Vias de trânsito mais utilizadas no Brasil, as rodovias são responsáveis por ligar uma cidade à outra e diminuir distâncias. No entanto, em Bauru, assim como em outras cidades, elas não se resumem somente a essas funções e são parte do espaço urbano.
No total, a cidade conta com cinco delas: a SP-294, mais conhecida como Bauru-Marília, que passa por bairros como o Núcleo Fortunato Rocha Lima, Vila Dutra e Val de Palmas; a SP-321, mais conhecida como Bauru-Iacanga, que beira o Jardim Pagani e a Vila São Paulo; a SP-300, também nomeada de Marechal Rondon, que corta a cidade na diagonal e passa por bairros como o Jardim Araruna, a Jardim Contorno, o Jardim Marabá e o Núcleo Gasparini; a Bauru-Jaú (SP-225) que faz vizinhança com o Núcleo José Regino e o Parque Tangarás; e a Bauru-Ipaussu (SP-225), que liga o município à vizinha Piratininga e passa pelo Residencial Lago Sul (veja no quadro).
Esse recorte rodoviário na malha urbana da cidade influencia diretamente na composição das características dos bairros. Quem mora lado a lado com essas vias de tráfego intenso convive com vantagens e desvantagens. Mas há quem não se importe com tamanha proximidade.
“A pista não me incomoda em nada. Acho muito bom o acesso que ela dá à cidade, é tudo mais rápido”. A frase é de Antônia Santos Oliveira, 52 anos, que mora no Jardim Araruna há 25 anos, bairro próximo ao trecho da Marechal Rondon. A vizinha dela, Raquel de Souza Alves, 58 anos, reitera a opinião. “Eu acho perigoso a vicinal, porque é mais escuro e tem uma circulação de pedestres que a gente acaba tendo medo. Tirando isso, é bem tranquilo, a gente até esquece que está perto da rodovia”, diz a esteticista, que mora no bairro há 38 anos.
BARULHO TODO DIA
Ana Beatriz Garcia |
Nathalia Letícia Kanashiro, Juliana Pereira Santos e Simone Aparecida Ferreira Kanashiro reclamam do barulho por conta da proximidade com a Marechal Rondon |
Mesmo com a facilidade de acesso, ser vizinho de uma rodovia implica em acostumar-se com o barulho do trânsito intenso, ter de lidar com os veículos transitando em alta velocidade e, principalmente, redobrar a atenção.
“O barulho, aqui, é um inferno”, entrega a dona de casa Simone Aparecida Ferreira Kanashiro, 45 anos. Ela mora na quadra 9 da avenida Cruzeiro do Sul, uma das vias que dá acesso à Marechal Rondon, em Bauru. “Aqui os carros, motos e caminhões passam correndo. Além de perigoso, é um barulhão”, diz. Juliana Pereira Santos, 32 anos, conta que para assistir televisão, elas têm de fechar as portas e janelas. “Também temos um bebezinho em casa e ele só dorme se ficar no último cômodo”, acrescenta.
Além do barulho de todo dia, Nathalia Letícia Kanashiro, 25 anos, que também mora com elas, ressalta que o cruzamento da avenida com a rua Paraná, também causa acidentes.
Ana Beatriz Garcia |
Da janela de seu apartamento, na Duque de Caxias, Adenir da Silveira César acompanha o movimento da rodovia Marechal Rondon |
“Tem muitos acidentes. Nós já ouvimos vários, toda semana tem um. Eles passam correndo por aqui para entrar na pista ou saindo dela. Uma senhorinha foi atropelada, não faz muito tempo e um carro já subiu na calçada e bateu no muro da vizinha, duas casas acima da nossa. Tem até racha de madrugada aqui”, comenta.
DE CAMAROTE
No apartamento de Adenir da Silveira César, 54 anos, o barulho persiste por todo o dia. “De dia, de noite, de feriado, final de semana, o barulho é constante”, diz.
Segundo ele, da janela do apartamento, localizado na avenida Duque de Caxias, ao lado da Rondon, já flagrou diversos acidentes. “Já vi vários. Engavetamento tem muitos, quase toda semana. Até já filmei algumas ocorrências daqui. É diferente ter essa vista”, finaliza.
