Por Ana Beatriz Garcia – Jornal da Cidade
Saturação de tráfego, caminhões, pedestres fora da faixa, cruzamentos fechados, veículos danificados que, pela falta de área de escape, entopem ainda mais o fluxo, são todos fatores que contribuem para a visível baixa capacidade viária da avenida Duque de Caxias, principalmente nos horários de pico – início da manhã e final de tarde.
Se chover um pouco mais ou acontecer uma colisão, mesmo que leve, as filas de veículos podem ficar ainda maiores. A estrutura limitada, o aumento da frota no município (atualmente na casa dos 280 mil veículos) e o comportamento, muitas vezes, ruim dos motoristas e pedestres tornam a tarefa diária de quem, obrigatoriamente, cruza a avenida, ainda mais árdua.
Artéria vital da cidade, a avenida Duque de Caxias é fundamental na ligação do eixo oeste-centro-leste, além de dar vazão para outras importantes vias de Bauru como as avenidas Rodrigues Alves, Nações Unidas e Cruzeiro do Sul, entre outras.
De acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), na Duque de Caxias atual, o principal ponto de congestionamento e lentidão no trânsito nos horários de pico é a chegada à rotatória da praça Primaz Chujiro Otake – mais conhecida como praça do relógio de sol, na “porta de acesso” para a Vila Falcão, na baixada da avenida Alfredo Maia.
Em 2014, o JC nos Bairros já mostrava as dificuldades enfrentadas pelos usuários da via. Cinco anos depois, os obstáculos permanecem os mesmos. Contudo, de acordo com o Poder Executivo, projetos condizentes com a necessidade da avenida aguardam sinal verde para sair do papel.
SATURADA
O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) estabelece uma média diária de 600 veículos/hora – aferida nas oito horas de maior fluxo – para artérias do porte da Duque de Caxias (por faixa de rolamento), explica o gerente de planejamento e sinalização viária da Emdurb, Aníbal Ramalho. “Esse é um número ideal para que não haja sobrecarga em uma faixa de rolamento. No caso, como são duas, o ideal seriam 1.200 veículos/hora”, explica.
Atualmente, na Duque de Caxias, especialmente no trecho entre os radares próximos ao viaduto sobre a Nações, esse número pode chegar a 2.000 veículos (nas duas faixas), ou seja, 400 a mais do que o máximo especificado para essa categoria de avenida.
De acordo com os dados de medição da Emdurb, no horário de pico da manhã, das 7h às 8h, no sentido Redentor – Centro, o número de carros que passam pela quadra 16 é de 2002 veículos. No sentido contrário, antes da rua Maria José, podem ser considerados cerca de 2000 carros. “Isso porque, a medição é feita posterior a essa rua e marca 1.269 veículos. A rua Maria José é saída para outra região da cidade, assim como na quadra 16 da Duque, logo depois, há diminuição por conta do escoamento para a Nações Unidas”, afirma Aníbal.
ALTERNATIVAS
De acordo com Aníbal – que também utiliza a via para se locomover da casa para o trabalho -, alguns caminhos podem auxiliar a não passar pela avenida Duque de Caxias. “A rua Capitão Gomes Duarte pode ser alternativa para quem vem da Vila Falcão, sentido Nações Unidas. O mesmo sentido pode ser auxiliado pelas ruas Quinze de Novembro e Cussy Junior. Já no sentido contrário, a rua Joaquim da Silva Martha serve de opção”, finaliza.
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Aníbal Ramalho fala sobre o fluxo de veículos na avenida em horários de pico |
Viadutos
A avenida Duque de Caxias teve início a partir da rua Monsenhor Claro até a altura da rua Antônio Alves. Hoje, ela termina na Praça Antônio Anacleto Chaves, no Jardim Marambá, com aproximadamente três quilômetros e meio de extensão. Com o crescimento da cidade, a via acabou se emendando à rua Doutor Lisboa Júnior (na altura do Hospital de Base) que, por sua vez, uniu-se à rua José Aiello e, hoje, conta com aproximadamente quatro quilômetros e meio de extensão.
O percurso ainda foi aprimorado com a construção do Viaduto Antônio Eufrásio de Toledo, até atingir o outro lado: a Vila Falcão. Outros dois viadutos compõem a Duque de Caxias: um sobre a rodovia Marechal Rondon e um sobre a avenida Nações Unidas (Viaduto 23 de Maio).
