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PIB da indústria cresce 0,7% e setor deixa quadro de recessão técnica

O Produto Interno Bruto (PIB) da indústria subiu depois de dois trimestres consecutivos de queda, e tirou o setor do quadro de recessão técnica. Segundo os dados divulgados nesta quinta-feira (29) pelo IBGE, indústria teve alta de 0,7% no 2º trimestre, na comparação com os 3 primeiros meses do ano, recuperando parte das perdas de 0,3% no 4º trimestre de 2018 e de 0,7% no 1º trimestre deste ano.

O resultado do 2º trimestre da indústria veio positivo apesar do tombo da indústria extrativa, que teve queda de 3,8% na comparação com o 1º trimestre, ainda como reflexo da tragédia de Brumadinho (MG) na produção da Vale, e da queda de 0,7% das atividades industriais de eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos.

O grande destaque foi a indústria de transformação ou manufatureira que registrou alta de 2% no 2º trimestre, após dois trimestres seguidos de queda.

A construção civil também reagiu e avançou 1,9% na comparação com os 3 primeiros meses do ano. Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, subiu 2% – primeira alta após 20 trimestres consecutivos de queda nessa comparação.

A reação da indústria foi favorecida, no lado da demanda do PIB, pelo avanço mais substancial do investimento, que voltou a crescer após cair nos dois trimestres anteriores.

PIB da indústria geral e por subsetores — Foto: Juliane Souza/G1

PIB da indústria geral e por subsetores — Foto: Juliane Souza/G1

No acumulado do semestre, porém, não houve muitos resultados positivos: as indústrias extrativas (-6,3%) e a construção (-0,1%) tiveram quedas, de 6,3% e 0,1%. A indústria de transformação ficou estagnada, e apenas as atividades de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos mostraram alta no período, de 3,6%.

No acumulado no 1º semestre e no ano, a indústria registrou queda de 0,4%, ante avanço de 1% no 1º semestre de 2018.

Piora no cenário externo e perspectivas

Apesar do alívio trazido pelo resultado da indústria, a piora no cenário externo ainda traz incertezas para o segundo semestre, uma vez que as exportações seguem em tendência de queda, pressionadas pela recessão da Argentina, pelo acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos e temores de uma nova recessão global.

Para os resultados do 3º e 4º trimestre, o PIB da indústria tende, segundo os analistas, a ser beneficiado pela bases mais fracas de comparação, o que deve contribuir ao menos para tirar o setor de um quadro recessivo. O mercado estima que a produção industrial fechará 2019 no zero a zero, com uma variação de 0,08% no consolidado do ano, segundo o último boletim Focus do Banco Central.

“É importante que o investimento continue surpreendendo positivamente nos próximos trimestres, pois é um dos componentes do PIB que mais longe se encontra de seu pico anterior à crise. Seu patamar atual está 26% abaixo daquele do 2º trim/13. Ou seja, ainda há um longo caminho a ser trilhado. O mesmo comentário vale para a indústria de transformação e a construção, respectivamente 15% e 30% abaixo de suas melhores marcas anteriores”, avaliou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

As vendas de papelão ondulado – indicador usado como um termômetro do nível de atividade por se tratar de matéria-prima de embalagens usadas para armazenar e transportar produtos manufaturados – somaram em junho 276.140 toneladas, o pior resultado desde dezembro, segundo a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO). A entidade, que no fim do ano passado projetava crescimento de 3% para o setor, trabalha agora com uma estimativa de expansão em torno de 1%, ritmo bem abaixo da alta de 5,07% registrada em 2017 e de 1,63% em 2018.

Queda da produção no 1º semestre

No acumulado no 1º semestre, a produção industrial caiu 1,6%, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados já divulgados anteriormente pelo IBGE. Considerando os dados de junho, o nível de produção retrocedeu para o patamar de 2009, atingindo um volume 17,9% abaixo do ponto mais elevado da série histórica, alcançado em maio de 2011.

