Mesmo sem comorbidades, pacientes com vícios podem ter Covid agravada

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Infectologista Taylor Toscano Olivo / Fonte: Samantha Ciuffa/JC Imagens

Consumo de álcool, cigarro, drogas ilícitas e anabolizantes são fatores de risco para a piora da doença, alertam especialistas

Apesar de não serem considerados comorbidades, o uso em excesso de álcool ou anabolizantes e o consumo de drogas ilícitas ou de cigarro também são fatores de risco para o agravamento do quadro clínico de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Mesmo que sejam jovens ou não tenham doenças diagnosticadas, eles podem apresentar uma resposta imunológica ruim à Covid-19 e, nos casos mais críticos, acabar perdendo a batalha para a doença.

Médico infectologista que atua em hospitais da rede pública e privada de Bauru, Taylor Endrigo Toscano Olivo explica que estas substâncias, embora sejam diferentes, podem induzir uma inflamação no organismo do indivíduo. Quando ela é infectada pelo novo coronavírus, que também tem potencial inflamatório, as chances de haver descompensação do quadro clínico e agravamento do caso são aumentadas.

“Além disso, o alcoolismo e o uso de drogas são extremamente importantes no desenvolvimento da tuberculose. E a tuberculose tem a mesma linha de resposta de combate à Covid, que é o linfócito. O uso excessivo destas substâncias pode interferir na resposta a estas infecções”, reforça.

Ele pondera, contudo, que fatores genéticos, que não podem ser previamente identificados, também são bastante relevantes para que um paciente sem doenças associadas evolua de forma grave para a Covid-19. “Isso é individual e, na maior parte das vezes, imutável. Com tratamento médico, é possível tentar controlar algumas descompensações. Mas, mesmo sendo jovem e com hábitos de vida saudáveis, muitas vezes, a forma de responder à infecção não é adequada. Infelizmente, temos visto isso acontecer”, acrescenta.

COMPLICADOR

Professor da USP, o patologista e pesquisador Alberto Consolaro destaca um outro complicador, que é o fato de o paciente tender a não revelar, no momento da internação, que é alcoólatra, usuário de drogas ou de anabolizantes. Assim, a pessoa pode até mesmo evoluir para óbito sem que a equipe médica tenha conhecimento deste histórico de vida.

“E o vício pode deprimir a resposta imunológica, a função hepática, a função cardiológica. Às vezes, um paciente que utiliza estas substâncias é mais propenso à morte do que um que tenha pressão alta”, frisa.

O infectologista Taylor Endrigo Toscano Olivo acrescenta que o uso destes produtos também pode estar relacionado a comportamentos de risco, que podem resultar em infecção por outras doenças, como as sexualmente transmissíveis, por vezes sequer diagnosticadas. Além disso, ele pontua que estes vícios podem provocar lesões em órgãos, eventualmente também não detectadas como uma comorbidade.

“Tivemos, nos Estados Unidos, algumas publicações científicas de casos de atletas que tiveram morte súbita pós-Covid. Estudos já mostraram que a doença pode provocar lesões cardíacas, mas não sabemos, com toda certeza, se estas lesões já não existiam por conta do uso prévio de algum tipo de substância”, completa.

Fonte: https://www.jcnet.com.br/noticias/geral/2020/12/744205-mesmo-sem-comorbidades–pacientes-com-vicios-podem-ter-covid-agravada.html#.X-kCFr7sUP8.whatsapp

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