões) e a instalação da tão sonhada Faculdade de Medicina da USP na cidade.
No dia marcado, fiquei aguardando o momento de entrar em sua sala relembrando a única vez que o entrevistei. Foi na década de noventa, quando ele exercia o cargo de vereador na Câmara Municipal de Bauru. Naquela época, fiquei confusa porque o sotaque libanês era muito acentuado. Sofri, mas sobrevivi! Desta vez, sabia que o sotaque não seria problema. E não foi. Na minha frente, a mesma postura de 20 anos atrás. Um político que responde a todas as perguntas sem titubear, que mantém no olhar e nas palavras a mesma paixão por Bauru e pelos bauruenses. É um apaixonado pela Cidade Sem Limites.
Um dos fundadores da Organização Médicos sem Fronteiras, Pedro Tobias é considerado pela família e amigos um idealista. Apesar da agenda apertada com a política, nunca deixou de atender como mastologista e ginecologista, em sua maior parte pelo SUS. Por uma cirurgia, lhe é repassado R$ 94,00. Todo sábado dá expediente no seu escritório na cidade, onde recebe políticos, simpatizantes, eleitores e amigos para definir estratégias, encaminhar solicitações, beber café e conversar sobre amenidades e assuntos sérios. Nascido no Líbano, formado em medicina na França e bauruense de coração desde 1979, quando chegou aqui, o deputado encerra este ano sua jornada na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Amigo pessoal há décadas do ex-governador Geraldo Alckmin – um frequenta a casa do outro em São Paulo – Pedro Tobias sabe que sua atual missão é ajudar o candidato do PSDB chegar à Presidência da República. Serão meses de trabalho intenso, com viagens, reuniões e tudo mais que envolve uma campanha desse porte. “Vou coordenar a campanha dele no Estado de São Paulo”, disse. E se a missão for concluída com sucesso, o senhor vai para Brasília? “Não, não… Vou ficar por aqui… Vamos elegê-lo primeiro. Isso é o mais importante”, despista. Convido você, leitor, seja qual for a sua opinião e partido, que leia com atenção a entrevista a seguir.
“Sempre acho que poderia ter feito mais. Mas o que mais me deixou feliz foi a vinda da Faculdade de Medicina da USP para Bauru. Maior e melhor prêmio para Bauru. Tanto eu quanto o governador Geraldo Alckmin ficamos muito felizes com essa conquista para Bauru e região”.
O senhor vai se candidatar novamente a deputado estadual?
Pedro Tobias: Agradeço Bauru e região, acho que meu ciclo já acabou depois de 30 anos na política. Devo abrir espaço para candidatos novos. Eu fiz a minha parte e vou ficar só com a medicina. É natural essa renovação, é bom gente nova, mais animada. Eu fiz minha parte. Já fiz 70 anos, acho que mereço um pouco de descanso.
O senhor vai se aposentar da política?
Pedro Tobias: Não vou me aposentar da política. Político continua sempre político. E vou continuar na medicina, tocando tudo pra frente.
Por que só agora deu certo a vinda da Faculdade de Medicina para Bauru?
Pedro Tobias: Nos últimos 20 anos, eu sempre cutuquei para que isso acontecesse. Aconteceu agora por uma questão de oportunidade. Vários fatores ajudaram. O secretário da saúde foi parceiro. Geraldo Alckmin também ajudou. A prefeitura ajudou. Todo mundo fez sua parte. Mas o mais importante foi a ajuda do governador e do reitor da USP. Acho o Zago (Marco Antonio Zago) foi excelente parceiro, amigo de Bauru. Também a Doutora Cidinha (ex-diretora da FOB – USP, Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado). Antigamente os dentistas eram contra. Desta vez, ela foi favorável. Eu coordenei tudo isso e foi a melhor vitória para Bauru e região. Mais uma faculdade de medicina da USP no Estado de São Paulo.
Como o senhor avalia a situação da saúde em Bauru?
Pedro Tobias: O que está na Constituição – saúde para todos, dever o Estado – é balela. Isso precisa mudar. Saúde pública devia ser para pobre. Quem tem condição vai pagar convênio porque não temos dinheiro para cuidar de todo mundo. Bauru é a única cidade no Brasil, acredito eu, que tem seis hospitais e agora vai ter mais um hospital com a chegada da Faculdade de Medicina. E a turma xinga o governo do Estado, xinga o Geraldo. É um saco sem fundo. E tudo que é de graça não se dá valor. Excelente saúde em Bauru. Lógico, a região toda que opera pelo SUS manda para Bauru. Esse é o X da questão. Veja o caso da Maternidade Santa Isabel. Atendimento de primeiro mundo. Nível melhor que o Sírio Libanês, que não tem três médicos que ficam de plantão, obstetra, dois anestesistas e um pediatra. E o povo reclama. Hospital de Base, tanta gente fala mal. Se amanhã, alguém da minha família tiver alguma emergência, eu levo para o Hospital de Base. Acho saúde de Bauru excelente. Lógico, há falta de vaga porque os hospitais são regionais. Agora o Hospital de Base será municipal, quem sabe melhora a situação para o povo de Bauru nos próximos anos”.
Qual a avaliação que o senhor faz do governo do Clodoaldo Gazzetta?
