“É terra de verdade?“, perguntou o menino de aproximadamente 6 anos enquanto observava crianças brincando na nossa oficina Cozinha da Floresta. Com um detalhe: nesse dia, ela acontecia num espaço fechado, por causa do mau tempo. Ana Carol (uma das autoras deste blog) rapidamente confirmou: “Sim! É terra de verdade”. O garoto logo fez uma expressão de espanto, perguntou para a mãe se podia brincar e foi.
Algum tempo depois, uma menina muito observadora se aproxima do grupo de crianças que brincavam com seus pratos e a terra e pergunta: “É terra de verdade?”. Em poucos minutos, uma outra criança faz a mesma pergunta que a anterior. E novamente veio a mesma expressão de surpresa.
Mas, mais espantadas ficamos nós, pois, logo, em seguida, apareceram outras três crianças, que perguntaram exatamente o mesmo. Então, fizemos a única coisa que poderíamos fazer para entender o porquê da falta de familiaridade com a terra, com o mundo natural: brincamos junto com elas.
Sentamos próximas dessas crianças com as panelas, os “ingredientes” e começamos a “cozinhar” e a bater aquele papo, que só quem geralmente divide o momento de cozinhar com alguém sabe como é.
Algumas crianças contaram que não lembravam de já ter brincado com terra (de verdade), mas se lembravam de mexer com areia colorida. Algumas nunca tinham visto um quintal com terra. Todas mexiam nos ingredientes (sementes, folhas e outros elementos) como se fosse a primeira vez. E não duvidamos que fosse.
Em meio a essa conversa gostosa, chegou mais um menino, de aproximadamente 5 anos, quee rapidamente fez a mesma exclamação. Incrédulo com a resposta, repetiu a pergunta mais duas vezes e emendou: “Minha prô não deixa eu mexer em terra”. Ana Carol respondeu: “Mas aqui você pode. Quer brincar?”. Ele olhou para a mãe, que consentiu, e sentou com a gente.
T-E-R-R-A. Matéria prima das mais diferentes “refeições” e “sobremesas imaginárias” de nossas infâncias e de tantas outras situações e experiências que vivemos quando pequenos, até parece em risco de extinção nas vivências das infâncias atuais.
Mas nós somos Terra! Brincar com terra é uma experiência fundamental para que a alma se recorde de quem somos: Terra. Para que resgatemos nossa identidade e tenhamos uma compreensão profunda da nossa existência.
Já pensou na origem da palavra humano? Ela vem de humus, terra fértil. É o que somos.
Brincar com a natureza, brincar com a terra é uma experiência fundamental para que o humano se expresse verdadeiramente por meio de nós. Privar as crianças do contato com a terra é bloquear a expressão de sua essência, é romper os vínculos com sua ancestralidade. Precisamos, mais do que nunca, relembrar, retomar o contato com a terra, que está e sempre estará à nossa disposição, aos nossos pés. À disposição de nossas mãos e de nossas cabeças criativas.
Foto: Ana Carol Thomé
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