O aumento do consumo de água em razão do calor, associado às estiagens prolongadas registradas desde meados de junho, já coloca o abastecimento dos 150 mil moradores de Bauru atendidos pelo Rio Batalha em alerta. Por conta da diminuição da vazão do manancial, o DAE está mantendo suas comportas fechadas na maior parte do tempo para evitar a queda do nível da lagoa de captação da Estação de Tratamento de Água (ETA), cujo patamar considerado ideal é de três metros.
Apesar da manobra, vários bairros vêm sofrendo com a falta de água, principalmente nos horários de pico de consumo. As áreas mais atingidas são as localizadas nas regiões mais altas da cidade, onde a água, escassa, pode não chegar.
É o caso da residência da faturista Cirlene da Silva Pederro Botura, 38 anos, na Vila Aimorés, que chega a ficar com torneiras secas por mais de 12 horas ao dia. “Já faz 20 dias ininterruptos em que a água acaba às 8h e só volta às 22h”, relata.
Ela conta que a dificuldade aumenta porque a caixa d’água do imóvel não possui ligação com o tanque, a pia da cozinha e o chuveiro elétrico, por exemplo, o que prejudica a rotina de toda a família. “Precisamos ir na casa de parentes para usar o chuveiro. Pego água da pia do banheiro para fazer comida, lavo os uniformes da escola de madrugada e a louça, só no fim da noite, tendo de acordar cedo para trabalhar no dia seguinte”, acrescenta.
Presidente do DAE, Eric Fabris garante que, apesar da estiagem que castiga Bauru por aproximadamente 90 dias – interrompida apenas por uma semana de chuvas em meados de agosto, a ETA continua funcionando com plena capacidade, com tratamento médio de 540 a 550 litros por segundo.
“Mas, devido ao consumo elevado, alguns reservatórios não têm dado conta da demanda e pode faltar água em algumas horas do dia, principalmente em regiões mais críticas, como o Jardim América e Jardim Estoril 5”, argumenta. Além da Vila Aimorés, o JC também recebeu reclamações da Vila Dutra e Núcleo Geisel.
PREOCUPAÇÃO
As comportas da lagoa de captação estão sendo mantidas fechadas por períodos maiores ao longo do dia para evitar o rebaixamento da represa. Mas Fabris pondera que a situação ainda é menos preocupante do que em anos anteriores, já que, de janeiro a maio de 2017, o acumulado de chuvas chegou a 1.073 milímetros, conforme registro do Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet).
“As comportas continuam sendo abertas quando a lagoa atinge seu nível máximo, principalmente durante a noite. Como, no início deste ano, a recarga do aquífero foi muito intensa e distribuída, os lençóis freáticos ficaram bem abastecidos. Apesar de já estarem baixando, eles vêm mantendo a perenidade do Batalha, mesmo com menor vazão”, comenta.
Fabris salienta que – apesar de não se tratar de um problema de desabastecimento, caracterizado quando o serviço não é capaz de garantir água nos imóveis por mais de 24 horas -, a população precisa adotar hábitos para evitar o desperdício.
Aceituno Jr. |
Rodrigo, Cirlene e Ana Carolina já convivem com a falta d’água na Vila Aimorés |
Algumas recomendações são a adoção de banhos rápidos, não lavar carros e calçadas com mangueira e sempre fechar a torneira durante a lavagem de louças ou a escovação dos dentes. Até por não haver previsão de chuva ao menos até o fim desta semana, a orientação vale até mesmo para os moradores que ainda não estão sofrendo com falta d’água.
INTERLIGAÇÃO
O presidente do DAE, Eric Fabris, salienta que a solução mais viável para evitar descontinuidades no abastecimento de água em Bauru é reduzir a região atualmente atendida pelo Rio Batalha. Dentro do orçamento disponível para 2018, ele pretende destinar parte dos recursos para executar um plano de investimentos em interligações que permitam que áreas que dependem exclusivamente do manancial possam começar a ser abastecidas por poços.
“Se tivéssemos uma adutora que viesse do Poço Imperial (localizado nas imediações da avenida José Vicente Aiello), que possui uma vazão enorme e está subutilizado, poderíamos abastecer a região dos Altos da Cidade. Outro exemplo é o poço Rasi 2, próximo ao Condomínio Terra Nova, que trabalha somente sete horas por dia – poderia trabalhar 20 horas e levar água para o Geisel”, completa.