Escassez de matérias-primas, principalmente de componentes eletrônicos, está afetando as linhas de montagens de fabricantes em todo o planeta; empresas avaliam como isso impactará a venda para o cliente final
Enquanto o mercado automotivo dá sinais que ainda enfrentará dificuldades para retomar o ritmo de vendas do período pré-pandemia, as fabricantes têm mais motivos para ficarem bastante preocupadas. Recentemente, Chevrolet e Honda foram obrigadas a paralisar a produção de veículos em suas unidades no Brasil, indicando um apagão produtivo que poderá respingar sobre toda a indústria.
A linha de montagem de Gravataí (RS), onde se produz o Chevrolet Onix, teve de interromper suas atividades no início desta semana e ficará por pelo menos um mês com a produção suspensa — a retomada ainda tem data incerta. Já a Honda decretou a paralisação do trabalho de sua fábrica em Sumaré (SP) nos primeiros 10 dias de março.
Ambas as empresas enfrentam problemas semelhantes: por conta da escassez da oferta de componentes elétricos disponíveis no mercado global, as indústrias que dependem dessas matérias-primas para fabricarem seus produtos não conseguem mais dar conta de produzirem suas mercadorias em quantidade suficiente.
De acordo com especialistas, a pandemia de Covid-19 tem relação direta com esse desequilíbrio: cadeias globais de valor foram interrompidas durante semanas ou meses, o que provocou uma sobrecarga na retomada produtiva. Como praticamente todos os produtos de alto valor agregado dependem de componentes eletrônicos, como os semicondutores, há falta desses produtos no mercado global.
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Para tentar adiar a paralisação total de suas atividades, as fabricantes mantêm a montagem de modelos que ainda possuem peças em grandes quantidades no estoque. Mas essa medida é paliativa: caso não haja uma aceleração na oferta de componentes eletrônicos, é possível que toda a indústria sofra um “apagão” de matérias-primas (com exceção, é claro, das empresas que tinham estabelecido contratos prévios para adquirir uma grande quantidade dos componentes em disputa).
De qualquer forma, nem precisa dizer que o consumidor também acabará pagando essa conta. No caso do Chevrolet Onix, por exemplo, há o risco da demanda do mercado superar em muito a oferta disponível — em outras palavras, os preços tendem a aumentar.
Por enquanto, as demais fabricantes em atividade no Brasil ainda não indicaram o risco de paralisação, mas o Grupo Volkswagen já afirmou que sofrerá uma redução global na produção de 100 mil veículos nos primeiros meses deste ano por conta da escassez de matérias-primas. Como diz o ditado, desgraça pouca é bobagem.