A frota de Bauru está ficando cada vez mais velha. É o que apontam as estatísticas do Detran-SP, divulgados a pedido do JC. Segundo o órgão, em seis anos, o número de veículos com dez anos ou mais de fabricação rodando pelas ruas cresceu de 48% para 59% do total da frota. Em 2012, eram 113 mil veículos antigos entre os 233 mil registrados na cidade.
Em março de 2018, já eram 165 mil carros com ao menos uma década de uso, do total de 280 mil em circulação. No Estado, a situação não é diferente: a proporção de veículos antigos cresceu de 53% para 64% em seis anos.
Para o Detran, uma das explicações para o envelhecimento da frota em tão pouco tempo é a crise econômica, que teve início em meados de 2014. De 2012 para cá, não houve um ano em que a proporção de veículos com dez anos ou mais de fabricação decrescesse, o que aponta para uma tendência de envelhecimento que preocupa as autoridades.
Gerente de Engenharia e Estatística de Trânsito da Emdurb, Nelson Augusto Neto analisa que um dos principais problemas deste fenômeno é que, em boa parte das vezes, a falta de dinheiro em meio à crise também reflete na má conservação dos veículos. “Quem não tem dinheiro para comprar um carro novo também não têm condições de fazer todas as manutenções preventivas, o que é gravíssimo para a ocorrência de acidentes”, pontua.
Ele cita que falhas nos freios, por exemplo, podem gerar colisões traseiras ou até mesmo atropelamentos de pedestres. “Outro problema é que veículos sem manutenção tendem a quebrar mais. Em artérias de maior tráfego, isso provoca não apenas congestionamento, mas também risco de colisões”, acrescenta.
TECNOLOGIA
Ele pondera, contudo, que quase a totalidade dos acidentes fatais na zona urbana é resultado de imprudência dos motoristas e não de falhas mecânicas. Já nas rodovias, onde a velocidade dos veículos é maior, a ausência de iluminação traseira no período noturno, quando o alcance visual fica limitado, pode ser fatal.
O tenente Daniel Aparecido Demétrio, da 1.ª Companhia de Polícia Rodoviária de Bauru, ressalva que um veículo ser antigo pode não estar, necessariamente, em mau estado de conservação, mas lembra que modelos fabricados em décadas passadas não possuem os mesmos itens de segurança dos carros atuais. Airbag e freios ABS, por exemplo, são obrigatórios para carros fabricados no Brasil desde 2014.
Outra vantagem é que equipamentos mais modernos, como lanternas de LED, têm maior durabilidade e, portanto, demandam menos manutenção. “São inovações tecnológicas que reduzem a gravidade de vitimização das pessoas. Mas, se a pessoa tem um veículo de poucos anos de uso e não providencia a devida manutenção ou não respeita as regras de trânsito, pode se envolver em acidentes da mesma forma”, observa.
RISCO NA RUAS
Na zona urbana, segundo o comandante do Pelotão de Trânsito da PM em Bauru, tenente José Sérgio de Souza, o problema mais recorrente flagrado nos veículos antigos são pneus desgastados. “Algumas vezes, a estrutura de arame já está aparente, o que dificulta muito uma frenagem, principalmente em dia de chuva, com pista molhada”, alerta.
Nas abordagens rotineiras, também são verificados, além da documentação do veículo e do condutor, as condições do sistema de iluminação e aspectos gerais, como danos nos vidros e problemas no fechamento de portas. Dependendo do tipo de irregularidade, a infração é considerada média ou grave, com retenção do documento e multa ou até mesmo recolhimento do veículo, quando houver risco iminente à segurança no trânsito.
“Em algumas situações, o custo de documentação e manutenção é maior do que o valor do próprio veículo. Entendemos que ele poderia ser um instrumento de trabalho, uma necessidade para locomoção da família, mas não há como fazer relativizações quando estamos lidando com risco de vida”, completa.