A PROPINOCRACIA

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1956
Zarcillo Barbosa é jornalista, professor em cursos de pós-graduação em Comunicação Social, mestre em Ciências e doutor em Sociologia

No Antigo Egito, há três mil anos antes de Cristo, os faraós começaram a construir pirâmides para servirem de monumentos fúnebres para eles mesmos. O império estava rico, apesar de manter a imensa maioria da população em situação lastimável. Apenas os sacerdotes e escribas tinham privilégios. Com a construção da Pirâmide de Queops, a maior delas, a população acabou se revoltando. Gastavam muito para satisfazer a vaidade dos faraós. Eles queriam deixar as suas marcas para a história, enquanto os cem mil operários recrutados à construção, morriam de tanto trabalhar e de inanição.
Séculos depois, a monarquia francesa, incomodada com as pressões da plebe construiu o Palácio de Versalhes, a quilômetros da capital, Paris. Alguém convenceu os nobres de que, afastados, eles não ficariam expostos àquela pressão permanente na capital. E que, afastada, a população não veria os signos da ostentação, riqueza e preguiça da nobreza. Deu certo com Luís XIV, Luís XV e até Luiz XVI, que acabou guilhotinado na Place de La Concorde. Afastada da pressão, a monarquia se distanciou ainda mais do povo e só acordou quando a Revolução já era irreversível.
A História pode nos ser útil se soubermos examiná-la com inteligência, para extrair dela as lições que gratuitamente nos oferece. Brasília, de certa forma é uma Versalhes permanente da vida brasileira. Juscelino Kubitschek a construiu para tirar a Capital do Rio de Janeiro, onde a irreverência carioca estava avacalhando com a demagogia dos políticos. Infelizmente, para eles, políticos, Brasília cresceu muito, os meios de comunicação avançaram e o isolamento no planalto central do Brasil, hoje, perdeu aquele sentido prático.
Hoje, a população brasileira está possuída de total descrença da vida política. A corrupção desenfreada, os privilégios criados para beneficiar os que têm mandatos no Congresso ou no Executivo, aliados à incompetência administrativa, representam muito mais que as famosas sete pragas que assolaram o Egito. Tem razão o presidente Temer quando fala em limitar os gastos dos Estados, mediante lei. Seria uma forma de fazer os governantes desperdiçarem menos.
O povo está cansado de obras faraônicas como as da Copa do Mundo, das Olimpíadas e da transposição do Rio São Francisco. Até as tampas com projetos inconsistentes como o do pré-sal, e das refinarias da Petrobras que deram origem ao propinoduto. Vamos lembrar também da Rodovia Transamazônica, para não sermos injustos e identificar equívocos apenas nos dias atuais. O povo quer e precisa de coisas simples: saúde, educação, transporte e segurança. Governos que se concentrarem nessas tarefas e governantes que exerçam suas funções com a consciência de que ocupam uma função pública, terão enorme êxito. Têm mais é que servir ao público, e não se servir do público.
Vi Lula chorando na televisão, porque o acusam de ser inventor e chefe da “propinocracia”, que seria um projeto de poder sustentado pelo dinheiro da corrupção. Acho que muita gente já está convencida disso há muito tempo. A opinião pública só estava esperando as provas contundentes para fazer o ex-presidente expiar suas culpas com uma punição exemplar. No entanto, o jovem procurador Delton Dallagnol só nos apresentou um gráfico com conclusões políticas. Ele mesmo reconheceu que não tinha provas contra Lula, mas “firme convicção “ da sua passagem delituosa pelo poder. Em matéria de Direito Penal, convicção não prova nada. Além do mais, configurou a grande propina recebida por Lula, no famoso tríplex do Guarujá. Gorjeta, diante dos bilhões desviados por funcionários de segundo escalão da Petrobras.
Paramos na retórica. Os faraós, pelo menos, construíam pirâmides com blocos de granito, para sempre. Aqui, no caso Lula, só nos apresentam palavras ao vento. Vamos ver no que dá. Ou seja, nada.

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