Pedro Tobias: Não é meu papel, não sou vereador aqui, mas como todos os prefeitos, ele também está passando por dificuldades diante da situação econômica do país. Porque o governo do PT quebrou o Brasil. Hoje estão quebrados os governos federal, estadual e municipal. Olha, poucas cidades estão pagando salários. Bauru está pagando, assim como o governo do Estado. Bauru não consegue fazer obra nenhuma. Prefeito devia falar a verdade para a população. Eu troquei ideia com o Gazzetta, que devia prestar contas à sociedade em praça pública. Dizer quanto recebeu e onde está gastando. Gazzetta tem boas intenções, mas a situação financeira dele não é boa, como em todo lugar.
“Aécio já foi! É carta fora do baralho. Uma pena porque trabalhamos muito para ele, fizemos grandes reuniões aqui para recebê-lo.”
O senhor é a favor da reforma da previdência?
Pedro Tobias: Lógico, e urgente! Se não faz agora, no futuro haverá dificuldade para pagar aposentados. Precisa fixar teto salarial. Muita gente se aposenta com salário de R$ 18 mil, não tem previdência que aguente isso. Estou pessimista para o futuro se nós, classe política, não assumir o seu papel. Não é só agradar eleitor para ganhar eleição porque eleitor gosta que político dá favor a ele.
E a campanha do Geraldo Alckmin para presidente?
Pedro Tobias: Nosso candidato Geraldo Alckmin a presidente da república é fato consumado, existem algumas formalidades que vamos fazer. Bauru é especial para Geraldo Alckmin. Qual outro candidato fez por esta cidade o que ele fez? Hospital Estadual, avenida Nações Norte… E tem gente que não vota nele. Paciência… Mas o nosso candidato, se Deus quiser, será o novo presidente da república.
Como está a situação do PSDB em Bauru?
Pedro Tobias: Está bem, temos candidato próprio. Caio Coube sairá deputado estadual. Já foi candidato em outras ocasiões e é o melhor quadro do momento.
E a crise no PSDB, como o senhor enxerga?
Pedro Tobias: Eu vejo democracia porque nosso partido não tem cacique que fala uma coisa e acabou o assunto. Sou presidente do diretório estadual do partido. Quando tem reunião, qualquer militante pode levantar o dedo, falar, me xingar, discordar de mim. Isso é democracia! Partido que não tem essa democracia, o chefe fala e o resto cala a boca. Nós temos problemas? Sim!.
“Não é meu papel, não sou vereador aqui, mas como todos os prefeitos, ele também está passando por dificuldades diante da situação econômica do país. Porque o governo do PT quebrou o Brasil. Hoje estão quebrados os governos federal, estadual e municipal.”
E a situação do senador Aécio Neves no partido?
Pedro Tobias: Aécio já foi! É carta fora do baralho. Uma pena porque trabalhamos muito para ele, fizemos grandes reuniões aqui para recebê-lo. Alguém que faz coisa errada vai pagar. Não sei se ele sairá candidato a reeleição para o Senado. Minas é longe de nós. Espero que saia. Mas uma pena, jogou fora o futuro dele.
O PSDB terá candidato próprio para o governo de São Paulo?
Pedro Tobias: Sem dúvida! Não tem chance nenhuma de não termos candidato. Um partido que está há 30 anos no governo, que saneou o Estado – único Estado hoje que está andando – elegeu a maioria dos prefeitos, fica sem candidato? Fica sem candidato se me derrubar da presidência do diretório estadual. Temos vários nomes.
Qual a sua avaliação sobre o João Dória?
Pedro Tobias: É um excelente gestor. No começo, esteve apavorado, quis subir muito rápido, foi correndo para ser candidato a presidente da república. Mas voltou para São Paulo e está prefeitando direto. Está se recuperando da caída que teve. Como falei, todos os prefeitos enfrentam dificuldades financeiras, pequenas e grandes cidades. Quando alguém chega no poder, aumenta o desgaste dele. Antes de chegar ao poder, diz que faz. Mas depois que assume, o povo vai cobrar. Mas João Dória é uma nova geração e preparado para sair candidato a governador. E ganha com os pés nas costas”.
Como o senhor enxerga as eleições 2018?
Pedro Tobias: Virou um radicalismo entre Lula e Bolsonaro. Agora como o Lula não pode sair candidato, acredito que a população vai parar com esse radicalismo. Bolsonaro cai sozinho, não me preocupa. Começou a se esvaziar sozinho, não precisa de oposição.
E o governo Temer?
Pedro Tobias: Na parte administrativa é ruim, está tentando fazer muitas coisas, fez a reforma trabalhista – que é bom para o país. Mas politicamente e com tudo o que aconteceu, não dá para defender. Vai terminar o mandato e responder para a justiça se for culpado.
Qual a mensagem que o senhor deixa para seus eleitores de Bauru e região?
Pedro Tobias: Não vota com emoção. Vota com a razão. Pensa um pouco. Não adianta radicalismo de um lado e de outro. Vota em alguém experiente, que já fez alguma coisa. Se você descobrir que alguém da sua família tem câncer, você leva para que médico? Para um médico, experiente, que já operou, ou para aquele que nunca operou? Médico se erra, mata um. Mas se você escolhe um presidente da república errado, ele mata muita gente indiretamente.
“Não vota com emoção. Vota com a razão. Pensa um pouco. Não adianta radicalismo de um lado e de outro. Vota em alguém experiente, que já fez alguma coisa. Se você descobrir que alguém da sua família tem câncer, você leva para que médico? Para um médico, experiente, que já operou, ou para aquele que nunca operou? “