Filhote de ave extinta há mais de 30 anos nasce em criadouro de Borá

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Os pesquisadores de um criadouro de Borá, no interior de São Paulo, tiveram sucesso na reprodução de um filhote de Mutum-de-Alagoas, ave que está extinta na natureza há 36 anos. Segundo os pesquisadores do criadouro, que existe há 7 anos, esse é o primeiro filhote da espécie nascido no Estado de São Paulo.

O Instituto Pauxi Mitu faz parte do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-de-Alagoas, coordenado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio). O instituto recebeu em setembro do ano passado seis casais da espécie, que é nativa da Mata Atlântica e vivia nas áreas próximas à foz do Rio São Francisco. No criadouro, as aves vivem em um ambiente preparado para ser o mais semelhante possível do habitat natural delas mas, por enquanto, somente um dos casais conseguiu se reproduzir.

“Eles chegaram no meio da fase de reprodução, que vai de agosto até fevereiro, e tem que ser respeitado o período de adaptação com o novo lugar, com a alimentação. Então foi colocado apenas um ovo, mas obtivemos sucesso”, conta a bióloga responsável do criadouro, Erica Coriolano.

A bióloga conta ainda que esse único filhote por pouco não foi perdido. “Os mutuns colocam ovo sempre no mesmo período do dia, entre 17 e 17h30 e no dia que o ovo foi colocado no ninho choveu bastante e uma das funcionárias o encontrou perto do bebedouro das aves e me ligou dizendo que estava quebrado. É uma tristeza para gente quando isso acontece, mas a gente sempre guarda os ovos para análise e quando cheguei vi que não estava aparentemente quebrado. Nós fizemos um exame, chamado ovoscopia, quando a gente emite uma luz e analisa todo o ovo e vi que ele não estava danificado. Estava tudo certo então levamos para chocadeira e 30 dias depois nasceu o filhotinho.”

Pesquisadores realizaram o exame de ovoscopia para certificar que estava tudo bem com o ovo (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )Pesquisadores realizaram o exame de ovoscopia para certificar que estava tudo bem com o ovo (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )

Pesquisadores realizaram o exame de ovoscopia para certificar que estava tudo bem com o ovo (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )

Mutum na natureza

Os primeiros registros da ave que se tem conhecimento foram feitos pelo pesquisador alemão George Marcgrave, no século 18, quando veio ao Brasil durante o período da invasão holandesa. A beleza e o tamanho do Mutum chamaram a atenção do expedicionário. Só que a caça predatória e o desmatamento para o plantio de cana são apontados como os principais motivos para a sua quase extinção.

Depois, somente em 1951, o ornitólogo Olivério Pinto redescobriu o mutum em suas andanças em solo alagoano. Já na década de 1970, o engenheiro Pedro Nardelli esteve em Alagoas com a missão de encontrar a ave. Somente em 1981, ele conseguiu êxito em sua busca e levou seis exemplares para um criadouro particular no Rio de Janeiro. De lá, a ave foi levado para criadores particulares em Minas Gerais.

Mutum-de-alagoas está em extinção na natureza há mais de 30 anos  (Foto: Parque das Aves / Divulgação)Mutum-de-alagoas está em extinção na natureza há mais de 30 anos  (Foto: Parque das Aves / Divulgação)

Mutum-de-alagoas está em extinção na natureza há mais de 30 anos (Foto: Parque das Aves / Divulgação)

De acordo com a bióloga do Instituto Pauxi Mitu, atualmente existem pouco mais de 200 mutuns de Alagoas puros vivendo em criadouros, a maioria em Contagem (MG). “Dizemos puros, porque o Mutum-de-Alagoas está extinto, ele não é mais encontrado na natureza, e a recuperação da espécie começou com cruzamento com outra espécie, o mutum-cavalo, com características parecidas, pois só foram encontradas na natureza três aves do mutum, uma fêmea e dois machos e por isso foi feito o pareamento genético para fazer o cruzamento e poder salvar a espécie. Mas, agora estamos voltando para a espécie pura, graças ao avanço dos estudos sobre DNA.”

Os esforços dos pesquisadores em recuperar a espécie tem o objetivo de promover reintrodução do mutum no seu habitat natural. A soltura do filhote e também de outras aves da espécie está programada para setembro desse ano e irá ocorrer em uma área de reserva ambiental de 978 hectares do estado de Alagoas.

Mas os casais ficam em Borá para continuidade do trabalho de preservação. “Nós estamos muito esperançosos e acreditamos no nascimento de mais filhotes. É um trabalho muito gratificante acompanhar tudo isso desde o comecinho, o ovo e o filhote se desenvolvendo nele, o nascimento e depois a possibilidade de reintroduzir na natureza uma espécie em extinção”, ressalta Erica.

No criadouro também existem trabalho de recuperação de outras espécies ameaçadas, como o papagaio rodocotita. E a maioria das aves mantidas no instituto vem de apreensões feitas pela Polícia Ambiental em cativeiros irregulares.

Viveiro funciona em Borá no Instituto Pauxi Mitu (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )Viveiro funciona em Borá no Instituto Pauxi Mitu (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )

Viveiro funciona em Borá no Instituto Pauxi Mitu (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )

Erica conta que existem outras aves no viveiro, como o papagaio Rodocorita (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )Erica conta que existem outras aves no viveiro, como o papagaio Rodocorita (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação )

Erica conta que existem outras aves no viveiro, como o papagaio Rodocorita (Foto: Instituto Pauxi Mitu / Divulgação 

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