A necessidade de obter renda, associada à dificuldade para recolocação no mercado de trabalho, está fazendo com que muitas pessoas se tornem empreendedoras já na idade mais avançada. É o que afirma a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedecon), que constatou o aumento de busca por informações e de formalizações de microempreendedores individuais (MEIs) entre os moradores que têm mais de 60 anos de idade.
Atualmente, esses MEIs somam 2.046 pessoas em Bauru, o que corresponde a 8% do total de 24.993 cadastrados na cidade. Se considerarmos o público acima dos 50 anos, o percentual sobe para 25%, o equivalente a um a cada quatro microempreendedores ativos.
Titular da Sedecon, Aline Fogolin afirma que, em um passado não muito distante, a maioria destes empreendedores se formalizava a pedido de algum familiar que não cumpria os requisitos necessários para tanto. Nos últimos anos, contudo, esta realidade mudou.
“Agora, o público com esta faixa etária realmente está abrindo o seu próprio negócio. São pessoas que perderam o emprego e não conseguiram voltar ao mercado de trabalho ou que possuem uma reserva financeira e querem aproveitar este momento de reaquecimento da economia para investir em algo”, detalha.
Segundo ela, os principais segmentos de atuação estão relacionados às aptidões que estas pessoas desenvolveram ao longo da vida, vinculadas ou não às experiências adquiridas em empregos anteriores. Entre as áreas mais comuns, estão as de beleza e estética, comércio de vestuário e costura, alimentação, instalação e manutenção elétrica, entre outros.
Jalmes Manoel do Nascimento, 66 anos, por exemplo, está em processo de formalização como MEI para começar a trabalhar no ramo de capinação e jardinagem. Depois de ver a concorrência aumentar e o faturamento minguar como vendedor de materiais recicláveis, decidiu, do alto de sua experiência, mudar de rumo, já que os cerca de R$ 1 mil que recebe de aposentadoria não seriam suficientes para garantir a sobrevivência dele e de sua esposa.
“Eu já tinha trabalhado com jardinagem durante uma época e tinha todos os equipamentos, além do caminhão que eu usava para levar os recicláveis. Há pouco tempo, fiz um curso para aprimorar o que eu já sabia fazer e resolvi virar MEI”, comenta.
Cenário em constante transformação
Segundo a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedecon), Aline Fogolin, o crescimento significativo do número de empreendedores com mais de 60 anos é resultado de um cenário em transformação, em que empresas incorporam cada vez mais novas tecnologias que substituem a mão de obra com pouca qualificação, ao mesmo tempo em que a expectativa de vida da população aumenta, gerando uma legião de idosos sem renda, quando não eles conseguem se aposentar.
Porém, apesar de não estarem tão conectadas e associadas à inovação quanto os jovens, as pessoas mais experientes tendem a criar negócios mais sólidos e sustentáveis, conforme aponta a secretária. “As chances de sucesso podem ser maiores do que a de um jovem que está começando, justamente por este olhar mais criterioso de quem tem uma bagagem de vida”, pontua.
Mesmo para quem tem certa estabilidade financeira porque recebe aposentadoria, a diretora do Departamento de Relações do Trabalho, Emprego e Turismo da Sedecon, Tatiana Rosária Rodrigues, cita como vantagens da formalização como MEI as possibilidades de comprar insumos a preços mais competitivos, de emitir nota fiscal para os clientes e de obter financiamentos mais vantajosos junto a instituições bancárias, entre outras.
Arrimo de família
Com jovens saindo de casa cada vez mais tarde e diante da ainda vultosa legião de desempregados no País, muitas pessoas que atravessaram a casa dos 60 anos estão voltando à ativa, como empreendedores, para garantir a subsistência da família. É o que relata Tatiana Rosária Rodrigues, diretora do Departamento de Relações do Trabalho, Emprego e Turismo da Sedecon.
Ela afirma que é significativo o número de MEIs em Bauru nesta faixa etária que se tornaram “arrimos de família”, sustentando não apenas os filhos, mas também as crianças que estes jovens tiveram. “São vários casos assim em Bauru, de idosos que são pais dos chamados ‘nem-nem’ que, além de não estudarem ou terem qualquer ocupação, agora têm filhos”, cita.