Os laços entre Brasil e Japão se fortalecem a cada dia, e apesar das mudanças do perfil do imigrante, os dois países devem continuar com grande fluxo de intercâmbio comercial e cultural nos próximos anos. Esta é a avaliação do cônsul-geral do Japão no Estado de São Paulo, Yasushi Noguchi, que esteve na manhã de ontem, em Bauru. Ele participou da programação do 13.º Kawasuji Fest, que contou com o workshop e apresentação de taiko (instrumentos japoneses) ao longo do fim de semana, respectivamente na Associação Luso Brasileira de Bauru e no Anfiteatro Guilhermão da Unesp.
O evento abriu, na cidade, as comemorações dos 110 anos da Imigração Japonesa. Atualmente, quem vem para o Brasil da ‘Terra do Sol Nascente’ tem como desafio trabalhar em empresas japonesas com filial no País, em setores como o automobilístico e de tecnologia. Há um século, o foco era a cafeicultura.
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil em junho de 1908, quando o navio Kasato Maru desembarcou no Porto de Santos, trazendo as primeiras famílias que vieram para trabalhar no oeste paulista, em fazendas de café. Depois, ao longo das décadas, também se estabeleceram em cidades do Interior do Estado e na Capital. O número de japoneses e descendentes faz com que o Brasil seja hoje o País com o maior número de japoneses do mundo, excluindo certamente o Japão. A colônia nipônica em solo brasileira conta com cerca de 1,9 milhão de pessoas.
Na primeira metade do Século 20, os japoneses vieram para fixar residência no Brasil, influenciando fortemente a cultura e costumes em várias regiões do País – como no Interior paulista e norte do Paraná. Atualmente, são aproximadamente 50 mil cidadãos nascidos no Japão que moram no Brasil.
Além dos mais velhos, que vieram nas levas migratórias do século passado, estão também jovens e adultos que vieram para o Brasil nos últimos anos com o intuito de trabalhar, por conta das empresas japonesas com filial no Brasil, em setores como o automobilístico, de tecnologia e alimentação. Muitos se formaram e iniciaram suas carreiras no Japão e moram alguns anos Brasil respondendo por importantes departamentos dessas empresas em território brasileiro.
Por outro lado, muitos brasileiros, a maioria descendentes de japoneses, também fizeram o caminho inverso e estão morando do outro lado do mundo para ganhar a vida – são 200 mil atualmente. Noguchi reitera que, nos próximos anos, esse intercâmbio pode ser ainda mais forte, principalmente se a economia brasileira mantiver a retomada do crescimento, possibilitando maior presença de empresas nipônicas por aqui e também a exportação de nossos produtos ao Japão.
CULTURA
Enquanto o aspecto econômico segue como grande motivador para quem atravessa o mundo em busca de oportunidade, seja no Brasil ou no Japão, a troca cultural é incentivada, afirma Noguchi. “Estou muito feliz em participar de um evento como este, que valoriza a cultura japonesa e ajuda a difundir a tradição no Estado de São Paulo. A relação bilateral entre Brasil e Japão é muito boa, os nipo-brasileiros contribuíram muito para a sociedade brasileira, na agricultura, medicina, educação, esportes e artes. E o Brasil sempre recebeu muito bem a comunidade japonesa, são 110 anos de integração que deve continuar sempre”, afirmou.
O cônsul-geral está há apenas três meses no cargo e não conhecia o Brasil. Mesmo com pouco tempo, já fala e compreende bem o Português, além de demonstrar entusiasmo em estar no País que tem a maior comunidade nipônica fora do Japão. “Recentemente inauguramos a Japan House, em São Paulo, para valorizar a cultura contemporânea japonesa. E em seis meses, já são mais de 500 visitantes. Então, os brasileiros sempre nos receberam muito bem, fico feliz. Aqui no Interior, já visitei Araçatuba, Promissão, Cafelândia, Lins, Marília e, agora, Bauru. E quero conhecer mais, porque há muitas comunidades com japoneses e descendentes no Estado”, relatou.
