SAUDE MENTAL NA QUARENTENA.

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Aprender a contemplar, um antidoto contra pensamentos acelerados.

Por João Bergamaschi

Estamos sempre à procura de nós mesmos, correndo atrás daquela luz que brilha no horizonte, achando que estamos sempre a um passo de descobrir o segredo da vida. Quem sou eu, que nunca me encontro? Quão distante está a linha do horizonte? Até quando a verdade se esconderá de mim?
Nos longos e silenciosos dias confinados dentro de nossas casas, no reflexo do espelho nos deparamos com quem há muito tempo ignoramos e tentamos aquietar, atividades cotidianas que permitiam nos distrair e ignorar tais pensamentos que saltam sem nenhum controle, como balburdias de uma criança à procura de atenção, já não se fazem mais presentes nesta nova realidade.
A incapacidade de aquietar a mente e controlar os pensamentos é uma patologia gerada por anos de catequizações sociais muito bem estruturadas por padrões específicos destinados a atingir o teu ego, colocando você como refém de suas próprias frustrações, ao qual você será eternamente impotente de alcançar esta miragem. A realização de bens materiais não depende somente de você, mas também do meio em que você habita e das oportunidades que serão postas a tua frente porém, a lucidez, paz de espírito e domínio próprio estão totalmente sujeitos a você, cabe então somente a si mesmo se dispor a aprender como domar estes pensamentos acelerados e incontroláveis.
Um grande desafio proposto ao ser-humano é habitar o presente, sem devanear entre o passado, onde se oculta a melancolia do que um dia já foi exuberante, ou fantasiar sobre o futuro, a inefável tortura das ilusões. Mário Quintana exprimiu brilhantemente a necessidade de permanecer no presente quando escreveu o poema OS DEGRAUS:
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo…
Não é possível exercer domínio sobre a mente sem antes aprender a estar no presente, para isto existem inúmeras ferramentas de aprendizagem, como a meditação, yoga, dentre muitas outras que o indivíduo por si só deverá se comprometer a executar, atividades estas que nos trazem a compreensão da beleza e do poder que é contemplar.
O Prof. Dr. Jacob Bazarian em seu livro Intuição Heurística explica o conceito de contemplação, proveniente do latim in tueri, ao qual se deu origem a palavra intuição, que segundo ele é a “percepção dos objetos e de suas relações com outros objetos de conhecimento”. Com isto podemos começar a compreender que o ato de aprender a contemplar nos elevará a um nível de conhecimento e entendimento sobre nós mesmos e os objetos que estão a nossa volta de um modo que jamais compreenderíamos no estado acelerado da mente e dos pensamentos.
Quando atingimos o estado contemplativo da mente começamos a enxergar saídas e soluções simples para problemas que anteriormente nos pareciam perturbadores. Como dizia Vauvenargues – “A Clareza é a boa fé do filósofo”, assim complementa Jesus – “Aquele que anda nas trevas não sabe para onde vai”. Não permita que a claridade de sua lucidez seja obscurecida pela sombra do poço de suas vaidades.

João Bergamaschi, (J. P. F.) é professor na Diretoria de Ensino – Região de Lins. Atuando na área da Educação ministrando aulas de Filosofia e Sociologia ao ensino médio desde o ano de 2014. Também é Assistente Social com ênfase no acolhimento e adoção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade sob medida protetiva outorgada por determinação judicial.

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