Retificação
Na última edição do JC nos Bairros, no domingo (12), os números de diminuição citados no box da matéria “Pobreza volta a nível crítico e famílias passam a sobreviver com quase nada”, na página 5, são em relação ao conjunto de famílias em situação de vulnerabilidade no município cadastradas no Cadastro Único e não no Centro de Referência da Assistência Social (Cras), como publicamos.
Motoristas e pedestres falam sobre os obstáculos diários enfrentados na avenida
Mesmo que congestionada, a avenida é o caminho diário para quem tem que se locomover de casa para o trabalho ou para faculdade
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Depois de certa espera, Laís Lopes de Souza atravessa a avenida para ir ao Centro: “Tem que tomar cuidado” |
Uma das mais importantes artérias de tráfego urbano em Bauru, a avenida Duque de Caxias que faz a ligação entre os eixos oeste-centro-leste, oferece uma série de “obstáculos” para os que dela precisam para se locomover de casa até o trabalho, faculdade, escola e outras necessidades em dias úteis.
A motorista Loraine Carvalho, de 33 anos, não mora em Bauru, mas está sempre pela cidade. “Mesmo sem morar aqui, eu já estou familiarizada com esse trânsito da Duque de Caxias”, diz. Isso porque, frequentemente, ela vem visitar a mãe, que mora em região próxima à avenida. “Não tem como fugir da Duque, porque leva para todos os lugares que eu preciso ir. Mas sempre é um transtorno nesse horário. Lentidão, muitos carros, tem motorista que respeita e tem uns que não, mas a gente tem que passar”, afirma a moradora de Marília.
Laís Lopes de Souza, de 21 anos, passa ao menos uma vez por semana pela avenida e destaca a dificuldade da via para os pedestres. “Para atravessar, só se for na faixa, que já é difícil e tem que esperar bastante. Mesmo quando o sinal fecha, no outro sentido alguns carros viram e tem uns que nem olham se tem pedestre ou não, isso dificulta bastante. Um carro já quase me pegou desse jeito, tem que tomar cuidado”, conta.
Outro pedestre que – pouco antes da entrevista – também quase foi ‘pego’ cruzando a Duque de Caxias foi Tiago Lopes de Jesus, de 31 anos. “Não tem como fugir, eu trabalho aqui perto e passo por aqui todos os dias. Temos que tomar bastante cuidado, quase que o carro atropela”, diz.
Ele conta que, voltando do trabalho, por volta das 18h30 – horário de pico na via – já presenciou o ‘caos’ que a avenida se torna. “Comigo nunca aconteceu nada, ainda bem, mas já vi engavetamentos acontecendo aqui. Aí para o trânsito de vez”, comenta.
A motociclista Khetlyn Jacintho da Silva, de 21 anos, passa todos os dias pela avenida movimentada, por volta das 18h30, horário considerado de fluxo intenso. “Tem muito carro nessa hora, acaba sendo perigoso porque os carros não dão seta, não respeitam a gente. Eu tenho medo de acabar me envolvendo em acidente”, afirma enquanto aguarda um dos semáforos da avenida.
Quanto tempo leva?
Para entender um pouco mais sobre a lentidão na avenida Duque de Caxias, a reportagem percorreu o caminho apontado pelo gerente de planejamento e sinalização viária da Emdurb, Aníbal Ramalho, como um dos mais lentos referentes à avenida. O percurso da redação do JC (no Higienópolis) até a praça Chujiro Otaki, pela avenida Duque de Caxias, em horário de pico – na última terça-feira – foi concluído em 12 minutos e 30 segundos. A saída da redação foi às 18h30, foram necessários quatro minutos, para ir do Higienópolis até o cruzamento com a rua Maria José. Até o cruzamento da avenida Duque de Caxias com a rua Quintino Bocaiúva, já na região do Hospital de Base, foram necessários 7 minutos e 30 segundos. Ao final deste deslocamento urbano, foram utilizados 12 minutos e 30 segundos para que o carro de passeio cumprisse os 3,5 quilômetros da Duque de Caxias na altura do viaduto com a Nações Unidas até a praça Chujiro Otaki.
Novos dispositivos podem ‘desafogar’ o trânsito da Duque de Caxias
Gazzetta acredita que a implementação de novas alças de acesso na via e a construção de um novo viaduto na cidade sejam saídas para avenida andar
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Clodoaldo Gazzetta aponta três projetos que podem colaborar para ‘aliviar’ o trânsito e a lentidão da avenida Duque de Caxias |
Ciente do intenso fluxo de veículos com o aumento da frota de Bauru e a lentidão causada em determinados trechos e horários na avenida Duque de Caxias, a Prefeitura Municipal já vem estudando formas de ‘fazer a avenida andar’. De acordo com o chefe do executivo, Clodoaldo Gazzetta, três projetos implementariam dispositivos que podem resultar em melhoras para o trânsito da cidade.