“O recuo da indústria foi puxado mesmo pela extração de minério de ferro. Tivemos um segundo trimestre pior que o primeiro, quando ocorreu o acidente da barragem de Brumadinho. Os efeitos se seguiram, com a paralisação de outras plantas. Além disso, em abril e maio chuvas prejudicaram a extração mineral no Pará”, observou a gerente de contas trimestrais do IBGE, Claudia Dionísio.

Embora o tombo da indústria extrativa seja apontado como o grande responsável pelo desempenho negativo da indústria geral no 1º semestre, diversos segmentos também registraram declínio no ano.

Além do baixo nível de produção, a indústria continua sendo afetada também pela alta ociosidade e pelos estoques elevados. Segundo dados da CNI, os estoques atingiram em julho o maior nível desde a greve dos caminhoneiros.

Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, a fraqueza da indústria em 2019 ajuda a explicar porque a recuperação da economia “não deslancha”.

“A indústria tem uma capacidade muito grande dese retroalimentar e de alavancar outros setores, mas a coisa não engrena numa trajetória de recuperação sólida de modo a compensar tudo aquilo que se perdeu ao longo da crise”, afirma.

Mina de Brucutu da Vale, em Minas Gerais. Produção de minério de ferro despencou em 2019 após a tragédia de Brumadinho — Foto: Darlan Alvarenga/G1
Mina de Brucutu da Vale, em Minas Gerais. Produção de minério de ferro despencou em 2019 após a tragédia de Brumadinho — Foto: Darlan Alvarenga/G1

Demanda interna fraca

Na visão dos analistas, o impacto positivo das medidas de liberação de recursos do FGTS e do PIS e a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência e de novas reduções na taxa de juros podem ajudar na melhora da confiança e da economia, mas não garantem uma retomada da indústria.

“Emergencialmente, tem que ter estímulos de demanda. A taxa de juros caiu e deve cair mais, mas é preciso ações mais específicas na área de financiamento”, defende o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

Já para o economista do Iedi, a recomposição da demanda depende também de alguma recuperação do investimento público, sobretudo na área de infraestrutura e construção civil pesada.

“Além de avançar nas parcerias com o setor privado, as obras que estão paradas precisam ser terminadas. Isso é fundamental para economizar dinheiro público lá na frente e gerar aumento de demanda. A construção pesada é um potencializador muito grande de crescimento pois mobiliza muitos ramos da indústria, gera muitos empregos e demanda muitos serviços” afirma Cagnin.

Indústria brasileira encolhe, afetada por baixa competitividade e demanda ainda fraca; na foto, fábrica de papelão ondulado para embalagens no interior de São Paulo — Foto: Fabio Tito/G1
Indústria brasileira encolhe, afetada por baixa competitividade e demanda ainda fraca; na foto, fábrica de papelão ondulado para embalagens no interior de São Paulo — Foto: Fabio Tito/G1

Baixa competitividade e desindustrialização

Em meio à crise que já se arrasta pelo menos desde 2013, é consenso entre os analistas, porém, que o declínio da indústria está não só relacionado à fraca demanda, mas principalmente a fatores como perda de competitividade, baixa produtividade e pouca participação nas cadeias globais de produção e nos setores mais intensivos em tecnologia.

Levantamento da economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), e publicado pelo G1, mostrou que a participação da indústria de transformação no PIB caiu 5,6 pontos percentuais entre 1995 e 2019, para o patamar de 11% – o menor percentual desde 1947.

Segundo o Iedi, a desindustrialização ocorrida no Brasil no período entre 1970 e 2017 representa o caso mais grave de declínio prematuro de uma lista de 30 países que representam 90% da indústria de transformação mundial, superando a observada em países como Argentina, Filipinas e Rússia.

“Não tem um atalho fácil, mas a recuperação da importância da indústria no PIB depende da recuperação da produtividade e de toda uma agenda de reformas, que inclui a reforma tributária. Ainda temos muitas anomalias como país, no sentido de que se onera muito o investimento e não se incentiva a inovação”, afirma Matos.

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