Entre ser jogador de futebol ou simplesmente ver a família unida, os sonhos de Vinícius e André (nomes fictícios), de 17 e 18 anos, respectivamente, ficaram cada vez mais distantes quando eles se envolveram com o tráfico de drogas. O mesmo aconteceu na vida de Artur e Felipe (nomes fictícios), também de 18 anos. Os quatro jovens se conheceram na Fundação Casa Nelson Mandela, em Bauru, e, hoje, têm mais algo em comum e que os enche de perspectivas. Dentre 20 concorrentes, eles foram os quatro melhores colocados no processo seletivo para o programa Jovem Aprendiz, no Tribunal de Justiça (TJ) de Bauru.
Por serem apenas duas vagas, André – primeiro colocado – e Vinícius darão início aos trabalhos. Já Artur e Felipe aguardarão por próximas oportunidades, participando das ações realizadas pela Fundação em parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee).
Enquanto cursa o 2.º ano do Ensino Médio, André começa a trabalhar já amanhã no TJ, no período matutino. Já Vinícius aguarda uma progressão de medida socioeducativa do juiz para iniciar no período vespertino, a partir do dia 8 de junho.
A prova do Jovem Aprendiz foi realizada entre pessoas de 16 anos ou mais, em situação de vulnerabilidade social, atendidos por órgãos municipais como Creas, Cras, Fundação Casa e em acolhimento institucional, nos quais o Ciee atua com oficinas.
PERSISTÊNCIA
Ansioso pelo início dos trabalhos, o desenvolto André – que, após nove meses na unidade Nelson Mandela, cumpre regime semiaberto – destaca que a passagem pela instituição fez diferença em sua autoconfiança e em sua família.
“Eu não queria estudar no começo, mas pensei: ‘já que estou tendo essa oportunidade, vou pegar’. E, hoje, vejo que, com a minha inteligência e com a ajuda que recebo na Fundação, eu posso ser alguém melhor. Sem os estudos, a pessoa não é ninguém. Agora, posso realizar meu sonho de ver a minha família toda unida de novo, coisa que já começou a mudar depois que eu vim pra cá. Até me aproximei do meu pai. Penso também em fazer curso de Biologia”, relata.
O primeiro colocado – que tem baixa audição no ouvido esquerdo e afirma que isso de nada o atrapalha – ainda conta que foi bem em outras provas, como a do Tribunal de Justiça Eleitoral (TRE), em que acertou 24 das 30 questões. “Queria ter acertado tudo”, entrega.
A prova do TER foi a primeira que Vinícius fez e o motivou a se preparar ainda mais para o exame do TJ, em que conseguiu a segunda colocação. “A assistente falou que a gente não pode desistir na primeira vez que não dá certo. Eu aceitei o que ela disse e me esforcei pra essa prova. Agora, consegui a vaga”, afirma o jovem que, antes de passar duas vezes pela Fundação Casa, sonhava em ser jogador de futebol.
OPORTUNIDADE
O exemplo dos colegas anima e incentiva Artur e Felipe que ainda buscam por uma vaga no mercado de trabalho e continuam estudando na Fundação e participando das oficinas do Ciee. “As oportunidades que eu tive aqui dentro não são iguais às de lá fora. A gente recebe toda ajuda para sair da vida que a gente tinha, mas não basta querer, tem que correr atrás”, diz Artur. “Eu ia pra escola só pra não fazer nada, mas tudo que eu não aprendi lá fora, estou aprendendo aqui. Dessa vez, não deu certo, mas, em uma próxima chance, pode ser a nossa vez”, completa Felipe.
Gratos à Fundação Casa e com o desejo de se manterem longe das drogas, os quatro jovens fazem das oficinas e dos estudos, caneta e papel para escreverem novos capítulos em suas vidas. “Saindo daqui, pretendo fazer um curso de mecânica e trabalhar. Não olhar pra trás, o que passou, passou”, afirma Felipe.
“Droga não traz nada pra ninguém. É uma prisão e você perde a sua família. Todos os meninos que passam por aqui deveriam aproveitar essa ajuda que eles dão. Com certeza, a gente sai com outra cabeça”, conclui André.
Fonte: https://www.jcnet.com.br/Geral/2018/05/jovens-da-fundacao-casa-sao-os-quatro-melhores-classificados-em-prova-do-tj.html