Como uma empresa de 357 anos se reinventa no século 21

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Possuir uma empresa com 357 anos de história traz alguma perspectiva. O Van Eeghen Group foi fundado em Amsterdã em 1662 e a família ainda é dona do negócio, que se reinventou ao longo dos séculos. Negociou lã e vinho, ajudou a financiar o então recém-criado Estados Unidos da América e direcionou os negócios para café, cacau, vegetais desidratados e especiarias após a Segunda Guerra Mundial. Sua longa história apresenta muitos erros e acertos, incluindo uma aposta na imigração norte-americana que incluiu a compra de cerca de 5,5 milhões de acres em Nova York e na Pensilvânia antes de se desfazer do imóvel por um pequeno lucro em 1840 (a família admite ter vendido um pouco cedo demais).

Hoje, é especializada em adquirir ingredientes especiais, como extratos de plantas para produtos como alimentos infantis e suplementos nutricionais, negócio que estabeleceram em 1991. O diretor Jeroen van Eeghen, 41 anos, vem da 15ª geração da dinastia, tendo assumido o posto em 2012 de Willem, 70 anos, primo de seu pai.

A dupla discutiu sua visão sobre empresas familiares, sucessão e o desafio de equilibrar a tradição com o progresso em uma entrevista dada à Bloomberg na sede da empresa em Amsterdã, em abril.

O que é único na sua empresa?

Jeroen van Eeghen: Em geral, uma coisa que é especial sobre as empresas familiares é que eu não acho que precisamos de pessoas muito oportunistas. Claro que somos dinâmicos, mas você tem que ter um pouco de sensibilidade a longo prazo e também valorização dos funcionários e coisas assim.

Quão importante é crescimento versus estabilidade?

JVE: Se você permanecer horizontal, em determinado momento você desaparecerá. Temos crescido bastante agressivamente nos últimos anos. Então não pense que estamos apenas de mãos dadas aqui. As vendas quase triplicaram em relação a 2013. Mas, talvez haja alguma razão para que no ano que vem não cresçamos realmente. Então eu vou explicar para o conselho e vai ficar tudo bem – se eu tiver uma boa razão. Não haverá ninguém na reunião de acionistas – se você tiver uma boa razão para isso – que dirá: Por que não estamos crescendo a 10% este ano?

Como a família planeja a sucessão?

Willem van Eeghen: A sucessão é diferente em cada geração. A maneira como lidamos com a contratação de Jeroen foi excelente. Nós terceirizamos o processo de contratação. Em 2011, o conselho supervisor enviou uma carta para a família e disse que eu estava prestes a me aposentar em alguns anos. Nós também dissemos que se nenhum candidato qualificado se apresentasse, nós olharíamos fora da família. As pessoas tinham que enviar uma carta de apresentação e um currículo. Eles fizeram um comitê com head hunter externo, uma pessoa de RH e fizeram a avaliação preliminar.

Por que vocês mudaram para ingredientes funcionais?

WVE: Estávamos trabalhanco com café e cacau e eu não gostava da negociação. O mercado havia mudado de tal forma que ou você tem que fazê-lo em larga escala como a Cargill faz ou não faz. Caso contrário, você vai ficar preso em algum lugar.

Precisávamos fazer outra coisa e eu realmente pensava em algo que precisasse de mais conhecimento de uma certa maneira, para que a entrada de novatos não fosse fácil. E alimentos funcionais se encaixam muito bem. Eu estava fazendo um trabalho no Japão, vi suplementos em lojas e pensei que isso era algo realmente novo.

O que 357 anos de história trazem?

JVE: Perspectiva. Por volta de 1900, você poderia argumentar que éramos uma das empresas mais poderosas da Holanda. E falei com um historiador e eles disseram que por volta de 1800 também éramos uma das maiores casas na América. No meio desse período houve um mergulho. Se você olhar em termos mais longos, poderá manter sucessos e fracassos em perspectiva.

Por que o van Eeghen sobreviveu?

WVE: Ajuda que a família não seja dependente de dividendo. Você tem muitas empresas familiares em que os acionistas se tornaram mais dependentes do pagamento de dividendo e, se é um ano ruim, eles precisam vender a casa. Tivemos uma assembleia de acionistas onde anunciamos dividendo e nossos acionistas disseram: “Nós não precisamos muito disso, coloque em suas reservas”

Qual é sua história familiar favorita?

WVE: Suzanna Block era da segunda geração nos anos 1700. O marido dela morreu cedo. Ela teve três filhos, mas quando o marido morreu, seus filhos eram jovens demais para assumir o poder. Então ela assumiu. Era altamente incomum que uma mulher assumisse naqueles dias. Era um mundo machista dominado por homens. O filho mais velho acabou assumindo o controle, mas depois ele morreu e ela assumiu novamente. Então ela assumiu duas vezes. Ela salvou a empresa. Costumam dizer que as empresas familiares não sobrevivem duas ou três gerações. Esse quase foi o caso para nós.

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2019/07/04/como-uma-empresa-de-357-anos-se-reinventa-no-seculo-21.htm

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