Vizinhança de risco: as pistas e as crianças nos bairros
Nos bairros que ficam lado a lado com as cinco pistas que cortam a cidade, uma preocupação é comum entre os moradores: a proximidade de crianças com a rodovia. Vale lembrar que, todos os anos em período de férias, esse perigo se agrava por conta do aumento de crianças brincando de pipa nas beiras de rodovias e vicinais.
Samantha Ciuffa |
Criança brinca com pipa à margem da Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), a Bauru-Marília |
Conforme o JC noticiou, o acidente mais recente foi em julho deste ano, quando uma criança de 7 anos morreu após sofrer ferimentos graves ao ser atropelada na avenida Elias Miguel Maluf, próximo ao trevo de acesso à Vila Dutra. Segundo relato de testemunhas à Polícia Militar Rodoviária, o menino teria tentado atravessar a via para recuperar uma pipa e não percebeu a aproximação de um veículo. Essa região fica próxima à Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), a chamada Bauru-Marília.
Perto da Vila Dutra, no bairro Val de Palmas, Rita de Cássia Cavalari, de 51 anos, relembra o caso e teme por ela e pelos netos com idades de 7 a 11 anos. “Essa parte aqui ainda é muito perigosa, morreu uma criança, esses tempos, atropelada. Tem que ter muito cuidado e muita preocupação. Os carros entram correndo nessa rua e agora virou acesso de caminhão, então, acho muito perigoso pros meus netos. Eles brincam de pipa e bicicleta, é um perigo”, diz. “Também não ando a pé porque hoje em dia está muito perigoso andar na rua por conta da escuridão durante a noite”, completa.
SEMPRE DE OLHO
Morador da Vila São Paulo há cinco anos, Fernando Valentim da Silva, de 40 anos, conta da preocupação com a filha de 5 anos, por conta da proximidade com a rodovia Cezário José de Castilho (SP-321), a Bauru-Iacanga, que passa em frente à sua casa. “Tem que ficar em cima, é bem perigoso em horário de pico. A esquina de cima de casa é muito perigosa, sempre tem acidente. Duas crianças já foram atropeladas ali que eu saiba. O cuidado é redobrado”, comenta.
Além do cuidado, ele diz que usa bastante a passarela que foi criada no bairro para evitar qualquer acidente. “Foi bom que fizeram isso, é uma opção segura para o pedrestre. Uso sempre que posso”, diz.
BRINCAR NA RUA
Na outra ponta da cidade, Daniela Marques Carvalho Lopes, de 26 anos, mora há cinco anos no Jardim Tangará e já se acostumou com a Bauru- Jaú (SP-225) que é a “rua de cima” de onde mora. “Acho que essa pista é mais tranquila do que a Rondon, por exemplo. Não tem tanto movimento, mas nessa rua, passam muitos caminhões”, diz.
Mesmo com a aparente calmaria presente no bairro, Daniela não aprova que os filhos pequenos brinquem fora de casa como é costume no bairro. “Vejo muita criança brincando na rua por aqui. Meus filhos ainda não tem idade de sair, mas quando eles pedirem, não pretendo deixar. Acho muito perigoso”, afirma.
Imprudência no trânsito é principal fonte de acidentes, diz tenente da Polícia Rodoviária
“Nenhuma rodovia é perigosa. O que causa uma periculosidade no trânsito está relacionado, principalmente, à conduta do motorista”. A afirmação é do 1.º Tenente Comandante do Pelotão da Polícia Rodoviária, Gabriel Eleutério Garcia. Segundo ele, a imprudência no trânsito é a principal fonte dos acidentes na rodovias no perímetro urbano.
“No caso da Marechal Rondon, por exemplo, é uma rodovia que tem mais engavetamentos, principalmente no horário de pico, seja de manhã ou à noite. Esse é um tipo de ocorrência que pode ser evitada se o motorista estiver atento, não usar o celular e manter a distância de segurança do veículo da frente”, destaca.