A região de Bauru, por exemplo, tem a presença de japoneses desde as primeiras décadas do século passado, tanto que conta com o Clube Cultural Nipo Brasileiro há mais de 80 anos. A entidade, inclusive, foi responsável por organizar esta edição do Kawasuji, em parceria com a Prefeitura de Bauru. A comunidade nipônica se instalou com força também em cidades como Marília, Bastos, Iacri e Garça, na chamada Alta Paulista, acompanhando a linha férrea da antiga Companhia Paulista. A produção agrícola sofreu influência. Bastos, por exemplo, tornou-se a maior produtora de ovos de galinha do Brasil, graças à contribuição dos japoneses.
HOMENAGEM
O tenente-coronel Flávio Jun Kitazume, comandante do 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4º BPM-I) recebeu homenagem por ser o primeiro descendente de japoneses a comandar a unidade. “Fiquei muito honrado e alegre pela homenagem do Clube Nipo Brasileiro por ser o primeiro descendente a comandar o Batalhão. A cultura japonesa é muito importante em Bauru e eu aprendi muitos com meus pais”, disse.
AUTORIDADES
Renan Casal |
Cônsul-geral Yasushi Noguchi recebe denominação de ‘Hóspede Oficial do Município’ das mãos do prefeito Gazzetta |
A abertura da apresentação de ontem, na Unesp, contou com a presença do prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSD), do vice-prefeito Toninho Gimenez (PTB), dos secretários de Cultura, Luiz Fonseca, e de Desenvolvimento Econômico, Aline Fogolin, além da chefe de Gabinete, Majô Jandreice. Participaram ainda a primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Lázara Gazzetta, e a vice-presidente do Fundo, Rosângela Gimenez, pois os participantes do evento doaram alimentos não perecíveis que serão revertidos ao Fundo Social de Solidariedade de Bauru, confirmou Lázara.
Também estiveram presentes o deputado federal Walter Ioshi (PSD), que é de Marília, e Arnaldo Ribeiro, representando o secretário estadual de Agricultura, Arnaldo Jardim. O prefeito Clodoaldo Gazzetta entregou ao cônsul-geral do Japão no Estado de São Paulo, Yasushi Noguchi, uma placa com o decreto que o declara “Hóspede Oficial do Município” de Bauru, publicado na edição de sábado do Diário Oficial.
O cônsul é natural da província de Yamaguchi, formado em Direito pela Universidade de Kyoto e, desde 1990, faz parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, respondendo atualmente pelo Consulado Geral em São Paulo.
CALENDÁRIO
O presidente do Clube Nipo Brasileiro de Bauru, Shozo Nakamine, ficou satisfeito com o evento, que abriu as comemorações dos 110 anos da imigração japonesa para o Brasil. “Abriu não só as comemorações na cidade, mas no País. Foi o primeiro evento, recebemos cerca de 600 pessoas de diversas cidades que passaram o fim de semana em Bauru”, lembrou.
A programação em Bauru pelos 110 anos da imigração japonesa contará ainda com o Undokai, no final de abril, e o Tenri Matsuri, no mesmo mês, karaokê regional, em maio, já em agosto está previsto o Bom Odori.
APRESENTAÇÕES
O 13.º Kawasuji Fest teve início no sábado, com um workshop na Luso. Ontem, a programação continuou com apresentações de taiko (tambor em japonês) na Unesp, encerrada com o Japan Marvelous Drummers, que veio do Japão. O primeiro grupo a subir ao palco foi justamente o Muguenkyo Bauru Madaiko, de Bauru, diante de um anfiteatro lotado.
Laura Kobosighawa, 16 anos, faz parte do grupo há oito meses. “Já fiz outras apresentações, mas foi a primeira vez em um festival. Eu já conhecia o grupo, e acabei entrando por causa do meu namorado, que faz parte. Estou gostando”, relatou. Outros grupos de taiko vieram de cidades como Araçatuba, São Carlos, Lins, São José do Rio Preto, Campinas e da Grande São Paulo e, ainda, do Rio de Janeiro e Maringá/PR – cidade que sediará a edição do ano que vem do Kawasuji Fest.
Os amigos Bruno Uehara, 21 anos, e Adriana Nakahara, 30 anos, vieram de São Bernardo do Campo para se apresentar. “Minha família começou a tocar taiko. Aí eu comecei a participar. A gente acaba fazendo amizade com gente de vários lugares”, disse Bruno. “O mais legal de eventos como este é a amizade com os outros grupos. A gente acaba revendo o pessoal, é bacana”, comentou Adriana.