Um trata-se da criação de um viaduto sobre a rodovia Marechal Rondon (SP-300), na avenida Cruzeiro do Sul, conforme o JC noticiou em março deste ano. “A criação do viaduto na Cruzeiro do Sul sobre a Rondon desafogaria uma parte do trânsito da Duque de Caxias, porque as pessoas poderiam desviar por lá e teriam acesso à região do Redentor, Geisel e toda aquela região. Não teria só a Duque para fazer isso”, explica Gazzetta.
Outro dispositivo, aguardado pelos bauruenses desde 2011, é a alça de acesso direto da avenida Duque de Caxias à Nações Unidas, no sentido Centro-Vitória Régia. “Na gestão anterior, a prefeitura já fez a desapropriação do estacionamento de carros que tem no local, no sentido Centro-Bairro. A ideia é fazer uma saída direta para a Nações sem precisar entrar nas ruas anteriores ao viaduto. Isso vai diminuir uma grande parte do trânsito que acontece nessa região em horários de pico. Esse dispositivo já está em andamento na prefeitura, acredito que consigamos concluir ou, pelo menos, iniciar a obra até o final do governo”, diz.
Por último, mas já em andamento, está o projeto de reconfiguração da rotatória na praça Primaz Chujiro Otake, liderado pela Secretaria do Planejamento (Seplan). “Alí, temos alguns dispositivos que terão de ser repensados. A Seplan vem estudando possibilidades como a desapropriação de alguns imóveis que fazem parte da rotatória, para ampliar o espaço para os carros ou a criação de algumas alças de acesso mais rápido. Como, por exemplo, quem vem da Castelo Branco, ao invés de entrar na rotatória, sairia direto em um viaduto. É um dispositivo um pouco mais caro, mas acreditamos que resolveria o problema definitivamente”, comenta.
LENTIDÃO
Gazzetta, ainda, ressalta a diferença entre engarrafamento e lentidão no trânsito, ocorrida na cidade. “Bauru não tem o processo que acontece em São Paulo, de se ter engarrafamentos por horas. Aqui, nós temos momentos na parte da manhã ou final de tarde em que se tem um aumento de carros na via, que gera uma demora na locomoção”, salienta. “Se a gente conseguir resolver esses três pontos, eu acredito que vamos diminuir bastante o tempo de resposta da avenida Duque de Caxias, para que os carros possam transitar com mais facilidade”, completa o prefeito.
PRAZOS
“O viaduto da cruzeiro vai demorar um pouco mais para ficar pronto – talvez cerca de dois anos –, mas, em tese, já está quase autorizado pelo Estado que custeará a obra, falta apenas uma resposta que devemos receber nos próximos meses a respeito disso. Já a obra na rotatória da avenida Castelo Branco ainda carece de mais estudos, mas acreditamos que até o final do ano já teremos o projeto do que será desempenhado ali e aí buscaremos recursos para implementar”, garante o chefe do executivo.
Enquanto as propostas aguardam o sinal verde para saírem do papel, Gazzetta comenta que a prefeitura está implementando uma melhor sinalização nos cruzamentos da via, através do recurso do governo do Estado, pelo Movimento Paulista de Segurança no Trânsito. “Estamos recapeando todos os cruzamentos da Duque de Caxias, pintando-os com termoplástica para oferecer uma sinalização melhor também para o trânsito de pedestres”, finaliza Gazzetta.
Ligação entre ruas
Visando auxiliar o trânsito na região da praça Primaz Chujiro Otake, o prefeito Clodoaldo Gazzetta afirma que há outro dispositivo que deseja implementar até o final de seu governo. “Queremos fazer a conexão da rua Cuba, com a avenida Ambleto Bertolucci. A ideia é fazer uma ligação da rua Cuba diretamente com a região que tem o posto policial, criando, assim, duas entradas. Não seria necessário vir pela Castelo Branco, mas pela Fortunato Resta, saindo pela Bernardino de Campos, criando um fluxo de carros mais rápido. Este é um dispositivo mais rápido, deve ser feito até o final deste ano, mas só ele não resolve. É necessária a reconfiguração da rotatória da praça do relógio”, conclui.