Libertadores feminina: Bauru no topo das Américas

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A conquista que muitos homens no futebol profissional não têm, a jovem bauruense Kerolin Nicoli Ferraz garantiu com apenas 17 anos, no último sábado, quando ela e as meninas do Corinthians/Audax comemoraram o título da Libertadores da América. A decisão foi contra o Colo-Colo, do Chile, em Assunção, no Paraguai, e as brasileiras bateram as adversárias em uma emocionante disputa nos pênaltis, vencendo por 5 a 4.

Em entrevista exclusiva ao JC, a atacante Kerolin falou da emoção da conquista, dos desafios na carreira, do baixo salário das mulheres no futebol, do sonho de jogar na Europa e de Seleção Brasileira.

Kerolin tem o futebol moleque nos pés desde criança. De acordo com o pai, Anderson Ferraz Felipe, que reside em Bauru, a filha teve o primeiro contato com a bola aos três anos de idade, na Vila Dutra. Depois, Kerolin mudou-se com a mãe Tatiana e foi morar com a família materna em Campinas. Aos 5 anos, começou a treinar em uma escolinha de futebol. Aos 10 anos, já era apelidada pelas amigas de “Ronaldinha”, pela semelhança com o jeito de jogar do ex-craque do Barcelona.

“Essa vitória na carreira dela veio após muito merecimento e dedicação. Ela é um exemplo de atleta. Se empenha muito nos treinos, até durante as férias. E ela teve uma grande superação na adolescência. Ela teve uma doença óssea em uma das pernas e teve que fazer uma série de procedimentos e raspagem. Por pouco a carreira dela não foi interrompida ali”, recorda o pai orgulhoso.

Kerolin começou na base do Valinhos e depois foi para a Ponte Preta, onde vem se destacando desde os 16 anos. No Campeonato Paulista Feminino adulto deste ano, a atacante ponte-pretana chegou até a semifinal e foi a artilheira do time com 10 gols.

Agência Corinthians
Kerolin (1ª em pé, da esquerda para direita) com o time campeão

“O futebol na Ponte me levou à Seleção Brasileira sub-17, onde tive a oportunidade de disputar um sul-americano, ser vice-campeã, além de jogar o Mundial da categoria. Com o Corinthians e o Audax fazendo a parceria para disputar a Libertadores, fui emprestada pela Ponte e consegui, tão nova, junto com minhas companheiras, conquistar este título histórico para os dois clubes e tão expressivo para minha carreira e o futebol feminino brasileiro”, contou Kerolin.

Após comemorar o título, a jogadora retornou para a Ponte Preta anteontem, onde deve voltar aos treinos. Por lá, ela tem contrato até 31 de dezembro, que possivelmente será renovado. O fator que preocupa na carreira é a instabilidade do calendário feminino. O próximo Paulista será só a partir de abril do ano que vem. “Tenho proposta para jogar fora do País, mas ainda sou muito nova e não é o momento. Preciso amadurecer”, disse a jogadora, sem esconder o sonho de jogar na Europa e vestir a camisa da Seleção Brasileira principal em uma Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio. Ela completa 18 anos em novembro e deve ser integrada à seleção sub-20, onde o técnico Doriva Bueno tem o objetivo de formar a equipe para a disputa da competição que classifica à Copa do Mundo, porém sem local definido.

DESAFIOS NO FUTEBOL

Kerolin avalia que sua carreira só está começando, mas admite que ser jogadora de futebol no Brasil não é nada fácil, principalmente pela realidade salarial e a diferença financeira entre homens e mulheres. “Nós meninas temos que superar dor, cansaço, falta de patrocínio, calendário de jogos e salário baixo. Mas apesar de tudo isso, vou seguir, sim, nesta carreira. Pretendo ser uma grande jogadora e esse título pelo Corinthians/Audax aumentou a confiança. Agora temos um reconhecimento maior e eu deixo um recado aqui para todas as meninas: façam com amor o que gostam. Lutem, se esforcem, não desistam dos seus sonhos, porque nós mulheres podemos chegar aonde nós quisermos, inclusive no topo das Américas e da seleção”, destaca.

CORINTHIANS NA LIBERTADORES

Com empate sem gols com o Colo-Colo, a final foi para a disputa de pênaltis. A estrela da goleira Lelê brilhou e ela garantiu o título defendendo duas cobranças das chilenas. Pelo lado corintiano da parceria, o clube alvinegro garantiu o título invicto, assim como o masculino em 2012. Entre os brasileiros, somente o Santos e o Corinthians conquistaram a Libertadores feminina.

Corinthians/Audax 2 x 0 Deportivo Limpeño

Corinthians/Audax 6 x 1 Deportivo Ita

Corinthians/Audax 2 x 1 Santa Fé

Corinthians/Audax 3 x 0 Cerro Porteño

Corinthians/Audax 0 x 0 Colo-Colo (5 a 4)

CRAQUE DO PAULISTA

Enquanto celebra o título da Libertadores, Kerolin ganhou novo motivo para festejar. A bauruense foi eleita a “craque do Campeonato Paulista 2017”, competição que disputou pela sua equipe, a Ponte Preta. A sua premiação ocorreu, ontem, em cerimônia na sede da Federação Paulista de Futebol. O time ideal da competição, que foi vencida pelo Rio Preto, tem: Letícia (Corinthians); Katiuscia (Santos), Antônia (Ponte Preta), Carol Arruda (Santos) e Jucinara (Corinthians); Grazielle (Corinthians), Brena (Santos) e Patrícia Llanos (Ferroviária); Kerolin (Ponte Preta), Adriana (Rio Preto) e Sole Jaimes (Santos). Técnico: Caio Couto, do Santos.

Fonte: jcnet.com.br / https://www.jcnet.com.br/Esportes/2017/10/libertadores-feminina-bauru-no-topo-das-americas.html

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