Pela primeira vez, Bauru reúne 350 grêmios estudantis de todo o Estado de São Paulo para discutir os projetos que estão sendo aplicados em cada unidade de ensino, além das demandas individuais dos colégios, entre ontem e hoje. O titular da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, José Renato Nalini, participou da abertura do 1.º Encontro Paulista de Grêmios, no Obeid Plaza Hotel (confira a entrevista abaixo).
Dirigente regional de ensino, Gina Sanchez explica que o encontro ocorreu em Bauru devido a sua localização, bem no “Coração do Estado”. “O município torna as distância menos sentidas”, acrescenta.
Nem todas as escolas
Apesar do grande número de grêmios, nem todas as escolas estaduais estão participando da iniciativa. Na região de Bauru, por exemplo, foram selecionados os projetos de três colégios do município (Luiz Zuiani, Stela Machado e Antônio Guedes de Azevedo), dois de Pirajuí (Maria Angélica Marcondes e Alfredo Pujol) e outro de Reginópolis (Carlos Correa Vianna).
Aqueles que estiveram presentes quiseram falar. Representante do grêmio estudantil da Escola Estadual Stela Machado, em Bauru, o estudante do 3.º ano do Ensino Médio Ricardo de Miranda Rodrigues Júnior reivindica maior autonomia dos alunos. “Gostaria que tivéssemos oficinas profissionalizantes, com opções que deem a ideia de que temos o poder de escolha dentro da escola”, desenvolve.
Nalini diz que celular em aula pode ‘alavancar a educação’
Malavolta Jr |
O secretário José Renato Nalini falou sobre diversos temas |
Em entrevista ao JC, o secretário José Renato Nalini falou sobre o encontro e outros temas, inclusive o projeto que aprova o uso de celulares na sala de aula. Confira:
Jornal da Cidade: Por que reunir os grêmios em um único espaço?
José Renato Nalini: O nosso objetivo é cumprir a Constituição, que fala em gestão democrática. Nesta gestão, o estudante tem vez e voz. A escola existe para ele. Nós precisamos de uma gestão participativa, não só por causa da educação, mas também para ver se conseguimos implementar o projeto de democracia participativa. Precisamos de protagonistas, de pessoas que tenham consciência e responsabilidade individual em relação a problemas comuns e sérios para deixar apenas por conta do governo.
JC: O senhor fala em democracia, mas nem todas as escolas do Estado estão participando do encontro…
Nalini: A escolha das escolas foi democrática, porque todas ofereceram um projeto e houve um critério de seleção. Àqueles que não foram selecionados, fica o incentivo para que façam um trabalho de crescimento, participando cada vez mais da discussão, porque a escola é deles. Foi um processo democrático, sim. Eu não conheço experiência, no mundo, que pudesse reunir 4 milhões de alunos, 5,4 mil escolas e 645 municípios. Tudo se faz por amostragem. Além disso, a iniciativa é multiplicadora, já que cada um vai voltar para a sua região contando como foi e incentivando os outro.
JC: Essa aproximação do Estado com os grêmios também é resultado das recentes ocupações das escolas?
Nalini: As ocupações foram mínimas: 0,2% das escolas foram ocupadas, principalmente, por aqueles que não faziam parte delas. Nós tivemos até muitos alunos querendo dar fim a esse movimento ilegítimo, de pessoas de fora da escola, que depredaram os prédios e quebraram equipamentos. Essa movimentação mínima não teria merecido uma atuação da Secretaria, de devolver vez e voz para o alunado, além de facilitar a formação de núcleos de participação ativa de estudantes – através dos grêmios, fórmula prevista em lei e tradicional no Brasil. Nós conseguimos fazer com que 92% das escolas estaduais tivessem grêmio. É importante que o Brasil invista naqueles que terão a responsabilidade de escolher os seus representantes. Mais do que isso: é a noção de fiscalizar o mandatário. Logo, o evento tem um objetivo muito mais abrangente do que responder a uma questão episódica, que não contou o beneplácito daqueles que, realmente, pensam no futuro do País.
JC: No último dia 11, a Assembleia aprovou o projeto de lei que libera o uso de celulares em escolas estaduais, encaminhado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) a pedido do senhor. Agora, a rede utilizará a tecnologia como aliada?
Nalini: A lei é de uma época em que nós ainda não tínhamos, talvez, a percepção do irreversível mergulho na 4.ª Revolução Industrial. Nós já estamos imersos nessa realidade e temos de atender a demanda da nova geração, que é plugada, parece que já nasceu com um chip. Toda criança e jovem da escola pública, quando você consulta, diz que tem celular. Então, o jovem, principalmente, do Ensino Médio não se satisfaz mais com uma aula expositiva, com 13 disciplinas, cada uma compartimentada, sem uma conversar com a outra. Esses alunos são a faixa mais vulnerável da nossa educação, tanto que existe uma evasão muito grande. A saída é nos servir da tecnologia para alavancar a educação.
JC: Mas os professores serão obrigados, agora, a desenvolver atividades com os celulares?
Nalini: Não estamos impondo ao professor a obrigatoriedade de uso. Cada professor vai saber se é o caso ou não. Eu tenho a esperança de que o próprio aluno convença o professor. Inclusive, há vários exemplos de alunos que ensinam os professores a trabalhar com a Internet, além de usar os aplicativos e todas as funcionalidades do meio digital. Temos a certeza de que estamos dando oportunidade para que os estudantes tenham orientação para frequentar aquilo que, realmente, vale a pena dentro das redes sociais. A Internet permite que você visite as melhores universidades e bibliotecas do mundo. Então, eles terão acesso a um arsenal, um patrimônio imenso. O professor será um orientador, aquele que vai provocar, estimular, incentivar, para que se faça um bom uso da tecnologia.
JC: E a Reforma do Ensino Médio? O Estado já está se preparando para as possíveis mudanças?
Nalini: Nós estamos em plena caminhada, ainda muito incipiente, porque o currículo do Ensino Médio segue sendo discutido. O Conselho Nacional de Educação (CNE) reabrirá o debate. Agora, é saudável que, a partir da constatação de que, hoje, temos 13 disciplinas compartimentadas, você permita ao aluno tentar elaborar a sua própria trilha de aprendizagem. Um dos grandes problemas da atualidade é o excesso de informação. A cada 18 meses, o acervo de conhecimento duplica e o grande desafio é filtrar o que o aluno deve reter e onde ele tem de se interessar para investir no aprofundamento.
R$ 200 mil ao Caic
Ainda sobre educação estadual, o deputado Pedro Tobias (PSDB) viabilizou a liberação de mais R$ 200 mil para serem aplicados na reforma do Caic-Bauru, localizado no bairro Nova Esperança e que foi atingido por incêndio criminoso. O parlamentar, inclusive, já havia obtido para a escola R$ 485 mil anteriormente junto ao governo Geraldo Alckmin. |
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