A pandemia do novo coronavírus já fez 135 vítimas fatais em Bauru, mas são as doenças cardiovasculares as que continuam matando mais pessoas na cidade. De janeiro a julho deste ano, segundo informações prestadas pela Secretaria Municipal de Saúde, 422 pessoas perderam a vida em decorrência de problemas do aparelho circulatório, sendo o principal deles o infarto.
Em razão da Covid-19, as doenças infecciosas e parasitárias foram alçadas ao quarto lugar no ranking, com 167 mortes, uma posição incomum até o ano passado. “Mesmo com a dengue e outras doenças causadas por vírus, bactérias, esta categoria não ficava entre as principais”, comenta Ezequiel Santos, diretor da Divisão de Vigilância Epidemiológica Municipal. Vale destacar que, mesmo quando o paciente possui doenças associadas, como câncer ou cardiopatia, a morte é contabilizada como Covid-19 se a infecção pelo novo coronavírus for confirmada.
Atrás das doenças cardiovasculares, os cânceres são os que mais deixaram vítimas fatais até julho de 2020 (342 mortes). Em terceiro lugar, estão as doenças do aparelho respiratório (176 óbitos), com maior índice de mortalidade concentrado entre as pneumonias.
“Com exceção das doenças infecciosas e parasitárias, as demais três categorias de enfermidades têm sido as mais prevalentes entre as mortes registradas em Bauru nos últimos anos”, acrescenta Santos, salientando que, no total, a cidade soma, em média, entre 2,6 mil e 2,7 mil mortes a cada ano.
Cirurgião cardiovascular, Antonio Estéfano Germano explica que as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte devido a um conjunto de fatores, que inclui níveis de estresse elevados, a incidência de hipertensão arterial e diabetes, taxas aumentadas de colesterol e triglicérides – problemas que se relacionam com hábitos pouco saudáveis de vida da população, como alimentação inadequada e sedentarismo.
“A tendência de aumento é constante, mas houve uma diminuição recente, porque os programas governamentais se intensificaram em relação ao tratamento de hipertensão e diabetes, inclusive com distribuição de medicamentos gratuitos. Somente com políticas públicas é possível reduzir os indicadores”, analisa Germano.
REDUÇÃO X AUMENTO
Até o momento, segundo Ezequiel Santos, houve redução de quase 30% de mortes relacionadas a doenças cardiovasculares em Bauru, já que, de janeiro a julho do ano passado, foram registrados 600 óbitos em decorrência destas enfermidades. Porém, a partir de 2021, até mesmo em razão das repercussões trazidas pela Covid-19, como a suspensão temporária de atendimentos, cirurgias e outros procedimentos não urgentes relacionados a outras doenças, como as cardíacas, a redução da procura por cuidados médicos nos consultórios devido ao medo do contágio do novo coronavírus e os danos já comprovados que a própria infecção pode provocar no coração.
“Pela experiência clínica, percebo que o número de cirurgias cardíacas de emergência aumentaram substancialmente, principalmente devido à dissecção de aorta, em que a pessoa tem um pico de hipertensão e ocorre essa ruptura”, acrescenta Antonio Estéfano Germano, salientando que o nível de estresse da população em meio à pandemia também pode contribuir para o agravamento das condições de saúde da população.
Redução de óbitos precoces
Ezequiel Santos explica que, em Bauru, observa-se uma tendência de diminuição de mortes em geral, já que os óbitos prematuros, relacionados à faixa etária entre 39 a 69 anos, vêm declinando nos últimos anos. Segundo o diretor da Divisão de Vigilância Epidemiológica Municipal, a queda está relacionada à melhoria dos serviços prestados pela atenção básica de saúde, como a ampliação do diagnóstico precoce de doenças e do tratamento de diabetes, hipertensão, tabagismo e alcoolismo, que podem gerar complicações com potencial para causar mortes.
“Além disso, tivemos menos acidentes de trânsito, homicídios e suicídios, queda que pode estar relacionada à Covid-19, já que as pessoas estão permanecendo por mais tempo dentro de casa, acompanhadas de suas famílias”, acrescenta.
