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Estagiário de Bauru adia formatura para conquistar seu primeiro emprego

De olho no 1º emprego, universitários de Bauru já começam a adiar formatura por trabalho. 13/09/2018 Júlia Martins Pinheiro da Silveira

O aumento da concorrência por uma vaga no mercado de trabalho está consolidando um novo fenômeno dentro das universidades. Preocupados em enriquecer o currículo antes de começar a buscar uma oportunidade de emprego, os estudantes estão adiando a conclusão do curso de graduação e, assim, prolongam o tempo disponível para permanecer em um estágio, que também garante remuneração. Especialistas ouvidos pelo JC confirmam o fortalecimento desta tendência, especialmente entre os alunos dos últimos anos de faculdade. “Eles têm, por exemplo, adiado a entrega do trabalho de conclusão de curso (TCC) por seis meses e aproveitado este período para ingressar ou aumentar o tempo de realização de um estágio”, cita a psicóloga e analista de recursos humanos Marília Andrade Montagna.

O crescimento deste perfil de aluno está intimamente relacionado à queda do nível de emprego nos últimos anos, mas também é fruto de uma geração com mais acesso à informação e, portanto, mais ciente de que a transição do mundo acadêmico para o corporativo pode demorar para acontecer se diferenciais no currículo não forem apresentados. É uma constatação assimilada pela universitária Júlia Martins Pinheiro da Silveira, 21 anos, desde o início do curso de jornalismo, em 2015. Depois de realizar dois estágios, ela engatou o terceiro durante a execução do seu TCC, em 2018.

A previsão era de que se formasse no meio do ano, mas, com a oportunidade de estagiar em uma empresa de comunicação até dezembro, decidiu prorrogar sua permanência na universidade considerando, inclusive, a possibilidade de ter mais tempo para elaborar o trabalho de conclusão da graduação.

“Conversei com meu orientador e também com meus pais, já que eles pagam a faculdade e me mantêm em Bauru, e decidi que eu deveria entrar de cabeça nesta oportunidade. Ter seis meses a mais de vivência da prática, da rotina do jornalismo é um investimento que vale muito a pena”, diz.

PRÓS E CONTRAS

Porém, até por envolver custos, nem sempre o adiamento do fim da graduação é uma estratégia vantajosa. Trata-se de uma decisão, segundo especialistas, que precisa ser pensada, levando em conta aspectos como o real ganho de experiência que a empresa é capaz de proporcionar, a possibilidade de participar de projetos que podem contar pontos no currículo e até a previsão de abertura de vagas para efetivação a partir do término do curso.

“O estudante, por ser muito jovem, pode ficar inseguro para dialogar com o gestor da empresa. Mas, se aquele ambiente é atrativo para sua área de atuação, é importante conversar sobre a viabilidade de ficar um tempo maior e, quem sabe, ser inserido como funcionário. Vale dizer que, além de ajudar no planejamento, a capacidade de comunicação também é um fator de destaque no mercado de trabalho”, cita a supervisora do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), Simone Pires Nicolau.

Outro aspecto importante, ela diz, é a transparência. Pessoas ouvidas pelo JC relatam ter conhecimento de casos em que universitários chegam até mesmo a reprovar em uma disciplina para se manterem matriculados e, portanto, terem chances de renovar um contrato de estágio. A estratégia, se chegar ao conhecimento da empresa, pode mais fechar do que abrir portas para uma futura efetivação no emprego.

Cada vez mais cedo

Atrasar a formação acadêmica para adquirir experiência profissional é uma realidade cada vez mais comum porque, na maioria das vezes, o estudante só sai em busca de estágio no final do curso, quando começa a entender melhor que esta experiência pode fazer diferença no currículo. “Mas, de um ano para cá, temos percebido um movimento novo, de jovens preocupados em ter esta vivência prática já no primeiro ano de curso”, pondera a analista de recursos humanos Marília Andrade Montagna.

Segundo ela, de maneira geral, as empresas passam a se interessar por contratar estagiários a partir do segundo ano de graduação do aluno, com a possibilidade de permanência por até dois anos e, se tudo der certo, com a efetivação ao final do processo. Conforme a reportagem apurou, as vagas em Bauru oferecem remuneração que varia entre R$ 800,00 a R$ 1,2 mil, com jornadas de seis horas diárias, sendo 30 horas semanais. O estudante precisa ter, no mínimo, 16 anos de idade e estar matriculado em uma instituição de ensino.

Tendência reflete crise e mercado mais exigente

O artifício de adiar a formação acadêmica diante da oportunidade de prolongar o estágio dentro de uma empresa é reflexo direto da crise econômica que, só em Bauru, fechou 8 mil postos de trabalho com carteira assinada entre 2015 e 2017. A recuperação do nível de emprego, de pouco mais de 3 mil vagas em 2018, ainda ocorre em ritmo lento e, enquanto o cenário não voltar a ficar otimista, a concorrência no mercado de trabalho continuará acirrada.

“As empresas estão mais exigentes. Até mesmo para uma vaga de auxiliar ou assistente, elas pedem candidatos que tenham alguma experiência”, observa Marília Andrade Montagna, citando que, diante deste cenário, há estudantes que até mesmo abrem mão de um emprego estável em outra área para poder fazer estágio na carreira de interesse, mesmo com uma remuneração menor.

E a recompensa nem sempre vem de imediato. Formado em jornalismo desde o início do ano, Tiago de Moraes, 22 anos, ainda não conseguiu uma vaga de emprego na área, mesmo depois de prorrogar a entrega do TCC para fazer seis meses de estágio em uma empresa de comunicação da cidade.

“Eu me formaria no meio do ano passado e surgiu esta oportunidade. Mesmo não tendo sido efetivado depois do estágio, foi uma experiência importante para o meu desenvolvimento profissional”, diz ele, que segue atuando na área por meio de trabalhos temporários, os chamados “frilas”.

Áreas aquecidas

No Ciee, que mantém convênio com praticamente todas as universidades de Bauru, a maior oferta de vagas de estágio está nas áreas de administração, direito, informática e pedagogia, com avanço recente da demanda em design, devido ao crescimento do setor de e-commerce. “Administração sempre lidera porque é um curso abrangente e o estudante pode se encaixar em vagas de empresas de recursos humanos, contabilidade, finanças, entre outras”, comenta Simone Pires Nicolau.

Atualmente, são mais de 150 vagas de estágio para estudantes de ensino superior em toda a região, sendo a maioria localizada em Bauru. Para aumentar as chances de sucesso dos candidatos aos postos, o Ciee oferece cursos a distância, que vão desde aulas de gramática, expressão verbal e informática até dicas sobre como preparar um currículo e se comportar em uma entrevista. Os cursos são gratuitos e com entrega de certificado.

Fonte: https://m.jcnet.com.br/Geral/2018/09/estagiario-de-bauru-adia-formatura-para-conquistar-seu-primeiro-emprego.html?utm_source=Whatsapp&utm_medium=referral&utm_campaign=Share-Whatsapp
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