O tenente ainda salienta que a Marechal Rondon acaba tendo um número maior de acidentes por que tem, proporcionalmente, um número maior de carros passando por lá. “Já a rodovia Bauru-Iacanga, comparada com a Rondon, tem praticamente 10% do número de acidentes, mas o fluxo de lá também segue essa proporção”, explica.
Já a Bauru-Marília, é apontada por ele como a de maior incidência de atropelamentos e casos envolvendo crianças. “Tanto ali como no acesso da Vila Dutra, por ser uma rodovia que passa muito ao lado do bairro, infelizmente, é um local de risco. Ali nós temos que manter o patrulhamento e orientação às crianças, para que não haja esse tipo de ocorrência. E as pessoas também precisam entender que a rodovia não é um local para se soltar pipas”, finaliza.
Proximidade pode ser sinônimo de lucro
Renan Casal |
Empresas especializadas em atendimento a carros e caminhões, localizadas próximas às pistas, comemoram alto fluxo de veículos |
Por um lado, os moradores afirmam que as rodovias oferecem alguns riscos, por outro, tem quem garanta que essa proximidade promove a evolução dos bairros. A Vila Engler, por exemplo, tornou-se referência em mecânica pesada e atrai pessoas de diversos Estados do País, principalmente caminhoneiros, por conta da proximidade com a Rodovia Marechal Rondon. Já a rodovia Bauru-Ipaussu atrai investimentos em condomínios fechados, especialmente na região do Lago Sul e dos condomínios Villagios.
Na saída da Marechal Rondon para o bairro, na rua Dionísio de Aguiar, uma oficina mecânica funciona há mais de 20 anos. De acordo com o gerente da loja, Flavio Rodrigues Santana, 36 anos, a região tem foco nessa área. “Antes, aqui era tudo deserto, agora o foco dos caminhões é essa região. Quando se pensa em abrir uma empresa voltada à linha pesada, acaba focando aqui na Vila Engler, por causa da pista. Na hora de entrar com um bitrem, um tritrem, por exemplo, não tem como passar pelos bairros, tem lugar que o caminhão nem consegue fazer a curva, então acaba facilitando bastante essa entrada”, explica.
Ainda segundo ele, por ali passa gente de todo Brasil e até de fora. “Já recebemos de fora também, argentinos, uruguaios, paraguaios”, comenta.
Quem também lucra com a proximidade com a pista é Maurílio do Silvio Vilela, 46 anos, que tem estabelecimento na Vila Dutra há 10 anos. “Tenho freguês em toda a região de Bauru, vem gente de todos os bairros para ser atendido. Mas, claro, a pista faz com que aumente a clientela e a procura pelos serviços”, afirma.
O trabalho próximo à rodovia também já fez com que ele acostumasse com acidentes nos arredores. “Já vi muito acidente aqui na frente. Carro com moto sempre tem, já virou rotina, não tem como não ver. Já ajudei socorrer muitos acidentes nesses 10 anos”, comenta.
INVESTIMENTO
Em outro ponto da cidade, próximo a SP-225, rodovia João Baptista Cabral Rennó, também conhecida como Bauru-Ipaussu, Gilmar Dias, 53 anos, conta que morando na região, no Residencial Lago Sul, já soube e ouviu alguns acidentes.
“Sabemos que algumas pessoas do condomínio já passaram por acidentes. No início, quando a rodovia não era duplicada, neste trecho havia muitos buracos. Por duas vezes me vi frente a frente com carro fazendo ultrapassagem, tive que sair pro acostamento”, conta.
Mas, segundo ele, após a expansão da região e do investimento de diversas construtoras que tem seus condomínios no local, o acesso à cidade é outro. “Com a duplicação, o trevo, o viaduto e os asfaltamentos, ficamos muito bem servidos de acesso à cidade, ou pela rodovia ou pela avenida José Vicente Aiello”, afirma. “Hoje, temos vários condomínios nessa região que cresceu muito. Eu uso bastante as duas pistas, a Bauru-Ipaussu e a Rondon, para chegar mais rápido na cidade. Acho que essa mobilidade fica facilitada, porque, dependendo do local onde você vai, você chega muito mais rápido e sem trânsito”, completa.